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Nov07
Condução Defensiva - Tintoretto
condutoras de domingo
Parece que anda por aí – por Portugal, quero eu dizer -, há 40 anos, um Tintoretto e ninguém deu conta. Dizer que anda por aí um Tintoretto não é o mesmo que dizer “encontrei o Wally!”. O Wally é o desenho de um bonequinho minúsculo escondido entre cem mil desenhos de bonequinhos minúsculos quase iguais a ele; um Tintoretto é um quadro pintado por um dos grandes nomes da Renascença Italiana, por um dos maiores artistas europeus do século XVI. Neste caso, é um quadro desses com cinco metros de comprimento por dois de altura. Ou seja, coisa difícil de perder de vista e de valor incalculável. Ao que parece, o quadro desapareceu na Veneza do século XVIII. E só voltou a ser avistado há 40 anos em Portugal, quando o banqueiro lisboeta Jaime Pinho o comprou. Mas nem uma Adoração dos Magos perdida no século XVIII, em Veneza, consegue levar uma vida tranquila em Portugal. O banqueiro morreu, doou o quadro, por disposição testamentária, ao Mosteiro de Singeverda, em Santo Tirso, e os monges beneditinos que, por acaso, até tinham uma parede livre, ocuparam-na com a obra. Não faziam ideia de que estavam a pendurar um Tintoretto. Na verdade, ainda ninguém sabe com toda a certeza. Excepto o historiador de arte Vítor Serrão, que afirma que põe as mãos no fogo pela autoria do quadro: é um «Tintoretto, provavelmente feito a meias com o filho Domenico, o seu herdeiro artístico». Mas isso de pôr as mãos no fogo não impede que o quadro seja sujeito a uma série de procedimentos que mais parecem uma operação especial do CSI: exames laboratoriais, fotografia de infravermelhos, raios X, análises microquímicas e por aí fora. Nós desejamos tão ardentemente quanto Vítor Serrão que a obra seja mesmo um Tintoretto. Não só o património nacional fica mais rico, como as pessoas vão ficar a saber que ter um Tintoretto em Portugal não equivale à abertura de mais uma loja de pronto-a-vestir feminino para classe média. E, claro, sempre vai dar para varrer, por uns tempos, o “assunto Hermitage” para debaixo do tapete do esquecimento...