28
Out07
O que é Nacional é Bonzinho - José Rodrigues dos Santos
condutoras de domingo
Tomás Noronha foi contactado pela Interpol. Quem sabe disto, é natural que já não me esteja a ouvir; quem não sabe, deixe-se ficar por aí que eu conto tudo. Tomás Noronha é personagem de ficção e, ao que parece, reincidente. O homem anda sem descanso, a saltar de romance em romance, porque o seu inventor – numa palavra, o seu Gepetto – não consegue ficar sossegadinho. Falo, claro, de José Rodrigues dos Santos. «O Sétimo Selo» é o seu novo livro; o quinto romance em (adivinhem) 5 anos. É que há sempre trama ficcional na manga de Rodrigues dos Santos. Sobretudo se ligada a algum mistério insondável da Humanidade. Por isso, o pobre Tomás Noronha, que já andou atrás de uma fórmula de Einstein para provar que Deus existiu, que já andou atrás de uma cifra indecifrável para descobrir a identidade de Colombo, não só está exausto, como foi agora metido num thriller apocalíptico que envolve um cientista assassinado na Antárctida, uma nova mensagem obscura (que, para apimentar a coisa e manter as vendas, tem o número da Besta) e, ainda, o problema das alterações climáticas e do esgotamento dos combustíveis fósseis. Isto explica por que razão Rodrigues dos Santos precisou de 500 páginas e demonstra ainda uma clara viragem na sua obra. O jornalista fez um movimento de rotação para o futuro, exactamente no momento em que o passado deixou de estar na ordem do dia, que é como quem diz, de interessar no presente, lançando-se na dimensão nunca explorada da futurologia-já-anunciada. Disso e das preocupações ambientais, coisa que este ano até já justificou um Nobel. Tudo porque o jornalista, qual Al Gore à portuguesa, assumiu a missão de «abrir os olhos das pessoas para os gigantescos problemas que nos esperam, como o aquecimento global e o fim do petróleo». E deixa a pergunta: «Como vai ser daqui a dez anos?» Eu não sei nada do futuro, mas, se ainda cá andarmos, dá-me ideia que vamos ter mais 10 romances de José Rodrigues dos Santos, cinco deles ainda sobre os chamados temas ecológicos e os restantes passados num Portugal já desertificado, onde o milagre de Fátima será revisto à luz de um chip encontrado num dente de humanóide. Isso ou, se tudo correr bem, vamos estar como o Álvaro de Campos desejou: a tornar-nos passentos aos perfumes de óleos e calores de carvões desta flora estupenda, negra, artificial e insaciável. Seria a tão ansiada libertação de Tomás Noronha.