Está a Falar de Quê? - Maria de Lurdes Modesto
Hoje tentamos descodificar as declarações de Mª de Lurdes Modesto. Antes de mais, uma ressalva: esse monstro sagrado da cozinha portuguesa merece todo o respeito das condutoras. Quanto mais não seja porque cometeu proezas como ensinar Maria João Cruz a fazer sopa de beldroegas e bacalhau confitado… E isso, entra já no domínio do milagre culinário. Mª de Lurdes acaba de lançar o livro “Queijos Portugueses”. Porque é que esta senhora, que devia estar a descansar, à sombra do sucesso de tantos e tão bons refogados, terá sentido necessidade de escrever mais? Ela explica: “foi motivada pela necessidade de repor a verdade dos nossos queijos tradicionais”. O que se passa? Que mal-entendidos há por resolver na secção de lacticínios dos supermercados? Desde logo imaginei um queijo de Azeitão a manter relações incestuosas com um queijo Limiano. E a realidade não deve andar longe disso, já que Mª de Lurdes diz que existem muitos queijos abastardados. E vai mais longe: em muitos casos o tamanho nem sequer corresponde às normas! Isto é grave. Imagino a desilusão que seja marcar um encontro com um queijo de Niza para depois chegar lá e ver que não tem o tamanho devido. A gastrónoma diz que a culpa é da publicidade, que leva o consumidor a “salivar com total despudor.”
De repente, parece-me que já saímos da queijaria e entrámos noutra secção, mas… continuemos! Mª de Lurdes Modesto diz que “a arte queijeira em Portugal tem uma longa e bela história, porém o apelo pelas grandes cidades leva à perda de saberes ancestrais”. De facto, esse foi o grande flagelo na revolução industrial. Qual êxodo rural qual quê! O que interessa o desemprego ou a falta de saneamento? O problema das metrópoles foi apenas um: o desaparecimento dum belo queijo da Ilha ou a dissolução dum Rabaçal. Mª de Lurdes, apesar de atenta a estes fenómenos sociais, não deixa de lado as emoções. E confessa: “tudo no queijo me fascina”. Comovente. Não se via uma demonstração tão pura de amor a um lacticínio desde que Pauleta atravessou os Açores a correr atrás duma bola de Terra Nostra. Mª de Lurdes é menos discreta que o açoriano, e faz revelações sobre a sua vida íntima: “em matéria de queijos, confesso-me muito leviana. Gosto de quase todos. Tenho um fraquinho pelos queijos azuis mas perante um bom Serpa, genuíno e maduro, traio até o Roquefort, o meu príncipe azul”. Quer-nos parecer que vai uma grande confusão na cabeça desta senhora. Ou no frigorífico! Mas ninguém tem nada a ver com a vida privada das pessoas, por isso, querida Mª de Lurdes, envolva-se com os queijos que quiser, desde que continue a ensinar as novas gerações a fazer carne de porco à alentejana! Isso é que importa.