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Condutoras de Domingo

Elas em contramão, sempre a abrir, pelos acontecimentos da semana.

Elas em contramão, sempre a abrir, pelos acontecimentos da semana.

Condutoras de Domingo

29
Jun08

Está a Falar de Quê? - Margarida Rebelo Pinto

condutoras de domingo

Margarida Rebelo Pinto em entrevista é coisa que promete. Quando o título é “Se não escrevesse estava internada”, promete ainda mais! O problema é mesmo esse, Margarida: como escreve, há outras pessoas que estão internadas… ainda em choque com o que leram. Mas esta entrevista é uma coisa séria… Porque Margarida lançou agora o novo livro, o 1º desde que teve um AVC. Uma coisa grave, com a qual não se brinca, lá está. Mas para Margarida não foi um problema tão sério. Ela conta-nos a sua experiência de quase-morte, o que não deixa de ser fascinante porque pela primeira vez lemos um parágrafo de Margarida Rebelo Pinto sem adjectivos pop e ultra modernaços. “Quando dei por mim estava a pairar acima do meu próprio corpo”, diz ela. Relato angustiante de se ouvir. Ou talvez não. Porque à pergunta do jornalista “conseguiu telefonar a pedir socorro nessa altura?”, Margarida responde - “às tantas disse: não, tenho de descer, tenho a crónica do sol para fazer, um filho de 12 anos para educar, os meus pais e os meus irmãos vivos…” Pois bem, que conveniente, pôr o artigo do Sol à frente da família, nesta entrevista ao jornal… Sol… Coincidências. No fundo qualquer pessoa agiria desse modo. Eu prometo que quando vir a vida passar-me diante dos olhos a primeira coisa – e provavelmente a última – coisa em que vou pensar é “ai meu Deus que tenho de ir gravar as Condutoras de Domingo”. Até porque depois de ler esta entrevista, passei a valorizar outras coisas, nesta nossa efémera passagem pelo mundo. Foi Margarida quem me fez ver a luz. Ou a fruta, neste caso. Ao afirmar: “A vida de uma pessoa pode ser como um prato de cerejas ao sol.” É isso mesmo. Eu andava com dificuldade em descrever o que tem sido a minha vida. Não é fácil pôr cá para fora tudo o que nos vai na alma. Mas isto resume os últimos 22 anos da minha existência: um prato de cerejas ao sol. E até aqui eu era um prato de cerejas com um problema: não tinha um grande ídolo, uma referência, uma estrela-guia. Agora já tenho. Margarida Rebelo Pinto. Porque é um exemplo de preserverança. Vejam só o que ela diz: “Se tenho um objectivo, nem que a vaca tussa, eu tenho de lá chegar. Sempre fui assim. Lembro-me que quando publiquei o Sei Lá, meti na cabeça que tinha de ter uma entrevista na Caras e fiz seis tentativas diferentes para conseguir. Um dia consegui.” É assim que eu quero ser. Vou delinear os meus objectivos de vida (qualquer coisa como aparecer no Correio do Leitor da TVGuia) e vou conseguir. Com a ajuda da Margarida. Aliás vou já à tabacaria mais próxima comprar o novo romance dela: Português Suave, porque aposto que vai funcionar para mim como O Segredo funciona para uns milhões de pessoas. Porque Margarida Rebelo Pinto é uma espécie de Floribela, em bondade e ternura, e sem a parte dos implantes. Ela assume isso na entrevista, ao dizer “eu que falo com as árvores, com bancos de jardim e com as pedras”. E eu quero ser como ela. Para depois as minhas amigas poderem dizer o que diz Patrícia Reis sobre Margarida “tu não foste feita para pensar, foste feita para escrever”. Eu já devia ter desconfiado que era esse o truque…

15
Jun08

Está a Falar de Quê? - Clara Pinto Correia

condutoras de domingo

Uma coisa é certa: Clara Pinto Correia tinha alguma razão quando há uns anos atrás resolveu plagiar artigos da New Yorker. É que é bem mais seguro repetir palavras dos outros do que produzir as suas. Na sua crónica semanal no 24Horas, a quem Clara chama de “simpático pasquim”, é costume ver histórias indecifráveis. Desta vez foi bem explícita. Talvez até demais. O título é prometedor: Erros meus, má fortuna, palavra ardente. Por um lado, há a clara alusão ao poema de Camões, por outro, essa coisa inédita que é ver Clara Pinto Correia admitir um erro. Ela, que ainda hoje diz que não plagiou nada, e ainda acha que fez uma óptima figura no Dança Comigo, e que provavelmente o Marco di Camilis teve má vontade em não a passar à final. Esta crónica é um pedido de desculpas. A Rui Rio, a quem a autora chamou brutamontes numa edição anterior. Clara Pinto Correia diz “há alturas em que, por muito boa que seja a intenção” a pessoa devia era ficar quieta” – lá está, que pena não se ter lembrado disto antes de dançar o tango. Confessa que brutamontes é o adjectivo mais ridículo. Acrescentando que também usou outros do mesmo calibre: reles, baixo astral, retorcido, com mau fundo… Aquilo a que Clara chama “uma série de tonterias que eu costumo achar não ser próprio das pessoas bem formadas andarem a chamar-se umas às outras, e sem as quais o mundo seria um lugar melhor”. Uma justificação no mínimo… complicada. Mas Clara continua, imparável, e diz “adjectivo e advérbio de modo correctos: eu estava endemoninhada”. Enraivecida, diríamos nós. Endemoninhada, diz Clara, com vontade de provar como é eloquente. Eloquente digo eu. Diserta ou Facunda diria ela. Mas Clara está ciente de que tem um problema. “É o prazer que me dá o uso de adjectivos e advérbios de modo”, diz ela. Procura sempre os melhores e não sabe onde tinha a cabeça para usar um mero “brutamontes”. Para se redimir, escreve: “aquele brutamontes aterrou na crónica com tanta pertinência como estropiado, liquefeito ou mesmo andrógino”. Parece-me óbvio que Clara abriu o dicionário em páginas aleatórias para demonstrar a sua habilidade com as palavras. E volta a dar-nos motivos muito convincentes para a sua falha: 1º - quando escreveu estava com pressa e devia ter outra coisa urgente para fazer, coisa normal nas vidas frenéticas que todos levamos, diz ela. Em 2º lugar, e isto sim, chega a comover-me, Clara diz que sacudiu mal o saco dos adjectivos e tirou de lá um que não servia. É uma coisa que acontece imenso. Eu vou agora sacudir o meu próprio saquinho e ver o que sai de lá sobre esta crónica: hmm… deixa cá ver… Já está. Ligeiramente parva. Ou num vocabulário mais conforme a Clara Pinto Correia: apoucada de juízo.

08
Jun08

Está a Falar de Quê? - Ana Almeida

condutoras de domingo

Há quem diga que os críticos não são mais do que artistas frustrados – alminhas que, depois de não terem sido descobertos em nenhum karaoke de Fitares ou grupo teatral de Rio de Mouro, se dedicaram a dizer mal de quem vive do entretenimento ou da arte. Essa máxima não se aplica, de todo, a Ana Almeida – que é uma verdadeira artista por si só. Injustamente, este é um nome que ainda diz pouco ao comum dos portugueses. Talvez um dia lhe seja feita uma merecida estátua – e os turistas, em vez de encavalitarem as suas sandálias com meias no Fernando Pessoa da Brasileira, passem a acotovelarem-se para levar para casa uma foto com uma Ana Almeida de bronze. Ana Almeida é a autora de uma coluna diária de critica televisiva no jornal 24 Horas. Mas eleva o escrever sobre televisão a todo um outro patamar criativo e até - porque não admiti-lo – lírico. É o Eça de Queirós dos críticos, tal expressiva é a sua capacidade de escriba. Provas? Atentemos na sua crítica à cobertura dos media portugueses à selecção nacional: “Toda aquela programação especial à volta do Euro e da Selecção Nacional e de autocarros e aviões parecia uma daquelas saladas de fruta em que os morangos já viram outros Verões e os kiwis já tiveram tempo para aprender a falar uma língua estrangeira. Uma salganhada”. Desde a letra que Rosa Lobato Faria fez para o “Amor de Água Fresca” que ninguém usava o kiwi de modo tão poético. Dá vontade de musicar esta crónica e de a dar à Dina para fazer dela um qualquer hino de um partido de direita. Um kiwi, fruto viajado, exemplo único na Rua Sésamo quando querem mostrar palavras começadas com “k” – não há fruta mais exótica e cosmopolita. Tirando, talvez, uma ou outra fruta daquelas que meteram o Futebol Clube do Porto em sarilhos. No filme Forest Gump, o protagonista dizia que a vida era como uma caixa de chocolates. Ana Almeida defende que é como uma salada de frutas. Há analogia mais linda do que esta? A próxima vez que num restaurante nos derem uma daquelas saladas feitas só com maçã e laranja, que têm apenas um oitavo de morango em cima para disfarçar, vamos recordar-nos da escriba do 24 Horas. Obrigada, amiga Ana. Esperamos a qualquer momento uma comparação entre o Quem Quer Ganha e o Doce da Casa.
 

01
Jun08

Está a Falar de Quê? - Rock in Rio

condutoras de domingo

Está aí o Rock in Rio. E com ele chegam as exigências dos artistas. Porque pop star que se preze tem de ter mais desejos que uma grávida no oitavo mês de gestação. Amy Winehouse, fazendo jus ao nome, pediu vinho de francês de quatro colheitas diferentes, e canecas de porcelana chinesa. Assim como assim, ela está sempre perdida no mapa, portanto se for vinho chinês e canecas francesas com desenhos da torre Eiffel também não vai estranhar. A artista que a antecedeu no palco Mundo, Ivete Sangalo, pediu 100 peças de sashimi e 130 brigadeiros. Calculamos que tenha sido difícil “levantar poeira” depois dessa refeição. Quem tenciona com certeza roubar alguns brigadeiros a Ivete é Alejandro Sanz, que exigiu uma casa-de-banho privada. Mais resistentes são os Tokio Hotel, cuja alimentação será à base de bolos, chocolates, bombons e gummybears. Sim, aquelas gomas que comemos pela última vez no nosso 6º aniversário. O grupo exigiu também um camarim longe dos restantes. É a lógica dos casamentos. Há a mesa dos crescidos e depois uma para os pequeninos. Felizmente as mães que penteiam os filhos para levar à boda não são tão ousadas como a mãe do vocalista.

 

 

 

 

Na mesa dos seniores estará certamente Bon Jovi. Ainda bem que já não há fãs vivos da banda, senão iam ficar preocupados. É que Jon Bom Jovi exigiu comida sem glúten e canja de galinha. E isto é menu que nem no Hospital da Estefânia tem muita saída. Lenny Kravitz pediu apenas menus de restaurantes para encomendar comida. Por isso, trabalhadores da Telepizza: se receberem um telefonema dum Lenny a dizer que quer extraqueijo, não desliguem, não é partida. Pediu também contentores para separação de lixo no camarim. Portanto depois do concerto Kravitz e a sua comitiva andarão vestidos de azul, verde e amarelo, a reproduzir anúncios do Ecoponto, e a dizer em português macarrónico “faz-me esta gentileza, fazes?”. Vão ter de se desviar dos remates de Rod Stewart. Porque uma pessoa que pede 24 bolas de futebol de certeza que não tem muita pontaria. Os Orishas pedem toalhas de mão preta, águas Evian e Perrier e uma garrafa de rum Havana Club com 7 anos. Ainda bem que Michael Jackson não faz parte do cartaz, porque o artigo de sete anos que ele costuma desejar ia levantar problemas à organização. Quem fez bem no meio disto tudo foram os brasileiros Skank. Pediram cerveja Sagres e pastilhas de menta. Nota-se que sabem como é a vida dura das favelas. Os Muse são contraditórios: não querem nada de plástico nos camarins mas exigem duas escovas de dentes. O que levanta 2 problemas: 1º - - os artesãos portugueses já devem estar a fabricar escovas de dentes em madeira, 2º - um problema de higiene pessoal de um dos membros da banda, já que eles são três.

 

 

Os Muse vão estar entretidos a cozinhar no camarim: pediram ingredientes crus para fazerem as suas refeições. É impressão nossa ou o Parque da Bela Vista vai tornar-se numa espécie de Parque da Campismo da Costa da Caparica, onde a malta faz grandes churrascadas e deita o fumo do entrecosto para cima das roulotes vizinhas? Quem não vai achar graça são os Kaiser Chiefs, que querem apreciar a sua água vulcânica Figi em paz. Mas quem me faz mais confusão são os durões do Festival. A malta da pesada é afinal uma grande farsa. Os Metallica só querem produtos orgânicos. Umas meninas autênticas, com medo dos edulcorantes. Ai trash metal e tal, mas depois têm medo do E312. Para que nada fuja ao previsto, trazem também dois chefes de cozinha. Fazem lembrar os miúdos que não comem nada no refeitório, por estranharem comida que não é feita pela mãe. Os Apocalyptica fazem parte da mesma turma: tem de ser tudo cozinhado com azeite, nada de manteiga. Que lá por serem do heavy metal não quer dizer que não se preocupem com o colesterol. Aliás, são até pessoas bastante doentes. Não pode haver vestígios de nozes nos camarins, porque um deles é alérgico. Esperemos que os móveis não sejam feitos em nogueira. Os rebeldes Offspring querem um galo de Barcelos. Quer dizer, eles não sabem, mas querem. Pediram um souvenir local, e está visto que Roberta Medina os vai empandeirar com um galo. Percebemos agora a que se deve a música “Breaking the habit” dos Linkin Park. Eles não querem bebidas alcoólicas e proibiram o fumo no backstage. Esperemos que Sócrates não queira ir lá pedir um autógrafo. Por falar nisso… Anda tudo concentrada nas exigências das bandas internacionais, e ninguém foi averiguar o que pedem os artistas portugueses. Fomos nós. E descobrimos que andam a ser maltratados. Alberto Ferreira Paulo – mais conhecido por Paulo Gonzo, disse que só actuava se tivesse uma TV no camarim a transmitir novelas da TVI em loop. A organização disse que não podia ser. Ele reconsiderou durante… 2 segundos, e disse que não fazia mal. Actuava na mesma. Pediu só aos senhores para o deixarem tocar mais de 2 músicas. Os 4Taste, as DoceMania e as Just Girls pediram todos o mesmo: alguém que soubesse cantar e que subisse ao palco por eles. A organização mais uma vez não acedeu ao pedido. Disse-lhes que quanto muito, podiam ficar com uns restos das gomas dos Tokio Hotel. Ricardo Azevedo pediu que em vez dum camarim lhe dessem um pequeno T2, João Gil pediu uma Catarina Furtado, vestida por Nuno Baltazar. Afinal de contas, se pôde ir para a Cova da Moura também podia dar um saltinho a Chelas. Nenhum destes pedidos foi atendido. Não acarinham os artistas nacionais, é triste.

 

11
Mai08

Está a Falar de Quê? - Cláudio Ramos

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Afinal, o que caracteriza um ser humano de excepção? O que faz um simples homem ou mulher ter o condão de mudar vidas com as suas palavras e filosofias? As Condutoras pensam ter encontrado as respostas: são os seres humanos que se distinguem por ser visionários e por pensar em soluções às quais o comum mortal não chegaria. Falamos de um Leonardo Da Vinci. De um Gandi. Ou mesmo de um Cláudio Ramos. Sim, o cronista social surpreendeu-nos com a sua capacidade de resolver num simples gesto um problema que atormenta há décadas o comum cidadão. Quando questionado pelo 24 Horas sobre como reage quando tem ao seu lado no avião alguém assustado que não pára de rezar, Cláudio Ramos mostrou um sangue frio invejável. E assim, num instante, resolveu a quimera por um mundo melhor, respondendo que “isso nunca me acontece, porque já mesmo por causa dessas coisas eu compro sempre o lugar ao lado do meu”. Assim mesmo: mais vale gastar o dobro do dinheiro, mas ter toda uma cadeira para nos afastar do povinho. Não é possível ter um fosso com crocodilos, por isso um espaço vago com uns sacos do free shop em cima tem de servir. Quanto muito, faz-se uma muralha com caixas de Toblerone. Pensamos que os próprios companheiros de voo de Cláudio Ramos devem ficar felizes com esta opção do cronista ser uma espécie de ilha rodeada de lugares vazios. É que num voo já nos basta aturar a comida feita de Lego e os headfones para os filmes de bordo que nunca funcionam em condições. Não é preciso ainda ter de ouvir cusquices como “a badocha do lugar 22G já foi à casa de banho 3 vezes” ou “o pindérico do 7ª está a roubar os pacotinhos de manteiga”.

27
Abr08

Está a Falar de Quê? - Avelino Ferreira Torres

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Todos nós já fomos crianças. Dito assim pode parecer um lugar-comum digno da Lili Caneças, mas este comentário tem uma razão de ser. Quantos de nós já parámos para tentar imaginar a infância de alguns notáveis da nossa praça? Como seria Cavaco Silva a comer Milupa de boca aberta? Ou Cláudio Ramos a brincar com uma Barbie Sereia? Ou Luís Filipe Menezes a amuar com os meninos que não o deixam tocar na bola? A infância dos famosos é muitas vezes uma temática guardada a sete chaves. Mas não para Avelino Ferreira Torres, o homem que resolveu relatar episódios da criança para melhor compreendermos o homem. Daí o ter respondido de modo brilhante à não menos genial pergunta do 24 Horas “o senhor é mesmo capaz de mandar matar pessoas?”. A resposta de Avelino foi:  “Eu sou incapaz de matar uma mosca. A partir de certa altura deixei de poder ver sangue. Quando era criança via e até ajudava a matar as galinhas e os porcos, mas agora, se vejo sangue, viro logo a cara para o lado.” Lá está. Um trauma infantil que torna Avelino impune de qualquer crime malvado de que possa ser acusado. Horas e horas e degolar galinhas fazem deste cidadão um candidato improvável a agressor de José Faria, o seu ex-motorista levado para o Brasil a pontapé. Se bem que nunca ficou provado que quem não é capaz de ver sangue se enoje também perante nódoas negras ou caia em fraqueza na presença de umas rótulas partidas. De facto, só um sistema judicial muito desatento não recordaria que Avelino até já esteve na Quinta das Celebridades, certamente tentando fazer as pazes com todas as espécies animais que trucidou em criança. E as famosas cenas de pancada num campo de futebol podem não ser mais do que um ajuste de contas com alguém que matou um qualquer insecto com os seus pitons.

13
Abr08

Está a Falar de Quê - Paris Hilton

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Aqui há uns meses, correu mundo um vídeo do Youtube no qual uma muito platinada candidata a Miss Teen USA declarava que havia falta de mapas em zonas pobres dos Estados Unidos, causando um débil conhecimento de geografia por parte dos menos privilegiados. Na altura a rapariga foi muito gozada, mas quer-nos agora parecer que o único problema da moça foi ser demasiado optimista: pelos vistos, os mais ricos também não têm posses paras comprar um mapa, um atlas ou uma lexicopédia do Circulo de Leitores. Só isso explica a frase proferida por Paris Hilton quando chegou com o namorado a Joanesburgo:
“Eu amo a África em geral, a do Sul e do Oeste. São grandes países” .
Comecemos por fazer justiça: é bonito proclamar amor por África. E no caso de Paris Hilton apostamos em como isto não é só dito da boca para fora – de certeza que ela já amou mesmo alguns africanos. Só não sabemos é se há vídeos para o provar.
Quanto à África do Sul, é bom saber que Paris aprecia o país de Nelson Mandela. Claro que se ela o vir na rua vai dizer “olha, aquele não era o Morpheus do Matrix?”. E devo pensar que “apartheid” é o nome de um rapper. Mas enfim, também não se pode ser exigente. Paris tem uma vida muito agitada e não lhe sobra tempo para andar para aí a ver o Quem Quer Ser Milionário para aprender umas coisas de cultura geral.
Agora o que nos causa alguma confusão é essa menção a um país obscuro que pelos vistos dá pelo nome de África do Oeste. E nós aqui a pensar que toda a costa oeste do continente africano tinha para cima de 16 países, incluindo os PALOPs Cabo Verde e Guiné Bissau. Claro erro. Foi preciso vir a Paris Hilton para apreendermos que não é bem assim. Uma grande salva de palmas para a África do Oeste, essa nação cheia de esquimós, com os Gipsy Kings como hino nacional e com capital em Torres Vedras.
06
Abr08

Está a Falar de Quê? - Carolina Michaelis

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A professora não fala; a escola não fala; quem sobra? Os alunos. Que alunos? Os da turma mais famosa do país: o 9ºC da Carolina Michaëlis! O caso do telemóvel na aula aconteceu há quase um mês e continua a encher jornais. Sobretudo neste pós-Páscoa, momento em que o 9ºC voltou ao liceu, de mochila às costas e acusações na ponta da língua. Se você é dos que perdeu o artigo do Público que pôs em discurso directo o 9ºC, ouça com atenção o que se vai seguir. Os alunos deram corda à língua. Qual bando de comadres, fizeram-se primeiro difíceis, fizeram o número do «agora-não-não-há-nada-a-dizer»; depois, desmancharam-se que nem manteiga ao lume e queimaram-se com explicações eruditas. E passo a citar a mais explicada das alunas: «A stôra disse que podíamos usar o telemóvel sem perturbar. Alguns puseram-se a mandar mensagens, outros a ouvir música. Ela atendeu uma chamada. A professora não achou piada, avisou-a. Ela não quis saber e a stôra tirou o telemóvel. Ela levantou-se e pronto...» “Ela” é a célebre protagonista do vídeo do You Tube, miúda com potencial para brilhar no próximo Tarantino; quanto ao “e pronto”, julgo que remete para o que se vê no vídeo. E isso a autora destas declarações sintetiza de uma forma magistral, encolhendo os ombros: «A gente com aquela stôra abusa». E nós a pensarmos que o vídeo era apenas uma entusiástica manifestação de carinho para com a stôra, uma espécie de dança espiritual através da qual espalhavam boas energias pela aula. Afinal não. Segundo outro aluno, eles abusam com aquela stôra não porque ela fala francês, dificultando a comunicação e obrigando a que recorram à linguagem corporal, mas porque ela merece. Ou melhor, e passo a citar, «deve ser porque ela é muito boa dar aulas, deve». Gente que recorre assim à ironia não é tonta, não! Aliás, para a stôra de Francês, o que eles são é «selvagens, marginais, burros e ignorantes»; é isso que lhes chama e eles não gostam. Por isso, dizem que a marcaram, mas «olhem que este marcada é entre aspas», avisam. Ora, isto é gente que usa aspas, que recorre à ironia, que tem poder de síntese e que só não grama uma mulher amável ao ponto de permitir a utilização de telemóveis na aula, provavelmente para ver se com o contacto tecnológico consegue tornar os “selvagens” mais sofisticados. Porque, no fundo, o que estes miúdos têm é excesso de meios. Já lá vão os tempos em que o máximo que se conseguia de um stôr era a autorização para fazer exercícios de picotado. É claro que nesses tempos não havia telemóveis e as mensagens seguiam de mão em mão escritas num canto do caderno da Candy Candy. Pelo menos, os stôres só nos sacavam declarações de amor ou poemazecos para treinar o vernáculo com rismas em “alho”. Ainda assim éramos “xungas”, como a miúda que lutou para resgatar o seu telemóvel em angústia das mãos da malvada stôra. Valha-nos isso. É que nunca os alunos das gerações passadas conseguiram estrelar num vídeo do You Tube. E isso, sim, é bastante selvagem e perturbador. 
23
Mar08

Está a Falar de Quê? - Euro Talk

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A Páscoa é uma óptima altura para viajar. Mas para ir para fora – ou até mesmo para o Algarve – é preciso dominar línguas estrangeiras. O que já não é problema. O DN resolveu brindar-nos com a colecção Euro Talk. Antes de avançar, fica a nota: o casal que aparece na capa dos livros de japonês pode ser bem sorridente mas é… filipino. A nossa amiga Maria João Cruz ao constatar este facto ficou de tal forma perturbada que está prestes a organizar uma Marcha pela Indignação, com cartazes a maldizer esta “Euro Talk”. Mas eu acho que até é uma colecção bem útil. A começar nos livrinhos de SOS que nos ensinam expressões muito úteis em qualquer língua. Como: “meio dia e vinte e cinco”, que só se pode usar num momento muito específico do dia ou “pode nadar-se aqui?” – coisa que provavelmente vai querer perguntar na sua próxima viagem à Rússia. Há também palavras imprescindíveis, como cassete, coisa muito em voga (sobretudo no Japão), bochecha, ameixa – sempre uma boa referência, mesmo nos países em que não se come, e ursinho. Esta é capaz de ser a que mais me fascina. Porque acho que ursinho é coisa para ser útil em qualquer conversa entre turistas e nativos. Se nos perguntarem como é o clima português, dizemos ursinho. Se nos falarem no Figo e no Ronaldo, ursinho. Se nos perguntarem as horas, ursinho. É útil, a sério! O livro de mandarim ensina a dizer “não percebo” e “fale mais devagar por favor”. A questão é: se só decorámos frases soltas do livro, não é por falarem mais devagar connosco que vamos perceber. Até podem soletrar, ficamos na mesma! Eu acho que o propósito destes livros não é dar ensinamentos mas sim felicidade. Sim, continuamos ignorantes, mas mais felizes. Ensinam-nos uma óptima forma de meter conversa, em qualquer parte do mundo. Perguntar sobre os últimos backups que a pessoa fez. Não há melhor para quebrar o gelo. É isso e falar da capacidade de armazenamento dos CDs. Dá pano para mangas. Gosto sobretudo do conceito de aprender Business Talk numa língua que não conhecemos. Isto pode levar os mais inconscientes a lançar OPAS sobre empresas gregas, ou a negociar petróleo com sheiks árabes. É que uma pessoa decora estes diálogos e depois vai por aí fora. Por exemplo: “O que acha do valor da taxa sobre o uso da patente?” Vou treinar esta frase intensamente para usar nas próximas férias no Qatar.
16
Mar08

Está a Falar de Quê? - Gerard Lallane

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Quando entramos em comparações com França, saímos invariavelmente a perder. Em vez de receitas farta-brutos servidas em tascas, têm nouvelle cuisine servida em brasseries. Em vez de arrufadas têm croissants, em vez de Augustus têm Christian Lacroix, em vez duma feira popular devoluta e um parque infantil em Sobral de Monte Agraço, têm a Disneyland. Também a classe política francesa é sem dúvida mais competente do que a nossa. A começar pelo Presidente, que em vez de andar com uma senhora famosa por vestir mal, anda com uma famosa por se vestir pouco. E a argúcia dos governantes estende-se ao poder local. O autarca Gerard Lallane publicou um edital, no qual comunica aos 260 habitantes da Vila de Sarpourenx que estão proibidos de morrer. “Todas as pessoas que não possuem jazigo no cemitério e que desejem ser enterradas na vila estão proibidas de morrer na comunidade”. Isto é uma tradução formal da expressão “vai morrer longe!”. Pode ler-se ainda que “os infractores serão severamente punidos”. Ora isto leva-nos a um novo nível de violência, que é a severidade com cadáveres. Que raio de punição será essa para quem, apesar dos avisos, decidir falecer? Será transformar o elogio fúnebre em dura crítica fúnebre, lida em tom zangado? Ou será uma coima, dependente da gravidade da morte? Homicídios e atropelamentos talvez tivessem atenuantes, porque a pessoa não agiu propositadamente. Agora, morrer de enfarte do miocárdio, por exemplo, é completamente inaceitável. Dá mostras de uma falta de cooperação total. Se uma pessoa vive em Sarpourenx tem de se reger pelas leis locais. E se não expirar é uma das regras, então mesmo que tenha 98 anos, tem de prevenir activamente os AVCs. E as constipações. E os resfriados. E as gripes. E a ciática, o reumático e os bicos de papagaio. Tudo aquilo que deixe em aberto a possibilidade de vir a morrer. O conselho que tenho a dar a esta população é este: tranquem-se em casa, bem agasalhados, e deixem instruções claras aos vossos familiares. Para o caso de falecerem, vos cortarem em tranches e congelarem na arca. Não vá o sr. Lalanne descobrir-vos e dar-vos uma descompostura por terem exalado o último suspiro sem autorização. Se tudo correr bem, estes cuidados nem vão durar muito tempo. É que o autarca já tem 70 anos e nós bem sabemos que nestas andanças da política, eles falam muito mas são os últimos a dar o exemplo. Em declarações à imprensa, Lalanne disse: “pode ser motivo de riso para alguns, mas não é para mim”. Estranho. Pensámos que tinha sentido de humor. Trata-se dum bom homem. Quando tantos e tantos déspotas negam o direito à vida das populações, este apenas veta o direito à morte. É um gesto bem simpático.

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Todos os domingos na Antena 3, entre as 11:00h e as 13:00h. Um programa de Raquel Bulha e Maria João Cruz, com Inês Fonseca Santos, Carla Lima e Joana Marques.

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Condutoras de Domingo é um programa da Antena 3. Um percurso semanal (e satírico) pelos principais assuntos da actualidade e pelo país contemporâneo.

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