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Out07
Condução Defensiva - Eça Agora!
condutoras de domingo
Esta semana, ao chegar a casa, tinha a caixa do correio inundada com convites para lançamentos de livros. Em todos, um aspecto comum: no título, apareciam nomes de figuras bem conhecidas dos portugueses: Eça, Pessoa e Salazar. Em tempos em que já nada surpreende no campo editorial português, devo confessar que fiquei estupefacta. Primeiro, porque nunca imaginei encontrar Eça, Pessoa e Salazar, os três juntinhos e tranquilos, em amena cavaqueira dentro da minha caixa de correio. Segundo, porque agora o mercado livreiro vive de incomodar os mortos. Lá que chateiem o Salazar, escrevendo romances que falam de movimentos secretos, de ventos de mudança e do assassinato de um ditador, ainda é como o outro. Como continuamos todos à espera do D. Sebastião, não nos custa nada levar com um livro que substitui uma cadeira por um homem naquilo que foi um pequeno passo para a história da democracia portuguesa. Agora, o que não se admite é que se ponham a publicar livros, invocando os santos nomes de dois dos nossos maiores escritores em vão. É que é de facto em vão ou, então, para amealhar o tostão, que estes livros são publicados. A primeira destas duas novidades editoriais chama-se Eça Agora e tem como subtítulo Os Herdeiros de Os Maias. O convite apresenta uma foto com 7 pessoas, os supostos herdeiros. São escritores, todos eles gente crescida a quem eu nunca imaginei que faltasse a lucidez para perceberem que ninguém vai reconhecê-los como filhos de um homem que viveu no século XIX. Mais depressa se engoliam as histórias das meninas que se dizem mães de filhos do Quaresma. Mas se isto me espantou, mais surpreendida fiquei quando dei de caras com um aviso exclamativo. Proclamava Organizem-se! e o subtítulo explicava: A Gestão Segundo Fernando Pessoa. Parece que Pessoa olhou para a economia portuguesa adoptando «uma posição liberal de influência britânica». Pelos vistos, continua por encontrar o fundo da arca do poeta, mas que lhe vão aliviando o peso desde que a obra caiu no domínio público, isso é certo. Isso e o facto de se encherem outros bolsos que já não os dele. Talvez porque olham para a obra pessoana adoptando «uma posição liberal de influência britânica». Essa agora!...