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Jan08
Sinais de Luzes - 27 de Janeiro
condutoras de domingo
Mínimos
Para Bill Clinton. Que adormeceu durante uma cerimónia evocativa de Martin Luther King. É caso para dizer: “he had a dream!”. Literalmente. Bill deixou a mulher a fazer campanha na Carolina do Sul, que ela é que tem idade e saúde para essas coisas, e tirou uns dias para descansar. E que sítio melhor pode alguém escolher, para passar pelas brasas, do que uma Igreja Baptista? À partida nenhum. Salvo 2 excepções: ser-se ex-presidente dos EUA e estar exactamente atrás do púlpito dos discursos. É que dá um bocadinho nas vistas… Muito se falou há uns tempos do miúdo que bocejou enquanto ouvia um discurso de George Bush… E esse nem sequer chegou a adormecer, coitado. Além disso tinha duas atenuantes: 1º, a conversa do Presidente era bem mais monocórdica que a do filho de Luther King (que passou o tempo aos berros), 2º: o miúdo estava em fase de crescimento. Aquela em que se dorme 14h por dia sem problema. Agora Bill…? Um homem tão activo? Conhecido pela sua vitalidade e vigoroso sopro no saxofone? (Não há qualquer tipo de insinuação de mau gosto nesta frase!). Ele dormiu mesmo profundamente, com direito a cabeçadas no ar e tudo. Só faltou babar-se para cima do executivo do lado.
Esta é a prova derradeira de que Hilary vai perder as eleições. Porquê? Porque a partir desta semana Bill é, oficialmente, o “Mário Soares lá deles”, dos americanos. Isto implica que a sua esposa seja uma Maria de Belém, ao melhor estilo América do Norte: pode arriscar mais nos tons dos vestidos, mas viverá condenada às obras de caridade e aos leilões na mesma. Ela que se prepare não só para a derrota eleitoral, mas também para ver o seu marido adormecer em tudo o que é cerimónia pública, arranhar um “Salut comment ça va?” macarrónico a qualquer momento, e passear em cima duma tartaruga gigante nas próximas férias de Verão. Ah, e claro, neste processo de Soarização, Hilary vai ter de dar a Bill Clinton uns suplementos. Para ver se engorda um bocadinho. Por nós, tudo bem, desde que não façam nascer mais nenhum João Soares. O mundo não está preparado para dois.
Médios
Para o leite! Que vai subir mais de 10 cêntimos por litro já em Fevereiro. Engraçado que quando fazemos contas ao litro normalmente falamos em gasolina. Agora a inflação chegou ao reino dos lacticínios, o que promete deixar muitas famílias não à beira dum ataque de nervos, mas duma crise de descalcificação. E não é preciso esperar pelo mês que vem para ver os primeiros efeitos desta crise. Basta ir a um qualquer supermercado para ver as prateleiras do leite completamente vazias. Um distribuidor, em declarações à imprensa, disse que vivemos um compasso de espera. Quem distribui prefere aguardar uma semana sem repor stocks para poder ganhar mais 10 cêntimos por pacote. Já estamos mesmo a ver. Da próxima vez que formos ao Continente dão-nos uma senha de racionamento à entrada, como em tempo de guerra. E se tivermos direito a um daqueles pacotes de Nesquick com palhinha já é muito bom. Essa é toda a lactose que entrará no nosso organismo durante esta semana. Mas a verdadeira festa vai começar depois. Com um aumento previsto de 37% por pacote, no 1º trimestre deste ano, podia até criar-se uma bolsa do leite. E isto não é mais uma alternativa ecológica aos sacos de plástico nos hipers, é mesmo uma Bolsa de Valores. Em vez de Euronext podia chamar-se Lactogal. E assim acompanhávamos as oscilações nos jornais. Víamos se as acções da Gresso e da Agros estão em queda, como está o índice Mimosa ou qual a cotação da garrafa de UCAL. Se, por exemplo, tivermos em casa um pacote de Matinal Meio Gordo a desvalorizar 4% podemos sempre tentar uma transacção, com poucas comissões. Trocar por um pacote de UHT Parmalat, que sempre tem capitais estrangeiros.
Máximos
Para quem se deu ao trabalho de vandalizar a lápide de Salazar. Não valia a pena. Nós sabemos que os vencedores de concursos televisivos despertam sempre grande curiosidade, mas é mais fácil abordarem um mais recente. Ainda há um mês um senhor ganhou um cheque chorudo, por ter provado que sabia mais que um miúdo de 10 anos – coisa rara entre os portugueses. Mais valia incomodá-lo a ele do que ao ex-ditador, ou ex-salvador da pátria, conforme os gostos! Porque ele só consegue materializar-se diante de nós quando invocado por Maria Elisa. Fora isso, recusa-se. É escusado insistir. O Presidente da Câmara de Santa Comba Dão, onde fica o cemitério, acha que isto foi uma manifestação de cariz político. Faz algum sentido. As últimas manifestações políticas em Portugal, como o louco aumento de 5 cêntimos nas reformas ou a construção do aeroporto em Alcochete, deram-se todas pela calada. A altas horas da noite e rezando para que ninguém dê por nada. Tem tudo a ver com este cenário do cemitério de Santa Comba Dão. O Presidente da Câmara afirma mesmo que “foi puro vandalismo, alguém que agiu mesmo com maldade, de propósito, porque trouxe um paralelo da rua, que foi encontrado no chão do cemitério”. Ora aqui está um argumento de peso. Nunca mais nos tribunais se ouvirá a dúvida “teve ou não intenção de matar a vítima?”. Porque bastará perguntar: “levou um paralelo da rua?”. Se levou, é porque foi mesmo um crime cruel. Se levou só umas armas de fogo ou um machado, o mais provável é que tenha sido sem querer.