Mínimos
Para Hillary Clinton, que tem demonstrado algumas dificuldades de interpretação. A semana passada recordou a sua chegada à Bósnia, em 1996, da seguinte forma: "Lembro-me de aterrarmos sob o fogo de atiradores furtivos. Era suposto haver uma espécie de cerimónia de boas-vindas no aeroporto, mas em vez disso limitámo-nos a correr com as nossas cabeças baixas até aos veículos para chegar à nossa base." A antiga primeira-dama, e actual candidata à Presidência, esqueceu-se apenas dum pormenor. É que em 96 já havia televisões, e tempos de satélite e assim. E o seu desembarque na Bósnia está registado. Também ignorou outro minúsculo detalhe, que é a existência dum site, pouco importante, chamado YouTube, onde vão parar todas as imagens deste mundo e do outro. Assim, o mundo pôde ver essa chegada tão dramática e recheada de perigos.
Atiradores furtivos, não se vê nenhum. O máximo que pode ter acontecido é que Hillary tenha confundido uma menina de oito anos que lhe leu um poema, com um guerrilheiro armado. É que a poesia infantil das Balcãs pode soar muito ofensiva, caso não saibam! Quanto a Hillary ter corrido com a cabeça baixa até ao veículo, também não há qualquer registo. Mas isso se calhar foi só depois das câmaras se desligarem, quando se lembrou que era de bom-tom praticar jogging em visitas de Estado. É bem possível. A candidata já veio dizer que se exprimiu mal, e que afinal só lhe disseram para levar os coletes à prova de bala quando saísse do avião. Isto equivale a dizer que sobrevivemos a um desastre de avião noutro dia, e fomos resgatados no Oceano por um helicóptero. Na verdade, a hospedeira limitou-se a explicar-nos como se usa o colete salva-vidas mas isso é um pormenor sem importância para a nossa história!
Médios
Para um novo movimento estudantil. Muito rebarbativo, como só a malta que anda no Secundário sabe ser. E estes estudantes reclamam contra quê? As propinas? O preço das fotocópias? A má qualidade dos croissants do bar? A falta de uma opção macrobiótica na cantina? A antipatia das funcionárias? A chuva que cai dentro das salas? O peso que carregam nas mochilas? Aquela mania enervante dos professores lhes confiscarem telemóveis e depois não quererem apanhar umas valentes bofetadas? Nada disso. Estes alunos, de várias escolas do país, uniram-se para criar a Plataforma Directores Não. Que serve, tal como o nome indica, para banir a figura autoritária do Director das escolas. É uma ideia tocante e sensibilizadora, vem é... vinte e nove anos atrasada! É que os Pink Floyd já tinham criado uma estrutura semelhante em 1979. E ao menos esses ainda fizeram uns acordes e umas letras, para além de abaixo-assinados e blogs. Diziam assim: “We dont need no education. We dont need no thought control.”
O slogan destes miúdos portugueses é bem mais fraco: Chefes e directores, não queremos NÃO Senhor! Agora, de repente, a causa de todos os males em recintos escolares não é dos alunos problemáticos, não é dos gangs que cercam a escola, não é dos professores incompetentes. É apenas e só dos directores. Essa gente com a mania que é preciso alguém que mande. Que ideia mais salazarista e antiquada! Em tempos em que tanto se fala dos modelos de gestão das escolas públicas, deixamos aqui a nossa sugestão. O modelo de auto-gestão. É assim uma espécie de anarquia, com o lema “deixa andar e logo se vê”. Afinal de contas, é isso que os alunos vão encontrar no mercado de trabalho, portanto não há melhor preparação para o futuro.
Máximos
Para a noite do Porto, que está novamente a ferro e fogo. O que pode parecer estranho, tendo em conta que Bruno Pidá continua preso e que os outros já morreram quase todos. Mas agora o caos está instalado num outro tipo de noite. Mais alternativa. O que também pode soar esquisito, visto que Carolina Salgado já deixou o alterne para se dedicar à carreira de colunável. Mas também não é o negócio dos bordéis que anda nas bocas do mundo. É o dos bailes. Agora em vez de gangs rivais que se envolvem em rixas, temos organizações de bailes rivais que entraram numa espiral louca de auto-promoção. E repare-se nos nomes: Baile da Primavera versus Baile da Rosa. Que volte Pidá e a sua virilidade, por favor! O problema é que os bailes estão marcados para o mesmo dia, à mesma hora. Está aberta a guerra entre Rui Terra e Daniel Martins – lá está… que nomes corriqueiros, faz falta um Berto Maluco. Nesta luta titânica também vale tudo. Não recorrem tanto aos tiros e engenhos explosivos, mas a armas igualmente temíveis, como as falsas confirmações de convidados, as homenagens e as acções de solidariedade. O Baile da Primavera vai ajudar a Liga das Crianças do Hospital Maria Pia. O Baile da Rosa contra-ataca com a APAV e junta-lhe o nome de Maria Cavaco Silva, um trunfo fortíssimo. Mas o Baile da Primavera não desarma: tem Manuel Luís Goucha e Marisa Cruz do seu lado. Isto é coisa para deixar o adversário desnorteado. Mas a malta da Rosa não é de se render facilmente, e vai homenagear os irmãos Rosado, mais conhecidos por Anjos. Isto é o equivalente a uma arma de destruição maciça, sobretudo se eles cantarem as músicas do Resistirei. Tendo em conta que os bailes são só no próximo sábado, ainda vão haver com certeza muitas movimentações das tropas. Esperemos que, algures nas trincheiras deste conflito, alguém pare para pensar no seguinte: estamos no Século XXI. Os bailes de debutantes ou de início de estação não se usam desde os tempos do Eça de Queirós.