Saramago
Quem estranhamente não teve direito a prémio nos Globos de Ouro foi Saramago. Mas, em compensação, esteve presente noutro Festival. Se em terra de cegos que tem um olho é rei, em Cannes quem tem um filme sobre cegos, é... uma estrela! Assim mesmo! O filme Blindness, uma adaptação para cinema do livro Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago, abriu a competição deste ano pelo prestigiado troféu da Palma de Ouro. O filme, do realizador Fernando Meirelles, tem a difícil tarefa de transpor para a tela o universo apocalíptico do livro, em que uma comunidade é atingida, de forma súbita e inexplicável, por uma cegueira. Faz lembrar a história do PSD, é verdade. Mas faz lembrar também o filme Branca de Neve, onde João César Monteiro tinha tentado mais ou menos a mesma coisa. Mas enquanto a cegueira que atinge as personagens do livro de Saramago é branca, a de João César Monteiro era negra, só atingia o espectador, demorava cerca de 75 minutos e mais... servia-lhe de emenda! Ao que parece, o realizador brasileiro, autor de «A Cidade de Deus», fez várias versões diferentes de Blindness, para tentar chegar ao melhor resultado. Agora se o argumento é português e fala sobre cegueira, o filme merecia umas filmagenzinhas em Cuba de uns velhinhos a serem operados às cataratas.