20
Abr08
Estação de Serviço - Limpa Dentaduras
condutoras de domingo
Temos conhecido estações de serviço de norte a sul do país. E se são lindas! Há as mais contemporâneas, as mais barrocas, mais góticas… Mas têm alguns traços em comum. Como o mostrador de cassetes, a arca de gelados e a secção das pastilhas elásticas. Muitas delas têm até máquinas com escova de dentes e pasta, o que é útil, sim senhor, para quem tem dentes de verdade. Mas então, o que faz essa enorme fatia da população que usa dentadura, e que nem por isso abdica da também larga fatia de bolo de ananás, na área de serviço? Nisso ninguém pensa, não é? Mas depois também ninguém quer continuar viagem com a tia-avó, se ela entre o canino e o incisivo tiver fios de ananás pendurados. É por estas e por outras que ao pé da secção de revistas vai surgir em breve uma secção de “familiares usados”, onde as pessoas deixam os entes queridos com placas pouco higienizadas. Ora este é um flagelo de que ninguém fala, mas ao qual as condutoras de domingo não podiam ficar indiferentes. Por isso, trago hoje o Limpa-dentaduras electrónico, artigo que se vende na Dmail por 9.90€ e funciona com 2 pilhas não incluídas. Esta tecnologia de ponta permite limpar dentaduras em poucos minutos, recorrendo a um interruptor nunca antes visto – funciona posição ON e desliga-se na posição OFF. Os avanços da técnica não param de nos surpreender. Mas há mais. O folheto informativo diz-nos que isto é um Limpa-jóias electrónico, que trata de colares, brincos, anéis, ornamentos em ouro e prata. Isto leva-me a crer que pomos lá dentro uma prótese dentária vulgar, e saímos de lá com mais dentes de ouro que o malfeitor do Sozinho em Casa. É que este aparelho promete “conservar o aspecto brilhante e novo dos seus ornamentos preciosos”. E uma pessoa sente-se elogiada, de ouvir chamar aos seus dentes falsos “ornamentos preciosos”. Boa educação e cortesia nunca ficaram mal a ninguém. Por isso acho que os inventores desta geringonça têm tudo para suplantar os gigantes da área. Desde o Tide, que prometia um mero branco mais branco não há, até ao mítico Corega Tabs, que tem anúncios com malta esfusiante. Tudo isso fica a milhas de distância quando há quem compare uma velha dentadura a uma jóia valiosa. Claro que a implementação deste aparelho vai ser polémica, porque ameaça uma tradição ancestral portuguesa. A da dentadura exposta dentro dum copo de água, à refeição. Mas também já nos levaram os touros de morte e proibiram a mioleira, viveremos bem sem ver boiar os restos de bolo alimentar do nosso avô.