Está a Falar de Quê? - Margarida Rebelo Pinto
Margarida Rebelo Pinto em entrevista é coisa que promete. Quando o título é “Se não escrevesse estava internada”, promete ainda mais! O problema é mesmo esse, Margarida: como escreve, há outras pessoas que estão internadas… ainda em choque com o que leram. Mas esta entrevista é uma coisa séria… Porque Margarida lançou agora o novo livro, o 1º desde que teve um AVC. Uma coisa grave, com a qual não se brinca, lá está. Mas para Margarida não foi um problema tão sério. Ela conta-nos a sua experiência de quase-morte, o que não deixa de ser fascinante porque pela primeira vez lemos um parágrafo de Margarida Rebelo Pinto sem adjectivos pop e ultra modernaços. “Quando dei por mim estava a pairar acima do meu próprio corpo”, diz ela. Relato angustiante de se ouvir. Ou talvez não. Porque à pergunta do jornalista “conseguiu telefonar a pedir socorro nessa altura?”, Margarida responde - “às tantas disse: não, tenho de descer, tenho a crónica do sol para fazer, um filho de 12 anos para educar, os meus pais e os meus irmãos vivos…” Pois bem, que conveniente, pôr o artigo do Sol à frente da família, nesta entrevista ao jornal… Sol… Coincidências. No fundo qualquer pessoa agiria desse modo. Eu prometo que quando vir a vida passar-me diante dos olhos a primeira coisa – e provavelmente a última – coisa em que vou pensar é “ai meu Deus que tenho de ir gravar as Condutoras de Domingo”. Até porque depois de ler esta entrevista, passei a valorizar outras coisas, nesta nossa efémera passagem pelo mundo. Foi Margarida quem me fez ver a luz. Ou a fruta, neste caso. Ao afirmar: “A vida de uma pessoa pode ser como um prato de cerejas ao sol.” É isso mesmo. Eu andava com dificuldade em descrever o que tem sido a minha vida. Não é fácil pôr cá para fora tudo o que nos vai na alma. Mas isto resume os últimos 22 anos da minha existência: um prato de cerejas ao sol. E até aqui eu era um prato de cerejas com um problema: não tinha um grande ídolo, uma referência, uma estrela-guia. Agora já tenho. Margarida Rebelo Pinto. Porque é um exemplo de preserverança. Vejam só o que ela diz: “Se tenho um objectivo, nem que a vaca tussa, eu tenho de lá chegar. Sempre fui assim. Lembro-me que quando publiquei o Sei Lá, meti na cabeça que tinha de ter uma entrevista na Caras e fiz seis tentativas diferentes para conseguir. Um dia consegui.” É assim que eu quero ser. Vou delinear os meus objectivos de vida (qualquer coisa como aparecer no Correio do Leitor da TVGuia) e vou conseguir. Com a ajuda da Margarida. Aliás vou já à tabacaria mais próxima comprar o novo romance dela: Português Suave, porque aposto que vai funcionar para mim como O Segredo funciona para uns milhões de pessoas. Porque Margarida Rebelo Pinto é uma espécie de Floribela, em bondade e ternura, e sem a parte dos implantes. Ela assume isso na entrevista, ao dizer “eu que falo com as árvores, com bancos de jardim e com as pedras”. E eu quero ser como ela. Para depois as minhas amigas poderem dizer o que diz Patrícia Reis sobre Margarida “tu não foste feita para pensar, foste feita para escrever”. Eu já devia ter desconfiado que era esse o truque…