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Depois de um serão de domingo em frente à televisão, o artigo da nossa estação de serviço não podia vir mais a propósito. Uma pistola muda-canais. É verdade. Acabaram-se os telecomandos, agora basta disparar para mudar de canal. Finalmente vai ser possível alvejar Júlia Pinheiro e ainda fazer ricochete em Barbara Guimarães, na estação do lado. Vai ser uma limpeza! Mortandade assim não se via na nossa TV desde aquele Prós e Contras em que Gonçalo da Câmara Pereira comparou as touradas aos milhares de mosquitos mortos no vidro do seu carro. Quando tiver licença e porte desta arma poderosa, vou finalmente cumprir um sonho de infância: fazer um massacre de Columbine nas manhãs televisivas. Se começar cedo, posso limpar o sarampo a uma Fátima Lopes e uma Sónia Araújo, desfazer em mil pedaços a Cristina Ferreira, assustar apenas Jorge Gabriel (que é uma pessoa muito doente) e poupar Manuel Luís Goucha, claro! Que a partir desse dia poderá gabar-se não só de ter os melhores blasers, mas também de ser um herói da guerra. As nossas casas vão mesmo transformar-se num campo de batalha, porque esta pistola muda-canais “até emite o clássico som do disparo”. Já estou a imaginar aqueles calmos serões a ver o telejornal transformados numa espécie de tiro aos pombos. Aposto que a polícia vai ser chamada em vão muitas vezes, quando os vizinhos confundirem o nosso zapping com um tiroteio. Os fabricantes avisam que “todos quererão carregar no gatilho, mudar de canal e soprar no cano!”. É normal, porque só um poderá ter a estrela de xerife, que vem com esta fabulosa pistola. Claro que um artefacto destes precisa de instruções. E é claro que eu fui lê-las. Mas por entre indicações sobre pilhas, sintonias e programação, encontrei “dicas para chatear”. Dizem assim: “espere até que toda a família esteja embrenhada num programa pelo qual estiveram à espera; levante-se de forma dramática; puxe da pistola e aponte para a televisão; diga: “eu sou o xerife e não estou para ver isto” e dispare; sopre a ponta do cano; prepare-se para fugir da família, que ficará certamente irritada; mostre o distintivo de xerife”. Isto promete serões muito divertidos, quer-me parecer! Com a D. Cândida a fugir pela casa, a disparar contra os vários electrodomésticos… E o marido no seu encalço, furioso por ela ter atingido Fernando Mendes, logo na altura da Montra Final do Preço Certo… Enfim, a alegria que faltava aos lares nacionais. Só uma coisa me assusta nas instruções da pistola. O aviso final: “Isto não é brinquedo. Guarde a embalagem”. É só a mim que isto soa a ameaça? Será que a embalagem servirá de prova, quando um dia por azar a pistola disparar mesmo, a meio da novela?
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