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Mar08
Sinais Luzes - 9 de Março
condutoras de domingo
Mínimos
Para o município de Alcobaça, que se assumiu esta semana como “cidade maçã”. É caso para dizer que saiu do armário. Ou da fruteira… Depois de votada a Moção da Maçã, decidiu-se que o futuro passa pelo registo da marca e criação de produtos de merchandising. Oh não! Como se não bastassem os galos de Barcelos, as esculturas das Caldas ou as Nossas Senhoras de Fátima, agora vamos ter crachás e porta-chaves com maçãs de Alcobaça. Os deputados da assembleia municipal acham que o projecto da maçã deve ser uma prioridade para o concelho. A dedicação de uma cidade à causa de um fruto não é, de todo, inédita. Há já vários anos que o município de Oeiras se entregou às questões da Manga, com Isaltino Morais a demonstrar todos os benefícios que uma boa manga pode esconder. Lisboa, com tanto entrave, tanta dívida e tanta demora, podia muito bem passar a Cidade-Banana. Para os lados do Porto, os falhanços de Rui Rio são tantos, que podíamos chamar-lhe Cidade-Melão. A população de Alcobaça parece feliz com o novo nome, mas… será que não reparam que isso nunca trouxe vantagens a ninguém? Veja-se o caso de Guimarães, cidade berço, ou Évora, cidade museu. Não consta que haja mais incentivos à natalidade ou à cultura por lá. E Paços de Ferreira? A famosa capital do móvel ganhou apenas algumas excursões de famílias nortenhas para comprar aparadores para a sala. E mesmo essas, a partir da inauguração do IKEA, nunca mais lá puseram os pés. Portanto, resta à malta de Alcobaça rezar para que não abra nenhum Mega Fruta Almeidas lá ao pé. Seria triste ver todos os despachos e projectos-lei sobre puré de maçã, tarte de maçã, e maçãs caramelizadas, caírem em saco roto.
Médios
Para a ficha de avaliação de professores elaborada na Escola Correia Mateus, em Leiria. Desde cedo que esta história da avaliação dos professores prometia emoções fortes. Com professores forçados a correr todos os alunos a 19 e 20, caso queiram ser colocados no próximo ano. Ou então, professores mais conservadores, que insistem em chumbar aquele miúdo que só entrou na sala uma vez, e foi para os insultar. Esta resistência à mudança vai custar-lhes, no mínimo, uns dez anos em casa, ou uma preciosa vaga no ensino recorrente, à noite, em Miragaia. A ficha em causa foi feita pelo conselho executivo da escola, e na componente “dimensão ética” tinha os seguintes parâmetros: “Verbaliza a sua insatisfação face a mudanças ocorridas no sistema educativo através de críticas destrutivas, potenciadoras de instabilidade no seio dos seus pares”. Ou fá-lo “de forma serena e fundamentada através de críticas construtivas potenciadoras de reflexão.” Cá está um critério ainda mais rigoroso para avaliar professores do que as notas que dão. É óbvio que um docente que entra na sala dos professores elogiando o saia-casaco da ministra da educação é muito mais digno de confiança do que alguém que tem o desplante de dizer que Maria de Lurdes Rodrigues tem muitas rugas de expressão. Posto isto, sugerimos que sejam criados novos parâmetros de avaliação dos professores. Como este – que prato pede com mais frequência na cantina? Caldo verde, pão de alho e feijoada, capazes de criar algum mal-estar junto dos seus pares, ou uma canja de galinha bem neutral, seguida de maracujá, que é, como todos sabem, a “passion fruit”? Parecem coisas insignificantes, mas aquilo que os educadores ingerem ao almoço ou o que pensam do governo de Sócrates é bem mais importante do que saber a matéria. Para nos ensinar o teorema de Pitágoras ou as figuras de estilo, existem os livros, que são muito mais eficazes e já nascem com selo de qualidade do Ministério da Educação. É bem mais prático!
Máximos
Para os CTT. Uma empresa que todos considerávamos tão séria e idónea! Os Correios de Portugal eram, até aqui, uma espécie de porto de abrigo. Como a casa dos nossos avós, onde sabemos que permanece sempre tudo na mesma. Os mesmos bibelots, as mesmas carpetes, os mesmos discos de vinil que já não se fabricam. Nos CTT era a mesma coisa. Os mesmos telegramas, selos comemorativos de qualquer coisa, e livros do Paulo Coelho para folhear, enquanto esperamos que chegue a nossa vez. Tudo isto se desmoronou em poucos minutos, esta semana. Quando descobrimos que afinal os CTT estão metidos em negócios obscuros, que nada têm a ver com a venda de postais de aniversário ou envelopes almofadados. Em causa está a venda de dois edifícios, em Coimbra e Lisboa. Foram adquiridos pela Demagre - companhia com capital de empresas sediadas nas ilhas virgens, a preço de saldo. O prédio em Coimbra, que custou 14 milhões de euros, foi vendido horas de pois ao Grupo Espírito Santo por 19 milhões. Isto sim é inflação! E pensar que anda para aí tudo preocupado com o preço do pão e da bica… O que isto vem provar é que os edifícios dos CTT são muito mais valiosos do que podíamos pensar. O nosso conselho é que entre na Estação de Correios da sua área de residência e experimente comprar, em vez de certificados de aforro, a própria da estação. Valoriza muito mais depressa, pelos vistos! Se lhe calhar um daqueles funcionários mal encarados, que parecem prontos a esmagar-lhe o crânio com o carimbo… Opte por uma abordagem mais suave. Peça apenas um envelope de correio azul ou assim, e tente arrancar um marco do correio à saída. Pode ser que com o passar dos anos se torne artigo de coleccionador.