Condução Defensiva - Byblos
Portugal é um país pequeno, mas, tal como reza o ditado, só se sente atraído pelo seu oposto, ou seja, por tudo o que é GRANDE, EM GRANDE e À GRANDE. Depois da maior largada de touros, do maior pão com chouriço, do maior logótipo humano, do maior shopping - do universo, do mundo, da Europa, chegou a vez da Byblos, a maior livraria do país, uma livraria única no mundo pelas inovações tecnológicas de que dispõe. Os números relativos ao novo espaço são também do agrado dos portugueses: são muitos, soam a muito e remetem para realidades grandes, enormes, gigantes. Ora vejam: em 4 mil metros quadrados de área, divididos por 2 pisos com 25 tipos diferentes de iluminação e mais de 40 plasmas, foram investidos 4 milhões de euros para que estejam disponíveis 150 mil títulos. Se há por aí alguém que não esteja impressionado, ligue-nos, por favor, por ser daqueles para quem o tamanho não interessa, e isso interessa-nos. Isso interessa-nos não por gostarmos do Portugal dos Pequeninos, mas pela simples razão de o Portugal dos Gigantes ser o lugar onde se sentem em casa os megalómanos e não os visionários. Os megalómanos que acham que há espaço para mais shoppings na cidade onde existe um Colombo ou os megalómanos que acham que há espaço para um festival de cinema semelhante a Veneza ou Cannes num país onde não se faz cinema e as maiores celebridades são estrelas de reality show. Eu devo confessar que, não sendo megalómana (reparem que até costumo andar num carro de 3 portas com mais 3 ou 4 miúdas), fiquei feliz com a Byblos. Apesar de ter uma fonte a jorrar água num sítio onde os livros não se querem molhados, apesar de ser tão grande que muitos casais vão finalmente conseguir separar-se sem nunca mais se encontrarem, ali os livros estão arrumados em estantes inteligentes que não nos deixam perder o rasto ao que procuramos. Mesmo que todo este conforto proporcionado aos clientes seja interesseiro, isto é, seja motivado pela vontade de acabar com distracções e concentrar as atenções no que se vende, o que é certo é que vou livrar-me das horas passadas na escura Biblioteca Nacional. E isto é o MAIOR upgrade da minha qualidade de vida. Por isso, recomendo que, a partir de Dezembro, troquem o Colombo pela Byblos. Como se vão perder de certeza durante uma semana lá dentro pode ser que cheguem efectivamente a ler qualquer coisa. Como o MAIOR romance de sempre, por exemplo.