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Set07
Sinais de Luzes - 30 Setembro
condutoras de domingo
Máximos
Uma vez mais, José Mourinho. Que ele é “the special one” já todos sabemos. E, por isso mesmo, esperamos dele as maiores proezas. Como tornar um clube português campeão da Europa ou ensinar a Abromovich, na terra do english breakfast, que “sem ovos não se fazem omeletes”. Mas esta semana conseguiu o impensável. Ninguém podia prever que, acabado de aterrar em Portugal, lhe bastassem poucos segundos para fazer algo que ao longo de décadas ninguém sonhou possível: tornar Santana Lopes uma figura credível!
Anos e anos com a música “Menino Guerreiro” a servir de banda sonora, com lenços coloridos na cabeça, discursos inflamados, casamentos e divórcios com Cinha Jardim, capas de revista… todo o passado de Santana se eclipsou com uma entrevista de Mourinho a meio do jornal da noite, carregada de sentido. Sobre os passeios que vai dar com a família e o futebol que vai ver em casa. Bastaram estas palavras mágicas, sublinhadas pelo apelo da jornalista Ana Lourenço “vamos deixar José Mourinho descansar”, para que Santana se tornasse subitamente num herói nacional. Com todo o mérito. Afinal de contas ele estava ali com “sacrifício pessoal” e não vai passar os próximos meses de férias. Não merecia que um treinador de futebol que nem ganhou nada, além de uma indemnização, interrompesse o seu raciocínio.
E foi assim que ouvimos, da boca de Santana, palavras que durante tantos anos lhe foram dirigidas, como “o país está louco” ou a pergunta deixada no ar: “é assim que o país anda para a frente?”. Não sabemos responder-lhe, caro Pedro. Mas com certeza que Mourinho lhe dará resposta, numa próxima entrevista em que fale dos restaurantes favoritos em Setúbal ou das pantufas que prefere para andar por casa.
Médios
Para o FCPorto. Não por ter sido expulso da taça Carlsberg por um inocente Fátima que ainda mal domina a Liga Vitalis, mas por ter acordado a velhinha de oitenta anos que vive dentro de cada jornalista desportivo, ansiosa por soltar um ditado popular ou um trocadilho brilhante. E se, durante o ano se vai fazendo a festa com um Jorge Jesus em Belém ou um treinador “Cajuda”, a derrota do Porto nos penalties proporcionou um momento de iluminação colectiva. Só assim puderam ver a luz do dia manchetes como: “milagre da desaparição”, “a força da fé”, “nossa senhora!” ou “airosa aparição”, e análises rigorosas como: “no encontro de Fátima os jogadores não quiseram fazer figura de corpo presente” ou “santos da casa fizeram milagre”. Com tamanha argúcia espanta-nos apenas que estes artistas do relato eclesiástico não tenham reparado em algumas ironias. Como o facto do mártir do Porto, que jogou de nariz partido quase 90 minutos, se chamar João Paulo, ou do entrevistado na flash interview ser Espírito Santo. Andam todos tão ocupados com textos de duplo sentido, com mais expressões católicas do que a elegia fúnebre da Irmã Lúcia, que não reparam que escandaloso mesmo não é o campeão nacional perder em Fátima por dois hereges estrangeiros falharem grandes penalidades. Ridículo é ser derrotado pela equipa de Carlos Saleiro, o primeiro bebé proveta português. Isso sim, é de abater a moral de qualquer jogador. Até de Quaresma, devoto de Sara Kali, padroeira dos ciganos.
Mínimos
Para quem se lembrou de falsificar azeite. Sabemos que a falsificação de notas e moedas pode ser bastante útil para algumas transacções, que os documentos falsos estão cada vez mais em voga e dão para fazer viagens bem janotas… mas desconhecíamos ainda os fabulosos usos do azeite falsificado. Afinal de contas, o que se pode fazer com um azeite falsamente virgem? Muita coisa! Um refogado de cebola fraudulento ou um bacalhau à lagareiro ilícito, por exemplo. Os usos de azeite para fins criminosos são tantos que davam para preencher um “Doze Meses de Cozinha”, não por Maria de Lurdes Modesto mas por Moita Flores, que arranja sempre um tempinho.
Mas este esquema teve uma pequena falha, que fez passar os cabecilhas deste crime organizado a responsáveis dum crime “bastante desorganizado até”. Então dão-se ao trabalho de aldrabar 124 mil litros de azeite e não conseguem arranjar nomes melhores do que “Insular Clássico” e “Unipreço Clássico”? Era óbvio que iam ser apanhados! Num mercado em que os concorrentes se chamam Oliveira da Serra, Herdade do Esporão, Ouro d’Elvas, Cristal ou Condestável, foram escolher estas designações? Toda a gente sabe que o período clássico do azeite já está mais que ultrapassado. Pelo menos desde a implantação do azeite Gallo, a cantar desde 1919.