03
Fev08
Sinais de Luzes - 3 de Fevereiro
condutoras de domingo
Mínimos
Para o Hospital de S. João, no Porto, que inaugurou 6ª feira um novo bloco de partos. “Único no país”, dizem eles. “Felizmente!”, dizemos nós. Poucas semanas depois de Cavaco Silva ter feito um apelo à natalidade, estes senhores tiveram uma ideia brilhante. Arranjar uma sala de partos toda em madeira, com focos de luz suave, onde as mulheres possam dar à luz como se estivessem em casa. À antiga! Ora, quem é que no seu perfeito juízo quer ter um parto à antiga? Em 1º lugar, à antiga dói muito. Ponto final. Se epidural é sinónimo de modernismo, não há grávida nenhuma que queira ser arcaica. Além disso, chegada a hora das contracções mais fortes, quando as grávidas têm tantos dedos de dilatação como aquelas mãos gigantes que usam as claques de futebol, a última coisa que elas querem é sentir-se em casa! Há mesa de cabeceira e banheira, e daí? Até podia haver televisão com naperon em cima. Já vimos reconstituições parvas, como a feira medieval em Óbidos, mas recriar partos à antiga consegue ser pior do que passar uma tarde a fingir de mendigo do século XIII. Diz o médico responsável pelo novo bloco que “para copiar um trabalho de parto à antiga só faltam as parteiras do povo”. E porque não contratar figuração? Há por aí muitas senhoras que terão todo o gosto em fazer um parto ou outro. Sobretudo ao fim-de-semana, que é quando não há Praça da Alegria. Neste bloco não há anestesias nem partos induzidos, só música e relaxamento. Dizem que é para grávidas sem pressa. Mas isso existe? Gente que na hora H prefere ficar com a criança para ouvir uma bela sonata, em vez de o pôr cá fora duma vez por todas? Por este andar, em vez de bebés provetas vai começar a haver uma quantidade absurda de bebés inclusos. Miúdos que ao fim de 12 meses ainda não saíram, porque as mães se sentem em casa, e tão a aprender coisas giríssimas na hidroterapia.
Médios
Para Sarkozy e Carla Bruni, que foram outra vez notícia. Mas desta vez não envolve nenhum parque temático. Só banda desenhada. É que a companhia aérea Ryanair fez uma campanha publicitária com a fotografia do casal. Em que, da boca de Carla Bruni, saem não as habituais tiradas melodramáticas, mas um balãozinho de BD, que diz o seguinte: “Com a Ryanair, toda a minha família pode vir ao casamento”. O casal pôs uma acção em tribunal por “violação do direito de imagem”, um assunto muito caro a Sarkozy, como se sabe. Ele que passa os serões a corrigir imperfeições dos seus abdominais no Photoshop. Ainda assim, o Presidente Francês tem noção do seu baixo valor de mercado. Por isso reivindicou um euro por danos e prejuízos. É o que dá nunca ter sido capa duma revista feminina. Já Bruni, do alto da sua vasta carreira, reclama uma indemnização de 500 mil euros. Faz sentido. Ela é que é realmente importante em França. A Ryanair já é especialista neste tipo de publicidade. É uma espécie de “political placement”. Já o tinha feito com Zapatero ou Tony Blair. Resulta sempre, porque pelo preço de meia dúzia de outdoors aparecem na imprensa de todo o mundo. E dá sempre para pagar as multas com o que poupam nas refeições de bordo. Mas não se pense que é só no estrangeiro que se fazem estas coisas! Por cá aconteceu em Dezembro. Um supermercado em Ourém usou a fotografia do D. Duarte Pio em cartazes gigantes. Com esta estratégia de marketing não sabemos bem o que pretendiam. É que ver aquele bigode farfalhudo não deve dar vontade a ninguém de ir comprar congelados ao Modelo.
Máximos
Para a proibição da carne de vaca brasileira em Portugal. Em plena semana do Carnaval sai a notícia que nos chocou a todas. A picanha brasileira foi proibida na Europa. Isto é um duro golpe para a comunidade brasileira em Portugal. Como se já não bastasse terem vistos os nossos trios eléctricos, sambódromos e bailarinas… Agora tiram-lhes a picanha! E condenam-nos para sempre a comer sandes de leitão e francesinhas. Isto é mais do que tirar o pão da boca dos brasileiros. É tirar-lhes também milhares de postos de trabalho. Quantos e quantos homens se sustentam no nosso país repetindo todo o dia a lengalenga “picanha, alcatrca, maminha, salsicha toscana, coração, cupim”. O que será feito deles agora, sem rodízios? Nós achamos que o melhor é ter cuidado, que eles têm aqueles espetos e aquelas facas de trinchar mesmo à mão. Parece-nos que estamos perante um complot contra a comunidade brasileira. Depois disto, e para devastar finalmente os seus lares, resta desempregar as esposas. Como? Proibindo todos os serviços de manicure e estética em território nacional. Depois do embargo da carne, o embargo das unhas de gel e cera depilatória. Será o fim do mito dos brasileiros sempre contentes! Até lá, resta aproveitar enquanto esta União Europeia armada em ASAE não proíbe a farofa, as caipirinhas e a goiabada!