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Coitadinhas das sardinhas! É verdade – as sardinhas estão em sofrimento. Ou melhor, em regime de dieta forçada. A culpa, claro, é do plâncton que, por causa das alterações climáticas, está a desaparecer da costa do nosso país. Segundo um estudo conduzido por um investigador português, há uma crise nacional de plâncton. Como se Portugal precisasse de mais crises! Ainda por cima daquelas que funcionam como pescadinha de rabo na boca: o desaparecimento do plâncton conduz ao desaparecimento da sardinha, que, por sua vez, leva ao desaparecimento de um bom costume nacional, a comezaina desenfreada de sardinha no Verão. Isto leva-me a concluir que as microplantas e os seres marinhos microscópicos são criaturas egoístas, incapazes de fazer um pequeno esforço para aguentar o aumento da temperatura das águas e, assim, impedirem o desencadear de todo este processo. É que grande parte das nossas tradições tem uma perninha na sardinha: há milhares de provérbios sobre o tema, há milhares de receitas com sardinhas, há histórias infantis protagonizadas por sardinhas, há, claro, recordes do Guiness que envolvem sardinhas, enfim, há todo um conjunto de práticas que ficará comprometido se o plâncton não aguentar a canícula marítima. Como é que é, criaturinhas do mar? Já viram bem os povos do deserto? Com temperaturas acima dos 50 graus, lá andam eles de um lado para o outro sem esmorecer. Não sejam egoístas: pensem nas sardinhas, que as sardinhas pensam em nós, e deixam-se pescar gordinhas e pequeninas, deixam-se comprar a bom preço, deixam-se assar. Tudo em nome de uns dias de folia em época de Santos Populares e, claro, da saúde humana. Como é bem sabido, as sardinhas são ricas em ómega 3, um protector do coração. Por isso, apelo à convocação de uma manifestação contra o comportamento inaceitável do plâncton nacional; apelo a que alguém exerça o direito de antena e vá até à televisão defender os interesses alimentares das sardinhas; apelo à memória de todos os que já se reuniram em grandes sardinhadas. Acabem com a dieta forçada das sardinhas portuguesas! Sem o corpo em forma, nada mais lhes pode valer. Nem a inteligência, que é como quem diz, a cabeça. Lembrem-se do que diz o ditado: «Vale mais ser rabo de pescada do que cabeça de sardinha!».
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