Parece impossível mas desta vez foi Sócrates e não Hugo Chavez quem deu que falar. E para os portugueses ficou claro que ninguém está acima da lei, nem mesmo quando voa a 17 000 pés de altitude. A polémica estoirou quando se soube que o Primeiro-ministro fumou no voo da TAP que transportou a comitiva governamental à Venezuela, para uma visita de Estado. Como não foi anunciada nenhuma grande decisão, digamos... a eleição de um novo Papa ou uma descida dos impostos, não havia mesmo forma de justificar a existência de fumo a bordo. A oposição, que em terra se vê sempre aflita para arranjar argumentos consistentes, agarrou-se logo à notícia e acusou José Sócrates de violar a lei do tabaco e de dar um mau exemplo ao país. A julgar pelo tom de alguns comentários, o fumo do cigarro de Sócrates era parecido como a muralha da China, isto é, podia ser visto a partir do espaço. Mas para dissipar a polémica, Sócrates resolveu deixar o vício e pediu desculpa aos portugueses, admitindo ter fumado juntamente com o Ministro da Economia, esse transgressor inveterado. Mas disse também que não sabia que estava a infringir a lei! É uma mancha feia essa... e daquelas que custam a limpar. Sócrates arranjou assim o melhor incentivo de todos para deixar de fumar: ter 10 milhões de portugueses a vigiá-lo. Um plano destes não tem como falhar, é melhor que aqueles anúncios do Diogo Infante.
Há quem diga que os amigos são o melhor do mundo mas também há quem defenda que não é preciso ter amigos quando se tem inimigos. Mas há alguém que mesmo tendo inimigos procura desesperadamente amigos. Será a Florbela Queirós? Não é porque ela tem os tertulianos! Será o Gaspar? Também não porque tem “Os amigos de Gaspar”! Quem embarcou nesta tarefa árdua foi a socialite mais tresloucada do mundo: a imparável Paris Hilton! «Quero Ser o Novo Melhor Amigo de Paris Hilton» é o nome do novo reality show da MTV, onde a loiríssima herdeira vai escolher um novo BFF, best friend forever. Para concorrer, basta criar um perfil em parisbff.com. Vão ser escolhidos 20 participantes que terão de conviver e cumprir tarefas que provem que são merecedores de serem o amigo número um de Paris. Se ela fizer as mesmas habilidades dos seus vídeos caseiros, não lhe vão faltar melhores amigos… As condutoras acham que esta ideia podia ser aproveitada pelo Canal Parlamento. Porque não um reality show “Quem quer ser o melhor amigo de José Sócrates”? É que apesar de andar sempre impecável com os seus fatos, as condutoras detectam uma certa solidão na carinha de Sócrates. Não deve ser fácil ter um país inteiro a odiar-nos. Concerteza que sente a falta de um ombro amigo para desabafar…
Foi uma semana de apoquentações para José Sócrates, acusado a torto e a direito de atentados à liberdade por professores, sindicalistas e gente de outros partidos em geral. O primeiro-ministro reagiu à onda de protesto como sempre faz: comparecendo com um fatinho novo, cortado à medida, daqueles que fazem até um presidente americano gabar a boa forma e aspecto sempre impecável do líder do governo português.
Depois de uma ronda de apupos em Montemor-o-Velho, José Sócrates foi vaiado com grande vigor na Covilhã, no dia em que foi visitar a escola que frequentou quando era moço de bibe. Ao princípio, Sócrates ainda pensou que aquela gente toda estivesse a protestar, pelo facto, de o primeiro-ministro estar a fazer uma visita oficial e não ter cortado a praça principal da cidade para uma horinha de jogging. Afinal, o que tem a Covilhã a menos do que Washington ou o Kremlin? Mas, não, para horror e consternação de José Sócrates aquela gente não estava ali para lhe ver as pernocas bem torneadas... aquela malta vinha ali dizer-lhe uma ou duas das boas. Sabemos que é difícil de encarar mas há uma data de pessoas que não o acham “lindo”.
Entendemos o espanto de José Sócrates ao ser recebido com protestos. Ele está habituado a pagar para ter aqueles miúdos que sobram dos castings dos Morangos com Açúcar a recebê-lo com vivas e a dizer muito bem dos computadores novos que acabaram de receber e assim. E, desta vez, saiu-lhe o elenco do Prision Break em fúria. Da próxima, talvez seja melhor não mandar dois polícias às frente, para fazer as contratações do pessoal para a comitiva de boas vindas. Vá-se lá saber porquê, há pessoas que reagem mal quando vêem um cacetete – mesmo que disfarçado – e lhes dizem para estar de bico caladinho. Perdem a vontade de ir dizer coisas bonitas à passagem do primeiro-ministro... que é tão lindo!José Sócrates mostrou-se muito admirado por ter sido recebido com tamanha violência e contestação pelos professores. Cá para nós, até foi uma recepção em conformidade com o ambiente a que os docentes estão habituados. No estado em que estão a maioria das escolas públicas e tendo em conta o que se passa nas salas de aulas, Sócrates até teve muita sorte em não ter sido recebido com naifas e pistolas e música hip-pop em altos berros.Teria sido tão mais certo, em vez de fazer uma visita no âmbito da iniciativa “Regresso às Aulas”, ter escolhido o programa “Escola Segura”. Faz todo o sentido que os professores se comportem conforme o que aprendem nas salas de aulas. O primeiro-ministro é que não se conforma com isso e faz questão de deixar bem claro que não tolera desaforos, porque “uma coisa é uma manifestação, outra coisa é um insulto”. Ora, nós sabemos todos muito bem que a palavra “insulto” tem um sentido muito lato lá no léxico do primeiro-ministro. E também sabemos o que é que acontece às pessoas que dizem umas coisas sobre Sócrates, mesmo que em forma de anedota. Portanto, como não queremos perder o nosso empregozinho não vamos aqui esticar mais a corda... Mas, há uma coisa que temos de dizer... quando o primeiro-ministro diz que “assim não vale porque as pessoas estão a confundir manifestações com insultos e isso é feio” está realmente a tentar dizer o quê? Se calhar, há uma coisa que temos de lhe explicar: quando as pessoas querem mostrar o seu desagrado, geralmente, não escolhem palavras doces ou elogiosas para com o seu interlocutor. Não costuma surtir efeito. Não está à espera que nas manifestações, as pessoas passem a gritar palavras de ordem como: “o senhor é muito fofinho e tem umas pernocas que faxavor, nós é que somos umas bestas e pedimos muita desculpa por estarmos descontentes e aqui a protestar.” É que uma coisa é uma manifestação, outra coisa é o que uma pessoa gosta de ouvir quando se está a ver ao espelho.