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Condutoras de Domingo

Elas em contramão, sempre a abrir, pelos acontecimentos da semana.

Elas em contramão, sempre a abrir, pelos acontecimentos da semana.

Condutoras de Domingo

28
Set07

Sinais de Luzes - 30 Setembro

condutoras de domingo
Máximos
Uma vez mais, José Mourinho. Que ele é “the special one” já todos sabemos. E, por isso mesmo, esperamos dele as maiores proezas. Como tornar um clube português campeão da Europa ou ensinar a Abromovich, na terra do english breakfast, que “sem ovos não se fazem omeletes”. Mas esta semana conseguiu o impensável. Ninguém podia prever que, acabado de aterrar em Portugal, lhe bastassem poucos segundos para fazer algo que ao longo de décadas ninguém sonhou possível: tornar Santana Lopes uma figura credível!
Anos e anos com a música “Menino Guerreiro” a servir de banda sonora, com lenços coloridos na cabeça, discursos inflamados, casamentos e divórcios com Cinha Jardim, capas de revista… todo o passado de Santana se eclipsou com uma entrevista de Mourinho a meio do jornal da noite, carregada de sentido. Sobre os passeios que vai dar com a família e o futebol que vai ver em casa. Bastaram estas palavras mágicas, sublinhadas pelo apelo da jornalista Ana Lourenço “vamos deixar José Mourinho descansar”, para que Santana se tornasse subitamente num herói nacional. Com todo o mérito. Afinal de contas ele estava ali com “sacrifício pessoal” e não vai passar os próximos meses de férias. Não merecia que um treinador de futebol que nem ganhou nada, além de uma indemnização, interrompesse o seu raciocínio.
E foi assim que ouvimos, da boca de Santana, palavras que durante tantos anos lhe foram dirigidas, como “o país está louco” ou a pergunta deixada no ar: “é assim que o país anda para a frente?”. Não sabemos responder-lhe, caro Pedro. Mas com certeza que Mourinho lhe dará resposta, numa próxima entrevista em que fale dos restaurantes favoritos em Setúbal ou das pantufas que prefere para andar por casa.


Médios
Para o FCPorto. Não por ter sido expulso da taça Carlsberg por um inocente Fátima que ainda mal domina a Liga Vitalis, mas por ter acordado a velhinha de oitenta anos que vive dentro de cada jornalista desportivo, ansiosa por soltar um ditado popular ou um trocadilho brilhante. E se, durante o ano se vai fazendo a festa com um Jorge Jesus em Belém ou um treinador “Cajuda”, a derrota do Porto nos penalties proporcionou um momento de iluminação colectiva. Só assim puderam ver a luz do dia manchetes como: “milagre da desaparição”, “a força da fé”, “nossa senhora!” ou “airosa aparição”, e análises rigorosas como: “no encontro de Fátima os jogadores não quiseram fazer figura de corpo presente” ou “santos da casa fizeram milagre”. Com tamanha argúcia espanta-nos apenas que estes artistas do relato eclesiástico não tenham reparado em algumas ironias. Como o facto do mártir do Porto, que jogou de nariz partido quase 90 minutos, se chamar João Paulo, ou do entrevistado na flash interview ser Espírito Santo. Andam todos tão ocupados com textos de duplo sentido, com mais expressões católicas do que a elegia fúnebre da Irmã Lúcia, que não reparam que escandaloso mesmo não é o campeão nacional perder em Fátima por dois hereges estrangeiros falharem grandes penalidades. Ridículo é ser derrotado pela equipa de Carlos Saleiro, o primeiro bebé proveta português. Isso sim, é de abater a moral de qualquer jogador. Até de Quaresma, devoto de Sara Kali, padroeira dos ciganos.


Mínimos
Para quem se lembrou de falsificar azeite. Sabemos que a falsificação de notas e moedas pode ser bastante útil para algumas transacções, que os documentos falsos estão cada vez mais em voga e dão para fazer viagens bem janotas… mas desconhecíamos ainda os fabulosos usos do azeite falsificado. Afinal de contas, o que se pode fazer com um azeite falsamente virgem? Muita coisa! Um refogado de cebola fraudulento ou um bacalhau à lagareiro ilícito, por exemplo. Os usos de azeite para fins criminosos são tantos que davam para preencher um “Doze Meses de Cozinha”, não por Maria de Lurdes Modesto mas por Moita Flores, que arranja sempre um tempinho.
Mas este esquema teve uma pequena falha, que fez passar os cabecilhas deste crime organizado a responsáveis dum crime “bastante desorganizado até”. Então dão-se ao trabalho de aldrabar 124 mil litros de azeite e não conseguem arranjar nomes melhores do que “Insular Clássico” e “Unipreço Clássico”? Era óbvio que iam ser apanhados! Num mercado em que os concorrentes se chamam Oliveira da Serra, Herdade do Esporão, Ouro d’Elvas, Cristal ou Condestável, foram escolher estas designações? Toda a gente sabe que o período clássico do azeite já está mais que ultrapassado. Pelo menos desde a implantação do azeite Gallo, a cantar desde 1919.
28
Set07

Horóscopo - Bárbara Guimarães

condutoras de domingo
Esta semana ficámos a saber coisas verdadeiramente espantosas sobre a rainha de todos os concursos e galas e programas de entretenimento em geral: falo, é claro, de Bárbara Guimarães. Ela - que não tem outro remédio se não fazer gracinhas em programas de entretenimento de gosto duvidoso mas acha que se safa como se nada fosse porque, apesar de tudo lê livros e vive rodeada de cultura e até tem um marido que sabe coisas e assim – decidiu desvendar um pouco da sua intimidade, para espanto dos demais simples espectadores. Com a mesma ligeireza com que fala com as pais e filhos que tocam adufe e cantam Céline Dión, Bárbara desenrolou o novelo sobre a sua própria família e fez as mais extraordinárias confissões. O Carrilho costuma limpar o pó lá em casa. Não, não, caros ouvintes. Esta família Superstar não tem empregada. Quem limpa o pó lá em casa o que, pelos vistos, dá imenso jeito... é o Carrilho. Não se está nada a vê-lo a limpar o pó! Mas está ela, porque lhe dá imenso jeito... é o que Bárbara diz, na conceituada revista de comportamento social TV Guia.
Com tais revelações providenciais, não tivemos outro remédio se não consultar a nossa astróloga residente sobre o assunto. Vamos ver o que tem a dizer...
Os períodos de sol da passada semana facilitaram a consulta dos astros e hoje o horóscopo é triplo. A família Superstar, composta por Manuel Maria Carrilho, Bárbara Guimarães e Dinis Maria, tem-se movimentado sob a influência de uma combinação de cartas de Tarot nunca antes verificada. Por um lado, a apresentadora da SIC deixou-se dominar pela carta «A Estrela». As citações de Bárbara multiplicam-se em busca da harmonia espiritual: na passada semana, foi Milan Kundera o escritor escolhido. A frase é inspiradora: «No mundo mediático de hoje, a imagem que os outros têm de nós é sempre o maior mistério». Felizmente, o alinhamento favorável dos astros tem poder para suplantar a força da carta «A Estrela» e será possível que a apresentadora, ao longo do próximo milénio, supere a crise de identidade que a divide em duas personalidades fascinantes: a apresentadora que lê livros e a folheadora de romances em busca da via mística capaz de investigar as heranças geneticamente medíocres da Nação. Esta cisão da mente terá consequências no campo profissional.
Por outro lado, Manuel Maria Carrilho enfrenta e enfrentará, nos próximos tempos, o maior de todos os desafios: conciliar os artigos de reflexão sobre a política portuguesa com a limpeza do pó do lar de família. «A Morte», uma das cartas de Tarot mais injustamente temidas, é alvo de uma improvável conjugação: é-lhe incorporado o apêndice “do artista”. Ou seja, Carrilho deve estar alerta com «A Morte do Artista». Durante estes dias, nota-se uma certa dispersão e a necessidade premente de ser um homem em várias frentes. Os astros avisam que nem todos podem ser infinitos e, por isso, há que optar por uma das seguintes armas: ou o espanador do pó, ou a palavra escrita, ou os cremes de drenagem linfática para manter a sua cara-metade livre de celulite.
Já Dinis Maria vive um período marcado pela forte influência da carta «A Temperança», apesar de uma certa tendência para um ritmo de vida intenso. Dinis, para, na senda de Bárbara Guimarães, citar Aristóteles, é «aquela cumeada entre os dois abismos opostos da intemperança e da insensibilidade».
A mensagem final para a Família Superstar está contida, muito a propósito, na página solta ocupada pelo texto «Viver Outras Vidas», de Carlos Bessa, um jovem poeta português: «É extraordinário que duas pessoas/ como nós, cuja vida decorre entre as divisões/ de um paralelepípedo, se divirtam/ tanto com esses objectos que acumulam pó,/ ocupam espaço e exigem tempo (...). Melhor seria andar por aí, sem rumo/ (...) apenas para que/ as horas fossem como o mel ao cair, fio/ suave e dourado que nos levaria até/ à cama para um sono tranquilo. Mas não./ Deu-nos para (...) procurarmos/ um canto (...) e aí dar/ início à pior das companhias».
28
Set07

Isto Serve Para Quê? - Toca a Ganhar

condutoras de domingo
Um dos escândalos da semana foi o facto da apresentadora do “Toca a Ganhar” ter dito um palavrão em directo. Quer dizer, o grande escândalo foi a apresentadora do “Toca a Ganhar” ter dito um palavrão em directo... e alguém ter ouvido. Custa a crer que alguém consiga ver o programa mais do que 25 segundos, sem que fique com lesões cerebrais graves e irreversíveis.
De qualquer forma, até devíamos estar todos contentes por ter saído um palavrão a meio do discurso. Se tivermos em conta o nível de eloquência dos apresentadoras deste programa, um palavrão até revela alguma elevação literária.
Andreia Rodrigues, moça vedeta do “Toca a Ganhar”, foi chamada a justificar a gravíssima atitude. Ela garante não se ter apercebido de nada. Nas suas palavras: “sei que estava no camarim, chamaram-me e fui a correr. Bati em alguma coisa e magoei-me numa perna. Poderá ter saído…” Lá está, o álibi típico de todo e qualquer culpado que tenta, em desespero, ser considerado inimputável: amnsésia súbita, não se lembram de nada. Ou isso ou aquela desculpa do “ia só defender o Quaresma”.
Mas tanta celeuma afasta-nos da questão principal. O que é grave não é o vernáculo usado por uma modelo que degenerou em telefonista, contrariando o previsível destino de actriz de novela, nem tão pouco o pleonasmo gigante com que nos brinda a sua colega de profissão, Liliana, que por sua vez, passou ao lado duma carreira brilhante de ex-concorrente do Big Brother e carjacker.
A gravidade está no facto de haver um directo pela madrugada dentro em que estas senhoras se dedicam apenas e só a “encher chouriços”. E com muito pouca arte. Digamos que, na área dos enchidos, não seriam certamente chouriços de Portalegre.
A pergunta que lanço é: para quê? Quem é que a essa hora precisa de entretém? (se é que pensar obsessivamente em apelidos com S, quando Salema e Silva já saíram, pode ser considerado diversão). Já existem há anos serviços para entreter pessoas a essa hora, e também envolvem telefones. Consta que nunca tiveram razão de queixa. Para quê alargar o leque de oferta?
É preciso denunciar a culpada de tudo isto. Duas palavras apenas: Iva Pamela, ah pois é. Eu sei que hoje em dia dá pelo nome de Iva Domingues e tenta ocultar o seu passado, mas não conte comigo para esquecer! Foi ela a pioneira dum inocente “Quem quer ganha” às cinco da tarde, ateando fogo a uma nação sedenta de euros em troco de grandes descobertas; como: “qual o país da princesa Diana?”. Ajudadas, claro, por pequenas pistas: “começa em I e acaba em Terra.”
Rapidamente as cinco madrugadas da TVI passaram a sete, para que ninguém se sinta sozinho ao fim-de-semana, e a epidemia propagou-se à estação do lado, que foi a correr buscar um Quimbé (não é uma espécie exótica, é mesmo uma pessoa) e umas amigas para fazer um programa com o mesmo interesse e elevação. Agora, todos os buracos na grelha são ocupados por este call center gigante e quase tão monocórdico como o toque de chamada em espera da EDP. Basta ver Fernando Rocha com chapéu de mexicano a atender telefonemas antes do telejornal para temer que o próprio noticiário passe, muito em breve, a ser feito por espectadores que ligam para tentar adivinhar quantos objectos vai a ASAE apreender na próxima reportagem.
28
Set07

O que é Nacional é Bonzinho

condutoras de domingo
Esta semana andou a circular pela Internet um mail que divulgava um filme sobre o Tróia Resort, o mega-investimento da Sonae-Turismo na Península de Tróia.
Dizia o dito mail que Belmiro de Azevedo não brinca em serviço. E isto porque o filme publicitário sobre o futuro eco-resort da Sonae anda a correr o mundo, mas um mundo que não inclui Portugal.
Que Belmiro de Azevedo não brinca em serviço, já toda a gente sabe, incluindo os portugueses; só não se sabia era que Belmiro tinha tanta consideração pelos cidadãos nacionais. As razões são várias, mas vamos concentrar-nos nas mais óbvias, naquelas que qualquer pessoa, mesmo a mais desatenta, consegue identificar com o simples visionamento deste filme que me chegou por mail e cujo conteúdo é novidade para a maior parte dos portugueses:
Em primeiro lugar, o filme obriga a um esforço de imobilidade e concentração enorme. Quem o vê tem que ficar mais de 10 minutos atento, focando imagens idílicas. Como é evidente, a personalidade psicossocial de um português não lhe permite isso. Em qualquer português, esconde-se um homem (ou uma mulher) de acção e, por isso, períodos superiores a 5 minutos só podem ser empregues em actividades que envolvam movimento. É o caso, por exemplo, de uma longa permanência num sofá durante a transmissão de um jogo de futebol. Nesta situação, podem ver-se, de facto, por períodos superiores a 10 minutos, 22 homens em movimento. Outro caso paradigmático é o passeio de Domingo pelo shopping. Nestas andanças, um português cruza-se com outros, interage, mesmo quando fica parado durante cerca de 15, 20 minutos, vá lá, uma boa meia-hora, em frente de uma montra. Até quem considera que os portugueses são sonhadores, consegue ver no nosso povo um aglomerado de 10 milhões de sonhadores activos, gente que anseia ardentemente, durante 90 minutos, que uma bola entre numa baliza ou que se passeia pelas montras, suspirando por uma boa carteira Prada. Ao contrário de imagens idílicas da Península de Tróia que nos induzem em erro por nos fazerem pensar que aquele pedaço de Portugal até podia ser nas Caraíbas, estes, sim, são bons alimentos da imaginação e do sonho.
Em segundo lugar, as imagens idílicas que compõem este filme – golfinhos a nadar, golfistas a acertar nos buracos, senhoras a espalhar cremes bronzeadores, espécies de aves raras a voar, o mar a bater na areia, casas com piscinas a acabar no oceano, e por aí fora – todas estas imagens são acompanhadas por frases sonantes que prometem «um paraíso intocável e secreto». Ora, os portugueses não são parvos e vivem em Portugal. Facilmente vão até Tróia e encontram lá tudo menos o paraíso. Ou seja, nem as imagens nem as frases do filme correspondem ao que existe em Tróia no presente. E os portugueses são gente com sentido prático e realista. Isso de comprar antes de ver é coisa para gente que não tem os pés bem assentes na terra. E isto leva-me a crer que nenhum dos lotes de mais de um milhão de euros que esgotaram logo no primeiro dia em que foram postos à venda foi comprado por um precavido e sabido português.
O seguinte remate será suficiente para aferirmos da boa estima em que nos tem Belmiro de Azevedo e toda a equipa da Sonae Turismo: o filme que circula na Internet é falado em inglês, não tem legendas e a música de fundo embala-nos sem, no entanto, nos adormecer. Na verdade, Belmiro de Azevedo é como qualquer bom português: profundamente humano e sensível e, no entanto, forte e determinado. Um homem que evita os conflitos e crê, como nenhum outro povo, nos milagres. Na Sonae Turismo, consideram-se as antinomias profundas do povo português, o desprezo que temos pelo utilitarismo e pelo conforto. Realmente, aquele vídeo não é para nós. Obrigada, Sr. Belmiro.
 
 
28
Set07

Choque Frontal - Santana Lopes

condutoras de domingo
Um dos acontecimentos mais marcantes da semana que passou foi protagonizado por Santana Lopes. Ele que andava arredado há já um tempo das lides do escândalo e da polémica, fez um cameback extraordinário, digno dos seus melhores tempos.
Um assunto que merece análise atenta no Choque Frontal desta semana.
Tragam a banda e os foguetes. Santana Lopes está de volta e na sua melhor forma!


Quando nada o fazia suspeitar - até porque desta vez, Marques Mendes e Luís Filipe Menezes ficaram, literalmente, com as cotas todas no que diz respeito a broncas e coisas parvas -, Santana, o Lopes, voltou para matar as nossas saudades.
Por causa de toda a polémica que se gerou em torno das eleições no PSD, Santana Lopes foi convidado a dizer de sua justiça na edição da noite da Sic Notícias. A entrevista até estava a correr bem. Santana estava eloquente e, embora seja difícil de acreditar, era naquele momento a única voz sensata e, vá lá, inteligente, entre os social-democratas do país.
Mas, eis senão quando... as senhoras jornalistas decidem interromper a entrevista para anunciar a chegada de mais um Boeing 747 ao aeroporto da Portela. Vinha aí o José Mourinho, motivo mais do que suficiente para interromper a conversa a um tipo que estava para ali a falar de coisas chatas de politica e mais não sei quê...
Só que o tipo... não gostou. Não se faz, é maldade.
A SIC alegou critérios editoriais para justificar a interrupção da entrevista. Afinal, a chegada de um ex-treinador muito rico é um acontecimento muito importante.
Muito importante!? De facto, não se percebem os critérios da SIC. O regresso de José Mourinho a Portugal até pode ser uma coisa do caraças, mas querem acontecimento mais extraordinário do que apanhar Santana Lopes a dizer coisas espertas e que fazem realmente sentido?
Qualquer outro jornalista saberia ver que a verdadeira notícia não estava no aeroporto da Portela, mas ali mesmo, em estúdio, à frente dos olhos: Santana Lopes, sem fitas no cabelo, sem cabelinho à pintas de boite, sem bocas a bebés em incubadoras... a ser coerente, inteligente, o único a fazer sentido no meio da trapalhada toda do PSD.
É natural que o homem tenha ficado aborrecido quando lhe cortaram o pio. Quer dizer, fazem aquele alarido todo por causa de um tipo que vem dizer que não dá entrevistas e quer é descansar e, ao Santana, que esteve este tempo todo a descansar, quando, finalmente, vai dar uma boa entrevista... não tem direito a nada!!!
Ainda se tivessem interrompido a conversa para ouvir o José Mourinho dizer que, na verdade, estava a chegar àquela hora porque queria ver se ainda dava para investir o dinheiro da indemnização no pagamento de cotas por atacado de uns quantos militantes do PSD... Não, a emissão foi interrompida para que se pudesse perguntar a José Mourinho se este iria jogar no Euromilhões, que é mesmo a pergunta mais esperta para se fazer a um tipo que acaba de ganhar 20 e tal ziliões de euros!!
Um homem não é de ferro! Santana Lopes só tinha mesmo que se ir embora.
E foi uma atitude que bate bastante certo. Para um homem que saiu da câmara a meio, da presidência do PSD a meio e, embora obrigado, do governo a meio... é natura que também saia de uma entrevista a meio.
E acreditem... se Santana Lopes diz que não há condições para haver eleições, ele que foi eleito sem precisar delas... é porque ele, realmente, lá sabe.
 
28
Set07

Está a Falar de Quê? - Ricardo Azevedo

condutoras de domingo
Hoje não nos vamos ficar por aqui no que toca a “está a falar de quê?”. Vamos dar um passo mais em frente e passar para o patamar do “está a cantar o quê?”, tudo isto por causa de um “fenómeno” que agora começa a despontar no mercado musical português, muito à conta de Ricardo Azevedo. Ele fez um 3 em 1: lançou o seu primeiro álbum a solo, lançou um crédito habitação do Millenium e ainda inaugurou um novo estilo musical: o pop imobiliário, que se insere numa corrente de fusão denominada “bank hall”, por onde já passaram vultos da música portuguesa como Sara Tavares ou fantasmas como Pedro Abrunhosa.


Com o single de estreia, “Pequeno T2”, Ricardo brinda-nos com uma visão singular do universo. Deixa de lado temas muitíssimo batidos como o amor, as paixões avassaladoras ou a paz mundial, e vai directo aos valores que realmente interessam: os do spread e do imposto municipal sobre imóveis.
A música começa com um terrível pesadelo de Ricardo: sonhou que o mundo estava a acabar… o que o fez lamentar-se por tudo o que não fez e pensar em tudo o que fica por fazer. Perante este cenário apocalíptico, chega rapidamente a uma solução: “apenas tenho de virar a minha vida de pernas para o ar e procurar uma casa para eu morar”.
Parece-me lógico. Se o mundo vai acabar, o primeiro passo é virar tudo ao contrário e o segundo é celebrar um contrato promessa compra e venda dum apartamento.
Enquanto lá fora santos são arrebatados, mortos ressuscitam e Deus decide se há ou não de voltar, o que importa mesmo é estar confortável num apartamento, de preferência num lugar central e com bons acessos. E se tiver lareira tanto melhor! O cantor já pensou em tudo: “um pequeno T2, onde podemos viver os dois, com vista para o mar e um jardim”.
Nota-se que é um rapaz preocupado, e nota-se que escreve a música na fila do Centro de Emprego do Conde Redondo: “só me falta arranjar um emprego para poder estar contigo. Só contigo. Vou tentar encontrar”.
É, no mínimo, comovente, que o cantor não queira deixar esta vida na posse de dois estatutos pouco prestigiantes: o de desempregado e o de solteiro.
Aqui fica o conselho das condutoras de domingo: Ricardo, a coisa com os Ez Special não correu por aí além, tentaram o segmento dos telemóveis e foi o que foi. Hoje em dia ninguém sabe se i9 3g foi um produto da TMN ou um electrodoméstico.. Esta bela canção adivinha-se que desça nos tops tão depressa como as próprias acções do BCP, mas nem tudo está perdido: ninguém no mundo vende mais imóveis do que a Remax, junta-te a eles! Sentimos que tens potencial, para a próxima basta juntares uns dados sobre acabamentos e aquecimento central e é sucesso garantido.
28
Set07

Está a Falar de Quê? - George W. Bush

condutoras de domingo
Numa semana tão fértil em bonitas tiradas de políticos, não é o manda-chuva iraniano quem leva a taça. Como vamos descobrir a seguir...


George W. Bush continua a ser o rei do soundbite com uma supremacia invejável. Esta semana conseguiu com uma única frase matar um prémio Nobel da Paz. Assim mesmo, sem espinhas:
“Ouvi alguém perguntar: ‘Onde está Mandela?’ Bem, Mandela está morto porque Saddam Hussein matou todos os Mandelas”.
E pumba, já está. Mandela ao tapete. O líder sul africano aguentou o apartheid, a prisão e toda a reconstrução de um país mantendo-se vivinho da silva, mas não sobrevive a um discurso na Casa Branca.
Responsáveis de Washingston, já muito habituados em pegar no baldinho e na esfregona e ir limpar a porcaria que Bush faz, vieram logo elucidar que tudo não passava de uma metáfora. Quando Bush disse “Mandelas”, referia-se a todos os lutadores pela liberdade que tinham sido aniquilados no Iraque. Mas a nós ninguém nos tira da ideia que Bush não está sequer a falar do político sul-africano… mas sim a referir-se convictamente a uma etnia: os Mandelas. Um povo que lá na ideia vive para lá naquela terra onde eles anda a combater. Pois que lá no Iraque há xiitas, sunitas… e Mandelas. E o Saddam fez dói-dói a todos. Porque era um mauzão. Mas há dúvidas?
28
Set07

Presidente do Irão

condutoras de domingo
A semana que passou foi, sem dúvida, rica em acontecimentos extraordinários e, sobretudo, em declarações bombásticas.
E “bombástico” é mesmo o melhor termo para usar, quando se fala do presidente do Irão, autor da melhor tirada dos últimos tempos.
Mahmoud Ahmadinejad foi à Universidade da Columbia dizer das suas perante uma plateia de gente curiosa e com vontade o fazer passar um mau bocado. Mas se pensam que ele chocou a plateia com bocas, tipo: “estamos bem ralados se vocês não querem que a gente tenha armas nucleares! Pff!” ou “presidentes americanos comemos nós todos os dias ao pequeno almoço, pá!”, enganem-se! Isso é material antigo. Ele agora está a trabalhar com todo um novo repertório. A bomba que ele largou foi digna de um mestre com muitos anos de experiência nisto. Ora oiçam:  “No Irão não existem homossexuais”. No Irão não temos esse fenómeno”.


E foi assim que Mahmoud Ahmadinejad transformou uma conferencia séria num espectáculo de stand-up.
Não há cá rapazolas que só vão às compras ao Chiado, não há cá homens que não perdem um “Sexo e a Cidade”, não há fãs do “Querido, mudei a Casa” de bigode e toalha na cabeça!!!
Nós sabemos que fica sempre bem incluir umas piadas num discurso sério... serve para desanuviar. Mas, também, não era preciso tanto. Até no “Sempre em Pé” havia noção de critério e limites. 
Há que salientar, em abono da capacidade cómica do presidente, a escolha da terminologia: “fenómeno”. Mais um pouco, e dizia: “avistamentos” ou “curiosidades” ou “isto aqui não é o Entroncamento, pá!”.
Curiosa é também a reacção do público, que se comporta, realmente, como se estivesse a assistir a um espectáculo de stand up: primeiro ri, depois aplaude e, só um tempo depois é que desata a assobiar – quando percebe que a piada é má.
Fica-se mesmo à espera que a seguir o presidente diga: Agora, a sério, malta... não há aqui ninguém de Kermanshah???
Mas, sabes, o que tem realmente graça é que o presidente iraniano é capaz de ter razão. Não há homossexuais lá na terra dele. E não sou eu que digo, está nos jornais! O estado iraniano financia operações de mudança de sexo. Portanto, eles limitam-se a agarrar no pessoal gay e transformá-lo em mulheres – ou homens, conforme o caso – e, assim, já não conta. Não é uma ideia tão simples?! Ou então, tem que ver com outra notícia de jornal. No Irão, mariquices e coisas modernas dos ocidentais dão direito a pena de morte. E eles lá costumam ser muito profissionais e rigorosos nestas questões.
28
Set07

Condução Defensiva - Trasladações

condutoras de domingo
Esta semana, o país – e as televisões! - acordou para um fenómeno ainda por descobrir: o espectáculo das transladações.
Foi tão bonito ver a transmissão em directo, com comentários de especialistas em transporte de senhores antigos que já faleceram há muito. E foi ainda mais bonito ouvir o povo, que já não se manifestava numa cerimónia desta desde a morte da Amália, dizer que fazia muita questão de estar ali para acompanhar a transladação para o panteão daquele “senhor escritor”, “desse que fez uns livros”, “do coiso”.
Há um conto de Aquilino Ribeiro em que uma personagem, às tantas, pergunta «Que diabo vimos para aqui fazer?». O conto chama-se «A pele do bombo» e faz parte da obra Jardim das Tormentas, publicada em 1913. Foi a estreia literária de Aquilino.
94 anos depois, Aquilino estreia-se noutras andanças, não por vontade própria, mas por iniciativa institucional: os restos mortais do escritor foram esta semana trasladados para o Panteão Nacional, o lugar para onde vão “continuar a morrer” os portugueses supostamente ilustres. Alguns deles, se ainda pudessem falar, quase de certeza que teriam vontade de repetir a pergunta do conto de Aquilino. É que isto das homenagens tem sobretudo a ver com a memória ou, melhor, com a tentativa de evitar o esquecimento. Por isso, Almeida Garrett, Guerra Junqueiro e agora Aquilino teriam toda a razão em perguntar «Que diabo vimos para aqui fazer?», que é como quem diz, «Que diabo! Vocês sabem quem nós somos?»
Muita gente não deve saber; e essas pessoas perderam uma infância cheia de histórias partilhadas com a raposa Salta Pocinhas. Provavelmente porque estavam ocupadas a ler a Cartilha Maternal, de João de Deus, um dos poetas de quem os restos mortais de Aquilino são agora vizinhos.
Em 1895, um ano antes da morte de João de Deus, um jornal nacional homenageava assim este poeta: «João de Deus é como a flor do campo, que rebenta formosa sem cultivo, velada apenas pela graça de Deus, o jardineiro supremo. As suas poesias são verdadeiras flores do campo, mas das mimosas, das encantadoras na sua singeleza, das que, guardadas num álbum, conservam perfeitamente a delicadeza da forma, o colorido transparente da corola, o aveludado do cálice, a disposição encantadora das pétalas.» Ora isto faz-me pensar que João de Deus não é a companhia ideal para os restos mortais de ninguém, muito menos para os de um mestre da língua portuguesa. Bem sei que o universo literário de Aquilino Ribeiro é muito marcado pela Natureza e por um forte apego à terra, mas nunca por frases à João de Deus, como «a vida é o dia de hoje» ou «a vida é ai que mal soa». Em suma, Aquilino foi um homem com critério – e critério é coisa que me parece que falta dentro do Panteão. Valha-nos o facto de Garrett e Guerra Junqueiro também lá estarem.
Polémicas à parte, talvez o mais importante desta trasladação seja andar agora toda a gente a falar de Aquilino Ribeiro, a lembrar que ele escreveu livros como Quando os lobos uivam ou Casa do Escorpião. Porque, no meio do ruído, pode ser que alguma «alminha do Senhor» se ponha ao volante de um automóvel em direcção a uma livraria para comprar A Casa Grande de Romarigães ou O Malhadinhas, dois dos romances de Aquilino que agora a Bertrand reedita com ilustrações de João Abel Manta. E, mais, que vá mesmo para casa ler o livro de Aquilino e fique tão contente com isso que depois lhe vá uma flor ao Panteão. Parece que só Amália é que as recebe. Não acho justo. Aquilino merece todas as flores, sobretudo agora que lhe puseram os restos mortais perto dos de Carmona.
A transladação de Aquilino Ribeiro acendeu a polémica dos critérios de escolha de quem tem direito a ficar no Panteão Nacional.
Houve quem defendesse Aquilino por toda a obra e influência política no país, houve quem o condenasse por ter sido um regicida e pessoa com mau feitio.
Para que não haja mais discussões e, sobretudo, mais debates na televisão sobre o assunto, as Condutoras de Domingo propõem que a partir de agora se decide quem vai para o Panteão através de votação por SMS.
Afinal, se deixaram o pessoal escolher quem era o melhor português de sempre – e até saiu a um morto – não vemos porque é que não se há-de fazer uma votação para ver quem merece ir parar ao Panteão: um político barbudo com nome de rua ou um miúdo que se espatifou todo e fazia parte dos Morangos com Açúcar? A escolha é sua!
28
Set07

Estação de Serviço - Miniaturas

condutoras de domingo
Hoje vamos abastecer a outro planeta, literalmente. O planeta Agostini. Aprende-se muito por aqui. Sobretudo quando descemos ao pormenor, que é como quem diz ao … miniaturismo! Carrinhas de distribuição, queridos carros dos anos 80, biplanos míticos… há todo um mundo em pequena escala a circular nas papelarias.
Um dos passatempos anunciados como tendo “grande tradição” é a construção de casas de praia em miniatura. Fiquei a saber que podemos recriar verdadeiros ambientes de estilo rústico numa região à beira mar. Só não vejo como é que isso será possível num T2 na Amadora, tendo em conta que a dita cuja praia ainda não vem nos fascículos. Mas em compensação vem uma pré-instalaçao eléctrica em todas as divisões. Faz sentido. Não fosse haver algum apagão e ainda ficávamos sem poder secar o cabelo ou ver televisão nesta fabulosa casa de férias, que pode ser nossa pela módica quantia de 375 euros, suavemente distribuídos em 100 fascículos. E que promete manter-se mais limpa e arrumada que o nosso time sharing no Algarve. Quanto mais não seja porque não cabemos lá dentro.
Outro conjunto que me fascina é o de damas de época. Sobretudo porque promete que o coleccionador “irá ver como um objecto frágil e delicado na sua origem se torna um elemento de grande satisfação para todos”. Nem quero imaginar que utilização propõem eles para estas bonecas de porcelana. Quero acreditar que o único uso de uma micro Madame Bovary é estar pousada em cima do naperon da televisao.
A profusão de colecções à venda leva-me a crer que não só há quem as faça, como deve mesmo haver quem acumule várias. Existem com certeza cidadãos portugueses que podem gabar-se de alojar uma Ana Karenina de 3 centímetros na sua casinha de praia, que é habitualmente sobrevoada por um biplano mítico transportando uma minúscula dama das camélias. Isto enquanto cá em baixo se passeiam saudosas carrinhas de distribuição da Danone e da Matutano, que tantas recordações lhes trazem. Aposto que estes mesmos indivíduos se assustam quando saem à rua. Com a descomunal dimensão das pessoas à escala real!
Meus amigos, não quero lançar falsos alarmes, mas já repararam que nunca há descrições nem imagens dos últimos números das colecções? O mais provável é que nunca ninguém tenha chegado lá. Eu falo por mim, que nunca passei do 12º volume do “Era Uma Vez o Corpo Humano”. Fiquei naquele fascículo do rosto e mandíbulas.

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