Tão Mau Que é Bom - Sérgio Silva
Em pequeninas, as nossas mães ensinaram-nos a não aceitar doces de estranhos. Pelos vistos, nunca ninguém ensinou isso aos senhores do Boavista. Se não, vejamos: um trintão rechonchudo, de cabelo esquisito, com um emprego misterioso e com nacionalidades múltiplas aparece do nada e oferece-lhes um saco cheio de dinheiro. E eles aceitam. Era preciso exactamente o quê para os axadrezados desconfiarem? O Sérgio Silva estar vestido de Mancha Negra ou de Irmão Metralha? Ainda trazer a corrente e a bola presas ao pé?
O Jornal de Notícias acabou por descobrir em concreto o que levantou suspeitas junto da direcção boavisteira. Os axadrezados perceberam estar perante um burlão quando Sérgio Silva lhes mostrou uma ordem de transferência do Banco Privado Português – a tal que deveria confirmar a injecção do PIB de um país africano nos cofres do clube.
O documento tinha erros graves de português, sendo que o exemplo mais gritante era a troca de um “v” por um “b”: estava escrito “balor” em vez de “valor”. Isto é mais do que um deslize ortográfico: isto é contribuir para todo um clichet simplista digno dos Malucos do Riso. Os alentejanos têm todos de ter patilhas e estar debaixo de um chaparro, os de Cascais têm todos de falar como a Paula Bobone… e os nortenhos têm de ter uma noção própria de abecedário, que transparece até na escrita de documentos oficiais. Outra hipótese é Sérgio Silva ter o seu próprio acordo ortográfico. O homem já mora claramente no seu próprio planeta, pelo que as regras linguísticas da Terra não se aplicam. Basta consultarem um qualquer dicionário recomendado por Sérgio Silva para se ver “carago” e outras asneiras piores estão colocadas na categoria gramatical das interjeições.