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Condutoras de Domingo

Elas em contramão, sempre a abrir, pelos acontecimentos da semana.

Elas em contramão, sempre a abrir, pelos acontecimentos da semana.

Condutoras de Domingo

29
Jun08

Agarrado ao Pára-Choques - Peixe

condutoras de domingo

Esta semana um grupo de gente fardada entrou de assalto num supermercado da grande Lisboa. É uma coisa que já não causa espanto. Mas há cambiantes diferentes nesta história: a farda não era a do costume. Não era em tons escuros nem dizia ASAE, era mais a dar para o amarelo e dizia Greenpeace. Apesar das pessoas já estarem prontas a largar cestos, carrinhos e crianças de colo, e fugir para salvar as suas vida, quando perceberam que não eram os fiscais de António Nunes, ficaram bem mais descansadas. Certificaram-se apenas que eles não traziam os amigos do Movimento Verde Eufémia, que essa malta além de ser mais barulhenta e desagradável, ia querer destruir o corredor do milho e das leguminosas enlatadas de certeza. O que era uma chatice. Mas estes senhores da Greenpeace são bem mais criativos, trazem sempre instalações artísticas com vegetais, poemas sobre pequenos animais indefesos, ou então não trazem roupa, o que é à sua maneira uma forma de arte. O chamado nu artístico. Desta vez decidiram distribuir folhetos em forma de peixe, com a lista das espécies pouco sustentáveis. Isto porque os portugueses são dos maiores consumidores de peixe da Europa. Como se já não bastasse termos de ter cuidado com os nitrofuranos do frango, os pesticidas da fruta, a BSE das vacas ou as salmonelas dos ovos, agora os activistas pedem aos hipermercados nacionais que alterem a política de compras e incluam critérios como a taxa de crescimento e reprodução da espécie, a proveniência do peixe e o método de pesca. Perguntar à pescada como vai a vida conjugal, perguntar às douradas se os filhos estão a crescer saudáveis, investigar a proveniência do arenque, saber se tem visto de permanência ou se já é cidadão nacional, e saber como foi pescado: numa solarenga tarde de pesca desportiva ou por um pescador que furou a greve… Entre as espécies apontadas como pouco sustentáveis estão o salmão, o atum, o bacalhau, o camarão, o espadarte, o linguado, o peixe-espada, a pescada, a solha ou o tamboril. Coisa pouca portanto. Sobram-nos as sardinhas e os carapaus, o que dá jeito nesta altura do ano mas é capaz de começar a cantar. Sobretudo quando tentarmos substituir cocktail de camarão por cocktail de sardinha ou ensaiarmos uns pasteis de carapau. O slogan da Greenpeace foi “encolhe o teu peixe, não mordas o anzol”, pedindo às pessoas que reduzam o consumo destes peixes. Mas este apelo é bem capaz de ter o efeito contrário. Já se sabe como são os portugueses quando são lançados alarmes. Se uma marca de iogurtes for retirada do mercado, eles vão lá açambarcar todos, mesmo que o prazo de validade seja só de uma semana. Quando a gasolina ameaçou acabar, as filas foram de kilometros e os ânimos exaltaram-se. Já imagino estas pessoas à volta da banca do peixe, envolvidas em conflitos violentos para levarem para casa o maior stock possível de peixe. Aliás, eu tenho para mim que quando for anunciado o fim do mundo, os portugueses vão sair todos de casa num ápice, não numa tentativa desesperada de salvamento mas para serem os primeiros a chegar. Se é o derradeiro fim para todos nós, que seja, mas que sejam eles os primeiros a apanhá-lo. E esta regra é tão aplicável ao apocalipse como a postas de salmão.

25
Mai08

Agarrado ao Pára-Choques - Amigos da Sesta

condutoras de domingo

Nós, condutoras de Domingo, apreciamos alguma calma e costumamos entrar no carro muito antes de a viagem começar. Porém, há por aí gente que nos bate aos pontos em preparações: os amigos da sesta. Ainda estamos nós a despedir-nos de Maio e já a Associação dos Amigos da Sesta anda a preparar a 2ªConferência Nacional da Sesta, a realizar... Adivinhem. Junho? Não! Isso é já agora! Tal como Julho e Agosto. É em Setembro, bem lá para o finalzinho! E já está anunciado. Eu acho bem, não vá um amigo da sesta mais distraído deixar-se embalar o Verão todo e depois faltar à conferência com o pretexto de que nada sabia. Não, senhor, na irmandade da sesta não há espaço para improvisos. Ora, eu, que ainda não me associei a esta causa, ando preocupada com o facto de não ter tempo para dormir a sesta. Ela bem bate à portinhola do meu cérebro todos os dias a seguir ao almoço; tenta, tenta, chama o João Pestana, mas nada consegue contra esse flagelo dos tempos modernos que dá pelo nome de “volume de trabalho”. E isto é extremamente aborrecido por me colocar a mim e às outras condutoras de Domingo num mundo à parte, infeliz, onde os acidentes de trabalho se perpetuam em cadeia e os ritmos biológicos correm no sentido inverso ao dos ponteiros dos relógios; um mundo frágil pela nossa vulnerabilidade física, psíquica e mental; um mundo escuro como uma olheira com mais de 10 anos. No fundo, somos umas marginais. Porque a sesta é recomendável para todos e nós não nos incluímos nesse todo. Reparem. Não nos incluímos no grupo dos nostálgicos, que encaram a sesta como a via de acesso ao tempo perdido da infância, numa inversão do seu propósito primordial: naquela altura, faziam birra para não dormir, agora fazem birra para dormir. Também estamos completamente afastadas do grupo do Jet Set. É que não há nada mais in do que uma boa sesta, tendo em conta que grande parte dos amigos da sesta é gente conhecida, das artes, do espectáculo, de boas famílias e, claro, de bons horários. Aliás, este ano tenho para mim que a silly season será marcada não por festas, mas por sestas a realizar nos locais mais badalados da tarde algarvia: dos sofás do T-Club aos areais da praia do Ancão, é ver o Jet Set deitadinho sobre almofadas repletas de baba, ouvindo o som das ondas e dos roncos. Nem o grupo dos noctívagos nos acolhe, esses grandes adoradores de sestas, por termos caído nas teias da tirana luz do dia. E o grupo do pessoal das artes nem se fala. Nós ainda não vimos a curta-metragem «A Sesta», de Olga Roriz, e não há amigo da sesta que, desde a sua estreia, não a veja em repeat numa gravação pirata. Finalmente, na classe política, surpreendam-se, mas não há lugar para nós. Parece-me óbvio que eles andam a dormir há anos e nós, como dá para ver, nem aos Domingos ficamos quietas. E é com grande tristeza que me vejo forçada a anunciar tão atempadamente que não vamos aparecer em Alcanena a 27 de Setembro. Faltaremos à megaconferência da sesta, na qual se discutirá, por exemplo, a «sesta no trabalho». Por isso, que fique bem claro que é também com muita inveja dos participantes que comunico esta nossa ausência.

18
Mai08

Agarrado ao Pára-Choques - Blade Runner

condutoras de domingo

Blade Runner está em exibição. É uma nova versão, remasterizada digitalmente, uma obra-prima da sétima arte que, no entanto, podia ser melhor se seguisse a sinopse que proponho. Caro Ridley Scott, espero que me estejas a ouvir. A realização seria das Condutoras de Domingo, mas consentiríamos numa participação especial. Sobretudo se aceitasses como intérpretes Povo Português, no papel de Blade Runner; Manuela Ferreira Leite, António Neto da Silva, Mário Patinha Antão, Pedro Passos Coelho e Pedro Santana Lopes como “replicants”. A história rezaria assim: Povo português vagueia pela caótica selva lisboeta do século XXI. É um blade runner, um agente que persegue criaturas genetica e politicamente transformadas em candidatos à presidência do PSD, difíceis de distinguir dos humanos por serem feitas à sua imagem e medida. Missão: eliminá-los. Crime cometido: vários, dos mais temidos por gerações de Povos Portugueses, passando por promessas incumpridas, tempo de antena em excesso, desorientação estética, ambição desmedida, asneirame político e feiura.

 

 

 

Ao longo da sangrenta perseguição a estes seres que se tornaram ilegais à luz dos bons costumes terrestres, o semi-aposentado Povo Português fica definitivamente sem emprego. Mas nem isso acarreta o incumprimento da missão. Os “replicants” Ferreira Leite, Neto da Silva, Patinha Antão, Passos Coelho e Santana Lopes encarregam-se da sua própria auto-destruição. Revoltados uns contra os outros, canalizam os seus dotes poderosos, as suas ideias espectaculares, os seus slogans arrebatadores, o seu repúdio por coligações pré-eleitorais para uma batalha interna. Os sons dos galhardetes e da roupa suja a bater nos tanques do passado, semelhantes a rajadas de metralhadores, assolam Lisboa, esburacam o partido “replicant” social democrata e lançam o caos nas suas sedes. Descansado, e no entanto pressentindo o fim, Povo Português deixa-se estar sentado a assistir a esta calamidade sem par no universo da ficção científico-política nacional. Sente-se orgulhoso por nada ter feito e mesmo assim o espectáculo acontecer. O extermínio é total. A versão que agora apresento tem em comum com a que está nos cinemas a omissão da narração do protagonista. Separa-as o facto de eu não ter conseguido encontrar nesta trama um fio que desse para puxar para o romance. Santana Lopes e Ferreira Leite numa cena de “make up sex” pareceu-me vazio de sentido e sobretudo capaz de arrastar a película para as prateleiras dos filmes de terror. Por isso, o único final feliz possível é a certeza de que Povo Português conseguirá sempre sobreviver a manobras políticas e ainda ficar a rir-se. Aliás, a cena final podia ser uma gargalhada à escala planetária ouvida em off e acompanhada pelas imagens em câmara lenta do aniquilamento dos “replicants” social-democratas. E assim ficamos, aguardando ansiosamente um contacto de Hollywood.

11
Mai08

Agarrado ao Pára-Choques - Sexo

condutoras de domingo

Chegou o momento de fazermos contas ao... sexo. Peguem nas máquinas de calcular e tentem adivinhar o resultado de 3643 inquéritos sobre práticas sexuais feitos a portugueses entre os 16 e os 65 anos? Por muito que se esforcem não vão conseguir atingir os valores de bizarria dos resultados a atirar para o assustador do maior estudo alguma vez feito no país sobre «Comportamentos sexuais e a infecção HIV/Sida em Portugal». Parece que mais de 60% dos homens estão empenhados em andar por aí a contaminar gente. O que é o mesmo que dizer que se estão a borrifar para os preservativos. Ou melhor, antes estivessem. Era sinal de que os usavam. Mas não usam. Ainda por cima, 12% das pessoas com uma vida sexual activa, sobretudo homens, são infiéis, ou seja, têm mais do que uma parceira ou um parceiro sexual.

 

 

E eu a achar estranha aquela notícia que dá conta de um argentino que foi apanhado em flagrante a abusar sexualmente da sogra de 100 anos!... Pelo menos, esse certificou-se de que cometia um crime contra a vida de uma senhora que já aproveitou tudo o que tinha para aproveitar. O mesmo não se pode dizer dos tugas entre os 16 e os 65 anos, esse bando de doidos que anda por aí a espalhar fluídos – e quem sabe o vírus da sida? – indiscriminadamente. Até porque mais de metade dos portugueses nunca quis fazer o teste ao HIV. Preferem andar às cegas, às apalpadelas. No fundo, é apenas um bando de gente que gosta do perigo, que aprecia brincar à roleta russa e que não teme infecções ou doenças transmitidas sexualmente. Aliás, 38,2% dos inquiridos confessa não ter nenhum receio a este nível. O que poderia indicar que é gente corajosa; não: 55,2% nunca tirou uma amostra de sangue para fazer o teste da sida. Isso é que era de homem! E de gaja! Em suma, são é uns grandes preguiçosos que estão tão satisfeitos (ou será melhor dizer ansiosos?!) com o facto de terem vida sexual que esquecem um pormenor que pode fazer toda a diferença. Isto até parece o slogan de uma campanha de prevenção da sida. Do quê? Pois, lá está, mais de 60% dos portugueses não sabe do que estou a falar... Pelos vistos, mais de metade de nós acha divertido brincar à sida na versão quarto escuro. Já pensaram em experimentar os carrinhos de choque? Ou bungee jumping?

 

 

Pois claro que não, uma vez que, segundo este estudo, para lá de 60% dos habitantes deste nosso cantinho à beira mar plantado está satisfeito com a vida sexual que leva, retirando prazer das relações. Mas há mais: os portugueses – montes e montes deles! -têm dificuldade em aceitar diferentes orientações sexuais. Esta é a reluzente cereja no topo deste bolo de bizarrias de onde mais de metade de nós anda a comer, ou seja, onde há certamente muita saliva infectada à mistura.

 

 

27
Abr08

Agarrado ao Pára-Choques - Dietas

condutoras de domingo

Este Verão, quem dita as tendências não são nem as revistas nem o pessoal da moda, não senhor; quem dita as tendências veraneantes são... os produtos dietéticos! E com uma imperatividade nunca antes vista... O que eles determinam é que as praias vão ser dominadas por gordos. Esta é a regra desta nova ditadura: nas areias escaldantes do nosso Portugal, apenas veremos estendidos pequenos aglomerados humanos de massas adiposas deliciosamente flatulentas, e esses sim serão motivo de cobiça. Os corpos querem-se roliços, contornados com apontamentos rechonchudos de gordura. Nada de magricelas, com perninhas de rã! A era escanzelada dará obrigatoriamente lugar – e um lugar bastante espaçoso – à era “cheiinha”. Digo obrigatoriamente porque esta alteração nos códigos estéticos nacionais tem como causa aquele que já me parece ser o maior dilema que o século XXI enfrentará: gordura ou morte? É isso mesmo, caros ouvintes: este é o momento de nos pormos em frente ao espelho e pensarmos se queremos aquilo que vemos reflectido, coisa que, na melhor das hipóteses, nos lembra um anúncio da campanha “beleza real” da Dove, ou se preferimos começar já a folhear o catálogo de caixões e urnas da funerária mais próxima. É que o bruxedo que caiu aos tombos no universo dos produtos dietéticos anda a tramar as voltas às dietas. Primeiro foi a Depuralina; agora é a Herbalife. Intoxicações, tripas a saírem pela boca, toxicidade hepática, desidratação e, em última análise, uma subida aos céus depois de uma morte com causas por determinar. Bem sei que há por aí uma quantidade considerável de pessoas que, muito na esteira de Paris Hilton, preferiam morrer a ser gordas. Mas, para essas pessoas, a morte não passa de uma imagem forte (fortezinha, vá lá), uma metáfora de que se servem para sublinhar a importância que dão à magreza. Só que isto agora deixou de ser uma imagem e os que se atreverem a desafiar os deuses, pedindo-lhes corpos mais esbeltos e uma garganta suficientemente larga para emborcar tanto comprimido dietético num só trago, vão ter um triste destino. Ou talvez não: vão ser mais magros do que nunca e ter os ossos mais à vista do que algum dia imaginaram.

 

 

13
Abr08

Agarrado ao Pára-Choques - Falso Prof

condutoras de domingo

Ficámos fãs de António Raposo, ele que fez chegar a falsidade a novas profissões. Sim, nós já estamos habituadas a ver modelos cujos atributos são tudo menos verdadeiros… E falsos médicos então, é o que mais há! Nunca sabemos se aqueles diplomas da Faculdade de Medicina de Cambridge são autênticos ou foram feitos no Photoshop. Já vivemos bem com essa incerteza. Mas agora a dúvida recai também sobre outra classe profissional. Será que aquele senhor tão amável, encarregue de ensinar os nossos filhos a somar e subtrair, é de facto professor de matemática? E será que aquela senhora que se digladiou com uma aluna para lhe ficar com o telemóvel ensinava de facto francês? Ou estava ali apenas para fazer extorsões às crianças, servindo-se do seu porte físico admirável? Este clima de suspeição instalou-se graças a um homem que cuida, precisamente, do físico. António Raposo. O falso professor de educação física esteve em exercício – literalmente – mais de 30 anos. O docente foi acusado pelo ministério público de crime de usurpação de funções. Afinal de contas, andou para ali a ensinar pinos e cambalhotas e a tirar o lugar a outra pessoa. António Raposo tinha não um, mas dois certificados falsos. Um da Universidade de Lisboa, outro de Évora. Parece-nos professor para passar com distinção na avaliação do governo! Um homem que se esforçou, que suou a camisola, para se distinguir no cumprimento das suas funções. E pelos vistos fez a coisa tão bem que depressa se tornou num… falso presidente do conselho executivo. Mais uma novidade no âmbito dos cargos aldrabados. Finalmente vemos laivos de originalidade e dedicação no sistema de ensino português.

09
Mar08

Agarrado ao Pára-Choques - Aquela Bata

condutoras de domingo
Aqui no nosso carro apreciamos os profissionais do mercado de batas e fardamentos. Gostamos de saber que é graças a eles que podemos parar o automóvel junto a uma pastelaria e sermos servidas por um rapazinho com uma jaleca com punho em sarja 67% poliester e 33% algodão sobre uma calça 70% poliester e 20% viscose; ou, se o caso for mais trágico e envolver uma pequena queimadura no isqueiro, gostamos de ser atendidas no posto médico por um enfermeiro trajado com uma bata aberta atrás em sarja 67% poliester e 33% algodão. Tudo isto, claro, se as indumentárias forem Modelos Guanabara. Altamente especializada, esta empresa dedicada ao vestuário profissional tem como áreas de sucesso a saúde, a educação, a hotelaria, a restauração, os serviços domésticos, comerciais e industriais. Ou seja, tem fatiota para toda a obra. E tem também segredo: conjuga inovação com qualidade dos tecidos e na confecção. E isto, minhas amigas, caros ouvintes, tem como resultado «Aquela bata». Não esta - aquela; AQUELA que identificamos assim que vemos. É a bata inconfundível. Aliás, melhor do que a super-bata, só mesmo o site que a divulga. Ora experimentem ir a www.modelosguanabara.com e deliciem-se com a história desta empresa. Chama-se «Sopa de Noviça» e reza assim (preparem-se porque é história longa e antiga, a lembrar os melhores tempos da ditadura): «O Pai da Rosa – que roubara o nome a uma flor, conhecia o Sr. Doutor para quem trabalhara anos atrás, na sua Quinta de Palmela. Passados tempos, lembrou-lhe: Não precisa de uma criada? Sim realmente preciso duma pessoa que fosse ajudar a minha esposa, tenho dois meninos... A Rosa encantada com a cidade de Lisboa – Que casa tão grande e tão bonita, a Senhora e o Senhor Doutor uma simpatia, os meninos encantadores, e aquela senhora a trabalhar numa máquina de costura a pedal, tratavam-na por Laurinda. Oh Laurinda, experimenta na Rosa o meu vestido que já não uso, sobe-lhe um pouco a bainha para que não fique em cima dos sapatos. Aproveite aquele tecido que estava destinado a cortinas e faça aventais. A explosão aconteceu quando os amigos do Porto, um casal “muito fino”, vieram assistir ao 5º aniversário do Ricardinho. Então a D. Leonor segredou à amiga: Será possível, nós no Porto já sabemos e tu em Lisboa desconheces? A Rosa faz hoje 71 anos, trabalha (como quem diz) em casa do menino Ricardinho, que é o Presidente de uma das maiores empresas portuguesas. Ainda existe guardado como uma relíquia o aventalinho de “Bordado Inglês” que serviu para o 6º aniversário e, como a Rosa tem boa memória, comprado na Modelos Guanabara.» Não sei o que estão vocês a sentir; eu, depois desta fábula hermética, dou-me por vencida. E agora é ver o meu guarda-vestidos transformado em guarda-batas; é ver-me descer a rua, airosa e fabulosa, com aquela bata 67% poliester e 33% algodão.
02
Mar08

De Encontro ao Pára-Choques - Coca TV

condutoras de domingo
Afinal, têm razão os que andam convencidos de que o mundo inteiro cabe dentro de um pequeno ecrã. É a televisão – e não Deus ou a religião – que tem a capacidade de unir povos e transformá-los numa grande e feliz família capaz de assistir às mais estranhas bizarrias. Refiro-me, como é evidente, à instalação de um novo canal televisivo na Bolívia. A iniciativa é iraniana, mas dirige-se a toda a América Latina. E porquê? Por ser sobre coca ou, pelo menos, a propósito dela. Quem o anunciou foi Evo Morales numa reunião de produtores de coca. Faz sentido: o líder boliviano, reeleito presidente do maior sindicato de produtores de coca do país, anda preocupado com aquilo a que chamou «a grande luta desse movimento campesino». E o que resolve fazer? Oferecer-lhes entretenimento e propaganda através de um canal de televisão com dinheiros iranianos e temáticas locais. Já estou a imaginar a Bolívia e, aliás, toda a América Latina sentada no sofá a assistir, de manhã, a boas doses dos concursos «Querido, consumi a coca» e «Quem quer ser produtor de coca?»; aos quais se pode seguir, durante a tarde, uma matiné de «Bolívia, com coca no coração», «TV Rural Para Produtores Certificados» e o «Programa do Provedor», com explicações recorrentes sobre o que distingue um traficante de droga de um produtor de coca. Depois, claro, seria perfeito um tranquilo serão com a melhor ficção sul-americana. É uma pena nós não termos por aqui perdidos no carro os contactos de Morales ou de Mahmoud Ahmadinejad para lhes ligarmos a propor que desafiem Rui Vilhena e a sua trupe ficcionista a adaptarem a novela Fascínios para a realidade sul-americana. Tenho a certeza de que o Rogério Samora causaria por lá a mesma sensação produzida, há anos e entre nós, pelas actrizes das novelas mexicanas. Mas talvez seja melhor não fazermos isso, meninas. É que os produtores de coca iam ficar todos agarrados à TV e a produção de coca sofreria uma queda certamente histórica. É esta a magia da televisão. E enquanto iranianos e bolivianos planeiam este novo canal só nos resta mesmo ficar à espera, rezando para que a TV Coca da Bolívia faça parte do pacote Funtastic Life.
24
Fev08

Agarrado ao Pára-Choques - O Couvert

condutoras de domingo
A Associação Portuguesa de Direito do Consumo lançou esta semana um alerta capaz de mudar, para melhor, a vida de centenas de portugueses. Qualquer consumidor pode recusar-se a pagar o couvert nos restaurantes, mesmo que o tenha comido. Finalmente percebemos que a mais velha, e pior, piada de sempre tem fundamento! Aquela cena feita e refeita 100 vezes pelos Malucos do Riso, naquele cenário de marisqueira. Eu não queria mas… Vou contar. O empregado quer cobrar a um casal 1€ pelo pão, que eles não comeram. E diz-lhes: “não comeram porque não quiseram, que ele estava em cima da mesa”. Ao que o senhor responde: “então deve-me 50€ por ter apalpado a minha mulher”. O empregado nega tudo, mas o homem diz: “não apalpou porque não quis, ela sempre esteve aqui”. E pronto. Depois disto o quê? Aqueles olhos a sair das órbitas à la Malucos do Riso, gargalhadas enlatadas, alguma náusea por parte do espectador e … nada. O assunto caía sempre no esquecimento. Nunca foi tratado com a seriedade merecida. Mas chegam agora os Defensores do Consumidor para nos salvar. A questão resume-se a isto: o que não pedimos, não temos de pagar.

Ora se em cima da mesa já estão pães, tostas, manteigas, patês, queijos de Nisa, presunto serrano e pastéis de bacalhau, isto são ofertas da casa. Se lá estiver também um bonito candelabro, quatro bases para copos, um saleiro, um pimenteiro, um centro de mesa, pratos e talheres, podemos sentir-nos à vontade para levar. Nós não pedimos a ninguém para trazer a toalha, nem os guardanapos, nem mesmo a cadeira onde nos sentamos por isso… Se quiseram oferecer, sujeitam-se à nossa livre – e correcta – interpretação da lei. Acho que podemos até começar a ir jantar fora e ficar só pelo couvert. Depois do pãozinho levantamo-nos, agradecemos (porque é de bom tom) e saímos. Segundo a lei, “o consumidor não fica obrigado ao pagamento de bens ou serviços que não tenha prévia e expressamente encomendado ou solicitado”. Acho que isto deve estender-se a outras áreas de actividade. Por ex: no hipermercado nós não pedimos nada. Se aquelas coisas estão ali todas ao alcance da mão é porque podemos trazer. O mesmo quando vamos ao médico. Tirando as pessoas mais dramáticas, que se ajoelham e suplicam “doutor, cure-me por favor!”, nós vamos simplesmente ouvir o que têm para dizer. Não solicitamos nada. E o mesmo se passa com as portagens, ou os parques de estacionamento. Eu nunca pedi a ninguém que me fizesse parar no meio da auto-estrada, ou que me deixasse parar o carro entre dois tracinhos. Não encomendei o serviço, não tenho de o pagar. “Não há almoços grátis” é uma frase que passou à história a partir deste momento!

17
Fev08

Agarrado ao Pára-Choques - Spa Gay

condutoras de domingo
Que notícia tem potencial para, no nosso país, sair no mesmo dia em grande parte dos jornais diários? A remodelação governamental? Não. As operações de Ramos Horta? Não. As lesões de Nuno Gomes? Não. A notícia do momento remonta, muito apropriadamente, ao Verão de 2007 e chama-se «Dark Night». Não, não é um filme do Vin Diesel, mas sim o nome dado a uma vivenda em Albufeira onde funciona um hotel e spa gay. Ouviram bem? Vivenda. Albufeira. Spa. Gay. Isto é notícia?! Eu julgava que era prática corrente. Estava enganada. Ao que parece, o «Dark Night» combina uma guest house com um spa for men. E for men only porque aqui, minhas amigas, apesar de haver muito músculo masculino tonificado, menina não entra. É uma espécie de Clube do Bolinha com muitos arco-íris, música da Cher à mistura e, claro, o imprescindível orgulho gay. Ou melhor, como se percebe pelo segundo nome do «Dark Night», “orgulho termal”. Aliás, o «Dark Night» é até mais conhecido por «Thermas Pride». Ora, em que consiste este “orgulho termal”? De acordo com o que foi noticiado, já que nós não pudemos ir até lá por sermos todas meninas, o “orgulho termal” consiste numa simples transacção: dá-se oito euros à entrada do spa, recebe-se um kit com toalha, chinelos, chave para cacifo e preservativo e anda-se livremente pela sauna, pelo jacuzzi com televisão, o banho turco, uma sala de vídeo com filmes pornográficos gay, um recanto sadomasoquista, um quarto escuro e uma zona com trinco onde casais e grupos partilham coisas... intimidades, vá... Como seria de esperar, as zonas com mais sucesso são o quarto escuro, a sala sadomasoquista e a zona do trinco onde se fazem as tais coisas... E isto pelo seguinte: a zona do trinco, uma espécie de “boca do lobo” onde só se enfiam os corajosos, é um amplo espaço de liberdade onde se pode fazer tudo e mais alguma coisa, incluindo sexo, apesar de, segundo a gerência, ninguém ser obrigado a tal; o quarto escuro é em forma de labirinto, ou seja, é o sítio ideal para brincar ao “toca e foge”; e a sala sadomasoquista tem um enorme (e aposto que divertido) baloiço. Parece-me tudo muito bem; só não percebo por que motivo o «Thermas Pride» admite apenas pessoas, homens!, homens!, entre os 18 e os 99 anos, desaconselhando que se levem crianças lá para dentro. Eu até consigo compreender que não queiram mulheres; tudo bem, não fazem falta, de facto, porque raramente alinham em brincadeiras de gajos. Agora, um sítio onde existe a toca do lobo mau e onde se joga ao quarto escuro e se anda de baloiço não permitir a entrada de crianças é incompreensível e parece-me apenas mais uma reles forma de discriminação.

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Todos os domingos na Antena 3, entre as 11:00h e as 13:00h. Um programa de Raquel Bulha e Maria João Cruz, com Inês Fonseca Santos, Carla Lima e Joana Marques.

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Condutoras de Domingo é um programa da Antena 3. Um percurso semanal (e satírico) pelos principais assuntos da actualidade e pelo país contemporâneo.

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