Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Condutoras de Domingo

Elas em contramão, sempre a abrir, pelos acontecimentos da semana.

Elas em contramão, sempre a abrir, pelos acontecimentos da semana.

Condutoras de Domingo

29
Jun08

Estação de Serviço - Piscina e Chinelos

condutoras de domingo

É pena o nosso carro não poder transformar-se num barco nestes dias de calor… Já nem pedia um iate de luxo chamado Lucky Me, como o do Vale e Azevedo… bastava um modesto barquinho à vela, ou uma jangada… Vale tudo para estar mais perto da água. Mas como costuma dizer-se “se Maomé não vai à montanha… vai a montanha a Maomé”. Referências ao Corão à parte, estamos plenamente de acordo. Sobretudo porque está calor e os alguidares para molhar os pés já são insuficientes. Nada melhor para resolver o problema do que o Lay-Z-Spa, uma piscina insuflável à venda na Dmail. Este artigo fascinou-me assim que o vi. E porquê? Porque a fotografia de apresentação mostra um casal extremamente feliz (derretido talvez seja o termo)… estão os dois dentro da piscina de plástico mas… têm uma piscina verdadeira atrás, sem ninguém a utilizá-la.

 

 

Isto tem tanta lógica como ir de férias com a família toda em cima dum triciclo e deixar uma carrinha monovolume na garagem. Mas o Lay-Z-Spa tem outros encantos, é certo. Por exemplo, aguenta água até quarenta graus… O que com o sol que está explica talvez a cara do simpático casal da imagem. Eles estão mesmo derretidos, mortos de calor! A piscina dispõe de 80 saídas de ar e instala-se em três passos simples. Toda esta facilidade faz-me crer que também se esvazia num ápice, mesmo contra vontade dos utilizadores. Por outro lado, desconfio um bocadinho da simplicidade da coisa, porque traz um prático DVD com instruções para montagem, utilização e manutenção. E coisas que precisam de manuais de instruções já se sabe que não são fáceis. Quem nunca montou uma cadeira do IKEA de pernas para o ar que atire a primeira pedra! A piscina pode acomodar até 4 adultos de forma relaxada, ou seja, a partir do momento em que este casal mudar de atitude e começar a dar-se mal, não poderá entrar na piscina… Dizem também que a água pode assim ser reutilizada muitas vezes, com um custo de gestão baixíssimo… Consta de facto que ter fossas sépticas nunca saiu muito caro a ninguém. Mas nós, seres humanos, temos este defeito de só pensar no presente, no aqui e no agora. Como quero provar que as Condutoras de Domingo não são assim… Vou comprar também um artigo que está para o Inverno como esta fantástica piscina está para os dias abrasadores. É um porta-chinelos com, nada mais nada menos do que 5 pares de chinelos para os nossos convidados. Isso mesmo. O site sugere: “Dê as boas vindas aos seus amigos para um serão tranquilo e relaxante, oferecendo-lhes um cómodo e quente par de chinelos!”. Esqueçam os cocktails de boas vindas, esqueçam os aperitivos antes de jantar, metam-lhes mas é estes chinelos nos pés, que são o melhor cartão de visita. Têm um elegante boneco de neve bordado e são muito higiénicos porque permitem que todos caminhem pela casa sem transportar a sujidade da rua. E isto vai dar muito jeito, porque tendo em conta que os nossos amigos do Inverno são os mesmos do Verão, malta que toma banho numa piscina de água choca não deve primar muito pela higiene!

22
Jun08

Estação de Serviço - Relógios Greenwich

condutoras de domingo

Hoje vamos falar de tempo. Não é aquela típica conversa de elevador: “amanhã diz que vai chover” ou “está-se a pôr fresquinho”. Vamos falar de tempo a sério. Daquele que nos escapa mais à compreensão do que os aguaceiros e neblinas matinais. O das horas e dos minutos. Pois os nossos problemas de pontualidade acabaram a partir de… agora. Porque vim comprar o Greenwich Premiere, o relógio-cronógrafo da Art Gallery. Em 1º lugar, tinha de acabar com esta falha gravíssima que era não visitar a Art Gallery. Essa entidade suprema da venda de inutilidades, que aparece há anos e anos nos intervalos das novelas mexicanas, pronta a surpreender donas de casa desinspiradas, capazes de gastar o subsídio de desemprego numa jóia preciosa. Além disto, o próprio relógio é fascinante. O mostrador tem gravação estilo guilloché (seja lá isso o que for), numeração romana, que dá imenso jeito (para dizer as horas a quem nos perguntar: faltam X minutos para as V da tarde)… E melhor: é um relógio seguro. Está protegido por um vidro de safira anti-riscos. Que é, ao mesmo tempo, uma coisa prestigiante. Toda a gente quer preservar os seus bens mas… uma coisa é dizermos que temos dinheiro no cofre, outra coisa é falar dum cofre em aço inoxidável banhado a ouro de lei. Uma coisa é ter grades nas janelas de casa, outra coisa é ter grades com gravação exclusiva do nome do fabricante. É isto que oferece o relógio Greenwich Premiere, na versão Senhora e Cavalheiro. Lá está… Outro dado que vem acrescentar charme. Não falamos em sexos, em homens e mulheres, falamos em senhoras e cavalheiros. Qualquer pessoa que use este relógio fica subitamente mais requintada. Até pode estar a trabalhar na estiva, a comer carne assada com as mãos ou a palitar os dentes. Mas fá-lo-á de forma chique, porque usa uma bracelete em pele genuína, um relógio com “um coração de quartzo oscilando num elevado número de vibrações”. Isto é como ter um poema que nos diz as horas. Este relógio promete unir dois mundos até agora incompatíveis: a elegância dos relógios clássicos e a precisão dos desportivos. Ora, isto não é grande coisa. Se fossem capazes de fundir o design dos relógios de cuco com a beleza dos relógios de cozinha… isso sim, podia ser uma pequena revolução. Mas o que me convenceu mesmo a encomendar este relógio foi o taquímetro, que mede a velocidade dos veículos. Achei que nos ia dar imenso jeito. Mas confesso que encontrei um produto ainda melhor que o relógio: o estojo onde ele vem. É em madeira lacada, forrado com um suave tecido de cor creme. Isto dá vontade de exibir o estojo em tudo o que é evento social. Acho que estes relógios Greenwich vão ser o último grito de moda mas… em relógios de bolso, com caixa e tudo.

15
Jun08

Estação de Serviço - Tupperwares

condutoras de domingo

Temos de respeitar as hierarquias em todas as áreas da nossa vida. Até nos utensílios de cozinha. Uma coisa é falar de invólucros, pacotes, embalagens de alumínio ou meras caixinhas de plástico para guardar comida. Outra coisa é falar de Tupperwares. No fundo, é uma questão de meio de transporte. Da mesma forma que não é igual andarmos de Fiat Panda ou de Porsche, também não é a mesma coisa transportar o nosso atum com feijão frade numa caixinha vulgar ou num Tupperware. O Tupperware é uma caixa com direito a nome próprio. Esta marca está para os recipientes como os apelidos estrangeiros para as celebridades nacionais. Tupperware até tem dois Ps e tudo, tem tanto impacto como um Saviotti ou um Pitta. Pronto, já se percebeu que é preciso uma certa reverência quando se fala deste produto. Porque Tupperware é mais do que um lugar para alojar comida. É uma filosofia de vida. Há hospedeiras Tupperware, demonstradoras Tupperware, coordenadoras Tupperware. Uma data de gente que constrói uma carreira com base em caixas de plástico. Há reuniões Tupperware há décadas. Antes de haver RGAs já havia reuniões destas, mais concorridas que Assembleias Gerais do Benfica. Lemos no site oficial que a cada dois segundos realiza-se uma Reunião Tupperware no Mundo. O que explica muito sobre o estado do planeta. Para quê pensar em aquecimento global? Há milhares de pessoas reunidas a toda a hora a pensar no aquecimento de comida no microondas. Isso é que interessa. Porque a Tupperware pode fazer maravilhas por nós. Basta ver o catálogo. Prometem-nos adoráveis manhãs com a Gama Prelúdio, dizem que vamos encontrar o invulgar no dia-a-dia, com o cortador de juliana ou o pisa-batatas, desafiam-nos a encontrar novas formas de alegria com formas de silicone. E têm sempre novidades. Como a recente introdução das revolucionárias Fresquinhas. Fresquinho é sem dúvida o nome ideal para qualquer movimento renovador. Qual MFA, Qual FARC, Fresquinho sim dá logo ares de revolução. Este produto promete prolongar a vida dos produtos frescos, e deixar as frutas e legumes respirar convenientemente. Fica provado que o Tupperware, além de tudo o que já disse, tem cariz humanitário. É claro que já comprei uma data deles, para trazermos couves de Bruxelas e cerejas sem quaisquer vestígios de asma, nas próximas viagens. Antes de me despedir quero deixar um agradecimento. Aos responsáveis do site da tupperware. Que na página inicial dão a seguinte informação:”para serem mais acessíveis à maioria das pessoas que nos consultam, os nossos textos foram redigidos no género feminino. Obviamente é nossa intenção informar de igual modo o sector masculino.” Muito, muito obrigada. Se o texto estivesse em língua masculina não tinha percebido nada.

08
Jun08

Estação de Serviço - Kit Praia

condutoras de domingo

Parece que finalmente está a chegar o sol, por isso é hora de prepararmos o nosso kit para a praia. E não se pense com isto que estou a falar de guarda-sol, pára-vento e lancheira com cozido à portuguesa. Estou a falar de coisas muitíssimo mais úteis. Como a bolsa de cintura impermeável. Para quem gosta de caminhar ao longo da praia ou passar horas perdidas dentro de água, mas tem medo de deixar os seus valores junto à toalha. Chamam-lhe a bolsa “porta-tudo”, já que dá para telemóvel, carteira, chaves, leitor de mp3… com sorte até cabe um tupperware com o tal cozido à portuguesa lá dentro. Isto dá imenso jeito, para o que der e vier em pleno Oceano Atlântico. Uma pessoa pode querer negociar alguma coisa com os homens que conduzem as bananas, e assim tem sempre trocos à mão de semear. Ao mesmo tempo, levanta um problema: o próximo arrastão na Praia de Carcavelos terá de ser aquático, já que os chefes de família andam todos com os pertences atrás enquanto nadam bruços. E por falar em desporto… outro utensílio que não nos pode faltar são as raquetes. Mas não falo daquelas de madeira, as Sharapovas dos areais portugueses utilizam, normalmente lançando bolas fluorescentes para as dunas e incomodando toda a gente. Falo duma modalidade muito mais útil, que se pratica com a raquete fulmina insectos. Tem uma rede electrificada de baixa tensão, que promete matar todos os insectos “sem derramamento de sangue”. Não sei o que a comunidade de mosquitos terá a dizer a este respeito… A verdade é que isto de não haver sangue pode parecer um primeiro passo para a paz, mas esta raquete tem grandes semelhanças com a cadeira eléctrica. Com sorte, é eficaz também com crianças de pequeno porte. Daquelas que saltitam à beira mar e impedem toda a gente de dormir a sesta. Para evitar estes e outros incómodos, o melhor é pegar no nosso Kit Praia e levá-lo para outro sítio qualquer. Porque com o Camp Shower temos um duche quente ou frio onde quisermos. Por apenas 11.90 € compramos este reservatório em PVC, com espalhador de água e capacidade para 20 litros. Isto dá direito a um daqueles duches com ária de ópera e tudo. Traz uma corda de suspensão, por isso podemos pendurar este chuveiro portátil em qualquer lado. Quando formos ao banco tratar do crédito para as férias, ou quando estivermos na loja do cidadão a tratar do passaporte, por exemplo… Mas tudo isto só faz sentido se nos sobrarem 9.90€ para um bonito boné ventilador, em tons de amarelo. Daqueles com ventoinha no cimo da cabeça, tipo desenho animado. A ventoinha é movida por energia solar acumulada num pequeno painel que existe no topo do boné. Isto fará de qualquer um de nós um misto de frigideira e painel de energia solar ambulante. Para ser perfeito só falta mesmo levantar voo.

01
Jun08

Estação de Serviço - Dia da Criança

condutoras de domingo

Hoje é dia da criança e, como tal, eu não podia deixar de promover aqui um desvio até ao Toys R Us. A ver se me calha alguma coisa… Só não sei qual dos corredores hei de escolher… Gosto da designação “Figuras de Acção e Similares”, bem como “Peluches e Similares”. Não gosto especialmente de ursos fofinhos nem de Pokemons, mas adoro similares. Sempre gostei, no Natal o meu irmão pedia brinquedos, eu só queria similares… Acabei por me decidir pelo corredor da “Imitação do Lar e do Meio”. Aqui as crianças podem começar a preparar-se para aquilo que será a sua vida daqui a uns anos. Para as meninas há um kit de beleza em movimento, caso optem pela carreira de esposa de futebolista, que vai atrás do marido para Viseu, para a Suiça ou para Los Angeles, sempre com blush e rímel à mão de semear. Há também um set de cabeleireiro, para quem opte pela carreira Maria João Savioti, ou uma mala de Festa Instantânea, para quem se identifique mais com a Maya.Há também um carrinho de limpeza e aspirador, com balde, vassoura e esfregão tão bem reproduzidos que acho que as mães vão poder despedir as empregadas e pôr as filhas a fazer a lida da casa. Basta que tenham mais de 3 anos. Por 14.99€ apenas podemos comprar um set de comidinhas com 120 peças, que dá jeito em tempo de crise. Inclui ovos, pernas de frango, salsichas. Com aquele pequeno inconveniente de serem em plástico, mas isso… é a matéria-prima mais comum por estes lados. Os rapazes com certeza que vão adorar uma cara e uns abdominais de borracha, a imitar o Fantastic4, um fato com músculos insufláveis do Super Homem, e umas mãos e pés gigantes. Afinal de contas o que eles mais farão ao longo da vida é preocupar-se com dimensões anatómicas. Para quem veja nessa preocupação um futuro profissional o pequeno fato de cowboy pode ser uma compra útil. Bem, mas esta coisa dos brinquedos servirem todos para brincar aos adultos cansa um bocado. Eu queria encontrar um sítio onde os adultos brincassem às crianças. E para isso, nada melhor que a Feira do Livro. Depois da Leya e da APEL terem brincado aos Pequenos Gladiadores Americanos, chegam as estafetas por entre barraquinhas às cores, e a prova do lançamento. Não do disco, mas do livro. Hoje às 4 da tarde vai ser lançado o Livro A Verdadeira História do Areias, o camelo com duas bossas e muito pêlo. Estamos ansiosos por conhecer a biografia deste animal. Que ganhou vida na música graças a uma senhora que, mesmo adulta, manteve nome de boneca de plástico – Suzi Paula. Fica aqui a minha homenagem ao Areias, uma referência no panorama político nacional. Reparem que ele “diz com o ar mais superior que só lhe falta ser doutor e acha que é de entre todos o mais belo”. Um perfil exactamente igual ao do nosso primeiro-ministro.

25
Mai08

Estação de Serviço - Gasolina

condutoras de domingo

Já é um clássico, esta nossa paragem na estação de serviço, mas hoje – em sinal de protesto e de falência técnica, não vou comprar nada na loja. Porque só temos mesmo dinheiro para a gasolina. Anda para aí tudo alarmado com a subida dos preços: pais de família a prepararem-se para levar os filhos à escola às cavalitas, taxistas prestes a iniciarem-se no negócio dos riquexós chineses, peregrinos de Fátima a editarem livros com os seus truques, para ensinar os portugueses a ir de férias a pé… Enfim, já há muita gente pronta a depositar gasolina nos cofres do banco, e a fazer previsões apocalípticas. Eu não vejo problema de maior… Andar a pé sempre fez bem, e o ambiente até agradece. Só há uma coisa que me preocupa mesmo no meio disto. São os pontos. Se deixarmos de pôr gasolina vamos ter cada vez menos pontos acumulados no nosso Cartão Fast Galp ou BP PremierPlus. E isso sim – é capaz de comprometer o progresso duma nação. Por exemplo, com 700 pontos apenas arranjava-se na BP um termo para café, e com 600 um saco térmico Maranello, que bem que vão dar jeito quando sair de casa às 6 da manhã, para ir a pé até ao Marquês de Pombal. Na Galp, com 2300 pontos temos direito a um kit aventura, que inclui lanterna, bússola, binóculos e capa para a chuva. Que podem ser preciosos quando nos perdermos naqueles matagais que há junto às auto-estradas, e precisarmos de acordar o McGyver que há em nós. Espera-se que tenhamos tido inteligência suficiente para trocar também 400 pontos BP por um canivete suíço. Para o que der e vier. Investimentos mais altos, mas que valem a pena, são os trolleys e necessaire por 5000 pontos, e a cama insuflável ConfortRest, por 10600. Vão dar jeito quando decidirmos dormir no emprego, para poupar em deslocações. Ninguém me leva a sério mas eu acho que esta problemática dos pontos vai deixar mesmo muitos portugueses a morrer à fome. Quando se virem privados de Frigideiras Tefal, por 2400 pontos na BP, ou do grelhador Monix, com bandeja recolhe gorduras, a 8800 pontos na Galp. Isto para já nem falar nas parcerias – autênticos pactos sociais que serviam de Banco Alimentar a muito boa gente. Com 200 pontos a valer uns profiteroles na Pizza Hut, e 125 pontos a darem desconto de 50 cêntimos nos supermercados Modelo. Perante isto, o melhor é usar os últimos pontos que detemos e trocá-los por Carrinhos Hotweels – modelos sortidos por 300 pontos, ou para quem prefere os topo de gama, carrinhos Tiny Tuff, que trazem formas de encaixe, tipo Lego. Para os mais sonhadores, talvez o melhor mesmo seja empenhar 400 pontos numa campânula de Princesa Disney, que traz acessório porta-chaves. Podemos sempre pôr lá a chave do nosso velho carro, suspirar de saudade e desejar que volte o tempo das princesas e andemos todos em faustosas carroças, com os nossos vestidos de cauda. Sim, homens e tudo. Já não há o problema das saias e os saltos altos não darem jeito para conduzir.

18
Mai08

Estação de Serviço - Kit Futebol

condutoras de domingo

Com a lista dos convocados anunciada, todos os portugueses entraram em estágio. Até porque isto de perder na 1ª fase exige uma longa preparação. Não é preciso aquecimento, basta preparar o kit da bola: aperitivos e cerveja. Mas esta prática ancestral já deixou há muito de ser simples. Antes decidia-se só entre pevides e tremoços, e entre cerveja de lata e de garrafa. E o jogo podia começar. Hoje, o mais provável é que acabemos por perder a 1ª parte, porque 45 minutos é o mínimo que se demora a decidir. Nas batatas fritas o processo de escolha é mais complexo que o das directas do PSD. Até porque aqui os argumentos são claros: umas são onduladas, outras lisas, umas camponesas, outras originais. Tudo conceitos muito complexos para se decidir assim do pé para a mão. Sei lá se prefiro artesanal ou caseiro. Isto é questionar os meus princípios ali, em pleno corredor dos aperitivos. Não se faz. E quando já me alistei por um género, quando finalmente decidi que prefiro Mediterrâneas a Ibéricas, é preciso decidir se quero que saibam a ervas, a presunto, a queijo ou a coelho à caçador. As batatas fritas já deixaram de ser um acompanhamento. Cada batata inclui já a roda dos alimentos toda. Mas as mais paradoxais são as light. Para pessoas que não se querem comprometer com nada. Se houvesse sondagens e projecções eleitorais no mundo dos fritos, a malta que compra batatas light compunha a facção dos indecisos.

 

 

Estes são os mesmos compradores de cerveja sem álcool. Pessoas que querem comer colesterol puro com ketchup e maionese sem engordar, e beber três grades de cerveja sem ficar bêbedas. Com as cervejas é ainda mais difícil. Parece que estamos a escolher a religião que professamos, entre Abadia Gold ou Abadia Rubi, o estilo de festa que frequentamos entre Bohemia, Bohemia D’Ouro e Tango, ou os tons que preferimos para a nova decoração lá de casa – entre a Sagres Preta e a Superbock Green só falta mesmo uma Carlsberg Wengué, que fica super a condizer nas cozinhas. Gosto particularmente deste novo conceito da SuperBock Gourmet, que acompanha muito bem com as novas batatas Lays Gourmet. Mas claro, só se tivermos um sofá da Divani&Divani e um plasma LCD. Não vale a pena ter uma refeição gourmet se o nosso rabo estiver assente num sofá da Moviflor e a televisão tiver sido comprada no LIDL. Estou indecisa. A única certeza que tenho é que vou comprar o abre caricas com contador digital, que contabiliza o número de cervejas abertas ao longo da noite. Porque quando o Nuno Gomes falhar o quarto golo de baliza aberta, e nós começarmos a lamentar que o Figo e o Baía só apareçam em anúncios de cerveja, a única solução vai ser abrir muitas garrafas. E beber, beber muito.

11
Mai08

Estação de Serviço - Anões Luminosos

condutoras de domingo

Com o sol a começar a aparecer dá vontade de sair do carro e dar uma volta a pé. Os portugueses são grandes apreciadores de parques, por caso. Gostam do Oeiras Parque, do Odivelas Parque, do Braga Parque… Mas nós queríamos fazer um apelo à população, e levá-los até um verdadeiro espaço verde, que não tem nada a ver com o Alvaláxia. Por isso vamos decorar o nosso jardim, e convidar todos a visitá-lo. A nossa primeira aquisição é um valor seguro. Perdoem-nos a imodéstia mas sabemos que ninguém vai resistir a isto: um anão luminoso, feito de poli-resina finamente pintada, que funciona a luz solar. É que ter um anão é sempre uma mais valia, que o digam as Condutoras, que só por isso me convidaram. Mas ter um anão luminoso eleva as coisas para outro patamar. é a diferença entre ter um anão que simplesmente existe para ter um barrete vermelho e um anão que é tão inteligente que, caso falasse, citava Nietzsche. Lamentavelmente, é feito na tal poli-resina, portanto o máximo que faz é acender “magicamente” uma luz branca quando anoitece. Assim as pessoas vão ver sempre muito bem o nosso jardim. Portanto temos de ter espécies dignas do jardim botânico. Para começar podemos plantar uma Rosa de Jericó, que dá um ar místico à coisa. Sobretudo antes de lermos a descrição. “Assemelha-se a um bolbo completamente seco mas mal se coloca num recipiente com água quente, torna-se verde e ramalhuda”. Nada disto soa bem. E pior: a planta pode voltar a secar-se, fazendo-se reviver quando se coloca novamente em água. Estamos perante uma planta esquizofrénica. Tem a vantagem de podermos adaptá-la aos convidados. Tipo “hoje vem cá a tia Francisca, nao posso fazer caril que ela não gosta, e tenho que tirar a rosa de Jericó, que ela também não aprecia”. Melhor que isto só uma planta que nem sequer tem nome. Vem aqui designada como “mistério da profundeza dos mares”. Dizem assim: parece uma planta mas na realidade não é mencionado em qualquer enciclopédia botânica, uma vez que se aparenta mais a um animal. Aquilo que parecem ser os ramos é, na verdade, o seu esqueleto. Bem, fiquei cheia vontade de adquirir este mutante não identificado. Com sorte, ao mudar de vaso ainda lhe fico com o coração nas mãos, e a podar ainda lhe corto uma artéria. A única vantagem disto é que, como animal que é, não se rega. Mas fico na dúvida se temos que lhe dar ração, ou levar a passear. Cá para mim daqui a uns tempos vemos no Catálogo da Dmail uma nota de rodapé: foi verificado por uma pessoa que já não está entre nós, que além disto ser um animal, é carnívoro. E por falar em carne, agora que temos um jardim lindo, nada melhor que fazer um barbecue. Afinal é para isso que servem os jardins. Nada melhor que o barbecue descartável, por 4.90€. Inclui carvão, grelha e um aditivo que facilita o acendimento. Se as famílias portuguesas adquirirem isto, agora é que vamos ver os incêndios a aumentar. Dizem que a combustão deste grelhador de bolso dura uma hora e meia. Se pelo caminho se apagar, não há crise – usamos a luz natural acumulada pelo anão para grelhar as últimas febras.

04
Mai08

Estação de Serviço - Dia da Mãe

condutoras de domingo

Só nos lembrámos a meio da viagem que hoje é Dia da Mãe! E quando assim é, só há uma coisa a fazer: parar na estação de serviço, comprar um kit kat, e convencer as nossas mães de que bombons é coisa ultrapassada. Ou então optar por um daqueles ramos de flores de plástico, e explicar-lhe que é a nova tendência das naturezas mortas. Mas nós tivemos a sorte de parar numa estação especial. Chama-se NetPrendas. Aqui ficam as sugestões das Condutoras para os diferentes tipos de mãe. Para a Mãe-que-aprecia-novas-experiências nada melhor que um pára-quedas para rolha de champanhe. Quando a rolha estiver a voar, o pára-quedas abre-se e ela paira suavemente. Não há nada como iniciar as cortiças lá de casa nos desportos radicais. Claro que acidentes podem acontecer… E a bonita celebração deste dia pode acabar com o falecimento duma rolha. Se preferir sacrificar primeiro materiais menores, comece por fazer bungee jumping com uma carica ou rapel com a tampa da maionese. Só à experiência. Outra coisa que tem tudo para fazer sucesso é o Airzooka. Um aparelho que liberta uma forte bola de ar até 6m de distância, e catapulta todos os objectos. Isto ia fazer as delícias de muita mãe! Sobretudo se accionado quando ela estiver com as facturas todas em cima da mesa, a fazer as contas do mês. Vai adorar. Os fabricantes descrevem-na como “fantástica e divertida arma prontinha para criar confusão”. É, por isso, o ideal para mães com vontade de enveredar no carjacking. Outra coisa apresentada como sendo muito útil é um rato USB que pedala. Um rato mesmo, tipo Mickey ou Ratatoui – mas em feio. E com uma função muito mais importante do que os ratos de computador vulgares. Enquanto faz uma espécie de volta a Portugal em bicicleta, conta as palavras que escrevemos por dia. E mais: faz um top dos nossos recordes e testes de velocidade. O presente ideal para mães dactilógrafas. Pena que a maioria já tenha morrido! Para as mães que ainda estão vivas, que é de momento o que nos interessa… Encontrei a prenda ideal para as nossas mães. É verdade. O que se passa é que nenhuma de nós convenceu a respectiva mãe a ouvir as Condutoras de Domingo. Elas enchem-se de soporíferos no sábado à noite, só para não terem de nos acompanhar. Mas agora isto acabou-se, com o despertador voador. Imaginem. Onze da manhã, começa uma espécie de helicópetro a voar pelo quarto, e a apitar… E como é que a pessoa desliga? Indo a correr atrás deste pequeno electrodoméstico, quarto fora… Porque o botão de off está nas hélices. Das duas uma: ou as nossas mães passam airosamente à categoria de mortas, e são encontradas esticadas no chão do quarto, ou ouvem mesmo o programa. Se for o caso, Feliz Dia da Mãe!

 

 

27
Abr08

Estação de Serviço - CTT

condutoras de domingo

Ainda estou a tentar recompor-me. Falhei redondamente a hipótese de ser estrela no 24 Horas. E é coisa que só acontece uma vez na vida. Podia ter sido eu a alertar o mundo para as respostas atrasadas do Pai Natal. Mas não. Resolvi sofrer em silêncio, e ainda ganhei uma grave crise familiar. Uma pessoa já lida bem com as contas e multas que recebe pelo correio. O que não é fácil é receber uma carta azul-bebé cheia de bonecos e borboletas, dirigida aos “papás” da Joana. E ler o seguinte: “foi no âmbito da acção do Pai Natal dos CTT que ficámos a conhecer a Joana, e graças ao questionário que os senhores gentilmente preencheram na altura, algumas duas suas preferências”. Tive de confrontar os meus pais com estas afirmações, e eles juram a pés juntos que nunca forneceram informações minhas aos CTT. À polícia já, aos Correios nunca. Felizmente. Mas isto é pior que o SIS. Como se não bastasse o carteiro saber a que horas eu saio de casa, agora sabe o meu historial de prendas pedidas ao Pai Natal desde 1986. E melhor, pedem que responda a um questionário para receber, na volta do correio, uma oferta que fará as minhas delícias. Imagino, deve ser uma roca. Pena é que, tendo em conta o delay das entregas, só vá recebê-la quando tiver 38 anos. As perguntas são fáceis. Brinquedo preferido, cantor preferido, personagens preferidas. Até me admiro que não perguntem quem é a nossa melhor amiga e se preferimos douradinhos ou puré. De qualquer forma aposto que vou ser a primeira a incluir Mariano Gago e o Barbas nas personagens preferidas, e introduzir os Foo Fighters no ramo da música infantil, logo a seguir aos DZRT. Fiquei de tal forma fascinada com o marketing dos CTT que aproveitei a nossa paragem para vir a uma estação dos Correios. E além de me poder abastecer de literatura de auto-ajuda para os próximos 10 anos, e daqueles livrinhos que dizem “Helena é sinónimo de luz e Mário significa homem por excelência”, posso comprar produtos dos CTT. Por exemplo, um novo selo dedicado à infertilidade. Cuja descrição diz: “estima-se que a infertilidade em Portugal afecte 500 mil casais”. Ora, este deve ser o público-alvo. Malta que pensa, já que não consigo ter filhos vou mandar cartas com selos da infertilidade a avisar os amigos. Outro produto apelativo é o telegrama de chocolate. Os telegramas usam-se para más notícias. O chocolate muitas vezes também. Mas unir os dois é capaz de não dar bom resultado. Porque uma notícia como: “A avó Felicidade morreu ontem no Porto. Funeral no Alto de S. João”, se recebida por um guloso, pode transformar-se em qualquer coisa como “Felicidade no Porto Alto”.

Mais sobre mim

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

escreva-nos para

condutoras@programas.rdp.pt
Todos os domingos na Antena 3, entre as 11:00h e as 13:00h. Um programa de Raquel Bulha e Maria João Cruz, com Inês Fonseca Santos, Carla Lima e Joana Marques.

as condutoras

Condutoras de Domingo é um programa da Antena 3. Um percurso semanal (e satírico) pelos principais assuntos da actualidade e pelo país contemporâneo.

podcast

Ouça os programas aqui

Arquivo

  1. 2008
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2007
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D