Estação de Serviço - CTT
Ainda estou a tentar recompor-me. Falhei redondamente a hipótese de ser estrela no 24 Horas. E é coisa que só acontece uma vez na vida. Podia ter sido eu a alertar o mundo para as respostas atrasadas do Pai Natal. Mas não. Resolvi sofrer em silêncio, e ainda ganhei uma grave crise familiar. Uma pessoa já lida bem com as contas e multas que recebe pelo correio. O que não é fácil é receber uma carta azul-bebé cheia de bonecos e borboletas, dirigida aos “papás” da Joana. E ler o seguinte: “foi no âmbito da acção do Pai Natal dos CTT que ficámos a conhecer a Joana, e graças ao questionário que os senhores gentilmente preencheram na altura, algumas duas suas preferências”. Tive de confrontar os meus pais com estas afirmações, e eles juram a pés juntos que nunca forneceram informações minhas aos CTT. À polícia já, aos Correios nunca. Felizmente. Mas isto é pior que o SIS. Como se não bastasse o carteiro saber a que horas eu saio de casa, agora sabe o meu historial de prendas pedidas ao Pai Natal desde 1986. E melhor, pedem que responda a um questionário para receber, na volta do correio, uma oferta que fará as minhas delícias. Imagino, deve ser uma roca. Pena é que, tendo em conta o delay das entregas, só vá recebê-la quando tiver 38 anos. As perguntas são fáceis. Brinquedo preferido, cantor preferido, personagens preferidas. Até me admiro que não perguntem quem é a nossa melhor amiga e se preferimos douradinhos ou puré. De qualquer forma aposto que vou ser a primeira a incluir Mariano Gago e o Barbas nas personagens preferidas, e introduzir os Foo Fighters no ramo da música infantil, logo a seguir aos DZRT. Fiquei de tal forma fascinada com o marketing dos CTT que aproveitei a nossa paragem para vir a uma estação dos Correios. E além de me poder abastecer de literatura de auto-ajuda para os próximos 10 anos, e daqueles livrinhos que dizem “Helena é sinónimo de luz e Mário significa homem por excelência”, posso comprar produtos dos CTT. Por exemplo, um novo selo dedicado à infertilidade. Cuja descrição diz: “estima-se que a infertilidade em Portugal afecte 500 mil casais”. Ora, este deve ser o público-alvo. Malta que pensa, já que não consigo ter filhos vou mandar cartas com selos da infertilidade a avisar os amigos. Outro produto apelativo é o telegrama de chocolate. Os telegramas usam-se para más notícias. O chocolate muitas vezes também. Mas unir os dois é capaz de não dar bom resultado. Porque uma notícia como: “A avó Felicidade morreu ontem no Porto. Funeral no Alto de S. João”, se recebida por um guloso, pode transformar-se em qualquer coisa como “Felicidade no Porto Alto”.