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Máximos
Para Dulce Pontes. Que conseguiu arruinar o Tratado que José Sócrates teve tanto trabalho a arranjar. É triste ver as coisas acabarem desta forma. Portugal não assistia a uma vergonha tão grande desde que perdeu o Euro contra a Grécia. Mas ao menos nesse dia a Nelly Furtado não comprometeu, sempre se lembrou da letra do “Como uma força”... Vamos começar pelo princípio. O cenário parecia perfeito e auspicioso. Sócrates aplicou a regra de sempre para as coisas funcionarem: o tom azul europeu. Desta vez estendeu-o das gravatas para o cenário, as bandeiras, e até um eléctrico da Carris, para transportar convidados. Não havia por onde falhar. Além do mais, mandou fazer canetas de prata individuais para todos os signatários do tratado, com uma inscrição alusiva à data… Uma coisa mesmo bonita, a fazer lembrar aqueles brindes das Juntas de Freguesia. Mas em caro. Tudo corria de feição! Os 27 líderes europeus assinaram o documento sem ler, repetindo o velho erro de sempre, que já custou tão caro a Hitler, no Tratado de Versailles. Tudo isto ao som da música de embalar de Rodrigo Leão. Tudo tão certo! Mas eis que surge Dulce, vestida em tons vermelhos e acastanhados, a contrastar com a harmonia do azul. E começa a cantar. Quer dizer… começa a dar gritos guturais, inaugurando uma forma de arte que está muito para lá do limiar “Maria João e Mário Laginha”. Mas ficam os parabéns à organização: se a ideia era esvaziarem rápido os Jerónimos e levar os políticos para o almoço, conseguiram. Só que eles certamente ficaram sem apetite…
Médios
Para a gala da TVI. O pressuposto solidário era ajudar a Leopoldina e a sua Missão Sorriso, mas acabaram por cumprir uma grandiosa Missão Gargalhada. Não sabemos se pelo meio ajudaram um ou outro menino pobre, mas tornaram todos os espectadores mais ricos, com aquele espectáculo. O momento da noite pertenceu, claro, a Manuela Moura Guedes. Nós achávamos que o Happy Birthday Mr. President do ano passado, cantado languidamente para Moniz, tinha sido bom. Ainda não tínhamos visto nada! Desta vez Manuela trouxe uma proposta indecente: “encosta-te a mim, desatinamos tantas vezes”, cantou ela. E ao pé da sua versão desafinada, até parece que o Jorge Palma canta bem! É que ele sempre tem o desconto de estar alcoolizado. E os intervenientes na gala pareciam estar todos bem lúcidos. À excepção de Raquel Matos Cruz. Para além de quase ter caído escada abaixo, anunciou a música de Gil do Carmo, silenciando a histérica plateia da TVI. É que estava um indivíduo sentado ao piano a tentar explicar-lhe que era engano e se chamava Pedro Kihma. Mas o espectáculo tinha de continuar. Faltava Ana Sofia Vinhas com o Singing in the rain; os pivots do telejornal a fazerem de gays magos – num trocadilho nunca antes visto; Marisa Cruz a fazer de Maria, mãe de Jesus, e a perguntar a José se quer ficar excêntrico… Faltavam outros brilhantes momentos de humor, com um Pai Natal Goucha e uma Mãe Natal Cristina Ferreira, perdidos entre as mesas de convidados, sem referências, em busca duma cara familiar: um figurante que fosse, do Você na TV! E eis que chegou a notícia da noite: a TVI vai ter canais cabo! E dito isto, José Carlos Araújo precipita-se para um solo de bateria, ao som de Xutos e Pontapés. Tratamento de choque. Quem vai precisar de ser curado em ambulatório, e ajudado pela Leopoldina, agora, somos nós.
Mínimos
Para os camionistas portugueses retidos em Itália. Mais uma vez provaram que o verdadeiro homem lusitano arranja sempre forma de se entreter. São já muitos anos de tradição: malta que escova os dentes e faz a barba em pleno tabuleiro da ponte 25 de Abril, esposas que fazem tricot no carro enquanto os maridos estão no estádio, malta que lê o jornal enquanto o semáforo não abre… e que muitas vezes o deixa fechar outra vez, entretido com os horóscopos. O que importa é evitar o tédio, a todo o custo! Ora, o que é que faz um grupo de camionistas que se apanha preso em Itália por causa da paralização dos transportes de mercadorias? Em 1º lugar, bebe todas as grades de cerveja que tiver à mão. Em 2º lugar, tenta bater o record nacional de ingestão de bifanas com mostarda. Posto isto, o que sobra? Fazer uma eleição de Miss Camionista, é claro! Esta é a sucessão natural de necessidades físicas e espirituais do camionista. Como não havia muita água disponível, a ideia de Miss T-Shirt molhada caiu por terra… Tiveram de inovar e eleger a Miss Greve, num golpe criativo de génio. Assim, Ana Paula Gonçalves, camionista há cerca de 1 ano, venceu a competição. Não é qualquer uma que pode gabar-se de ser Miss Greve! Muitos anos lutou Odete Santos por esse galardão e nada! Talvez o facto de engolir dentes em directo, em debates televisivos, não ajude muito. Ainda se os palitasse… sempre ganhava um bónus. É tipo a prova de fato-de-banho lá deles, a malta dos camiões.
Hoje devia fazer anos… Manoel de Oliveira. Sim, nós sabemos que ele fez 99 esta terça-feira. E é por isso mesmo que devia comemorar mais um aniversário ao domingo. Para se tornar num centenário instantâneo e, pela primeira vez na vida, fazer alguma coisa depressa! Nos festejos de terça, o realizador deu mais uma vez provas da sua incrível lucidez, ao dizer: “não olho para os filmes que fiz”. Não há atitude mais racional que esta! Acrescentou também que tem projectos para mais 50 anos. Para já, vai realizar “O estranho caso de Angélica”, título que faz lembrar “Verónica decide morrer”, do Paulo Coelho. Esta aproximação ao universo esotérico, brasileiro e mainstream leva-nos a crer que, nos próximos 50 anos, Oliveira vai operar uma viragem na sua carreira. Entusiasmado com esta rápida passagem dos 99 para os 100, vai provavelmente dedicar-se a um género audiovisual mais veloz. As telenovelas. Rui Vilhena e Atílio Riccó que comecem a fazer as malinhas, que Oliveira vai a caminho. Pronto para fazer esquecer obras como Terra Nostra, Uga Uga ou… Deixa-me Amar. Numa época de revivalismo, com o remake de Vila Faia quase a estrear, Manoel de Oliveira, resolveu fazer versões novelescas de alguns dos seus sucessos. Em Janeiro estreia na SIC Floribelle Toujours – onde Bulle Ogier mantém monólogos com árvores e troca duas palavras por episódio com Ricardo Pereira. Na TVI poderemos ver Viagem ao Princípio do Mundo Meu, em que o algarvio Marcello Mastroianni adopta Margarida Vila Nova. Mas hoje é dia de festa, não se fala mais em trabalho. Resta dizer que invejamos o seu estatuto. Não de realizador mais velho em actividade, nem de cineasta mais premiado, mas de “única pessoa que nasceu no séc. XX mas tem direito a assinar em português arcaico”. Parabéns Manoel!
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