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Condutoras de Domingo

Elas em contramão, sempre a abrir, pelos acontecimentos da semana.

Elas em contramão, sempre a abrir, pelos acontecimentos da semana.

Condutoras de Domingo

20
Jan08

Co-incineração

condutoras de domingo
Esta semana, ficou a saber-se que a co-incineração vai mesmo avançar e é já para a semana. A Secil está pronta para receber, queimar e mandar para os céus em forma de fumo o nosso rico lixo. O governo, que tanto tem lutado pela co-incineração, garante que esta é a solução mais ecológica. De facto, o que há de mais ecológico do que grandes camiões cheios de lixo a cruzarem de hora a hora as estradinhas de uma reserva natural? O que há de mais verde do que estar na praia, a desfrutar da natureza, e ver as gaivotas todas a desaparecer na direcção das lixeiras ambulantes? Já agora, o que era coerente e, realmente, arrojado era mandar tirar os caixotes do lixo da praia da Arrábida e instalar uns tubos com ligação directa à incineradora. Ou, então, não pôr nada... também não se vai notar a diferença.
20
Jan08

Guerra do Lixo

condutoras de domingo
Portugal, honra lhe seja feita, conseguiu transformar o lixo numa coisa fofinha. Vejam-se o anúncios do Ecoponto. Todos eles cheios de crianças felizes, vestidas com cores garridas, pulando de contentação e pureza infantil perante a visão de um contentor para embalagens. Tudo isto faz do nosso lixo um lindo mundo de ternura.
Mas em Nápoles a realidade é bem diferente. Não há criança com um laçarote amarelo ou miúdo com uma falha adorável entre os dentes da frente que torne mais tolerável a quantidade de lixo que vai naquelas ruas. Sete mil toneladas de lixo, para sermos mais precisas. E tudo isto porque a lixarada é o negócio da moda junto da Máfia. Esqueçam o tráfico de diamantes, a extorção, as cabeças de cavalo morto na cama. O que está mesmo a dar é deixar os restos de sardinha e casca de laranja da Dona Odete (nome tipicamente italiano) apodrecer ao ar.  A Camorra – máfia local de Nápoles – está envolvida do negócio da colecta de lixo o que, misturado com a falta de funcionários camarários para resolver o problema, está a deixar a cidade com um look semelhante ao da Caixa Forte do Tio Patinhas. Só que em vez de se nadar em dinheiro, pode dar-se umas braçadas em fraldas usadas. Várias soluções foram já tentadas, nenhuma com particular êxito. A população começou por queimar o lixo. E é aqui que se vê que não estamos a lidar com portugueses. Se fosse cá, aproveitava-se logo a colossal chama dessa fogueira para assar o maior Pão Com Linguiça do Mundo ou o maior Pudim Molotov da Galáxia, que oportunidades destas para se entrar para o Guiness não devem ser desperdiçadas. Como queimar não resultou, o Governo decidiu antes sacudir a poeira para debaixo do tapete. Uma poeira com apenas umas meras 700 toneladas. Parte do lixo foi enviada para a ilha da Sicília. O que nos parece uma coisa muito inteligente: ora vamos resolver o problema com uma máfia mandando porcaria mal-cheirosa para o lugar que é, apenas, o berço da máfia. Resta aos responsáveis por esta decisão rezar para que o lixo chegue aos rios e mares em grande quantidade e consistência. É que assim, quando os atirarem à água com cimento nos pés, vai ser mais fácil não ir ao fundo.


20
Jan08

Super Bactéria

condutoras de domingo
Esta semana, chocámos de frente com este título: Superbactéria mata homossexuais. Não deixa de ser incrível que quase 30 anos depois do surgimento da SIDA e de tudo o que já se discutiu sobre descriminação sexual, os jornais ainda achem super-bombástico fazer parangonas destas. Das duas umas, ou estamos perante um bonito revival dos anos 80, ou deu um ataque de PNR aos jornalistas nacionais. Pronto, vá lá, talvez estejamos a exagerar. Se fosse realmente assim, tinham optado por títulos, tipo: “bactéria amiga dá cabo dos rabetas”, ou “vírus fofinho acaba com essa maricagem toda” ou, o simples e imaginativo “Bicho arrebenta com as bichas!”
Quando vamos ler a notícia, descobrimos que se está a falar de uma bactéria multi-resistente, conhecida há muito nos hospitais e que tende a ocorrer sobretudo em idosos ou doentes em cuidados intensivos. Agora, foi detectada também fora do ambiente hospitalar nas comunidades gay de cidades como São Francisco.
Cidades como São Francisco... ora aí está: em sítios onde praticamente não há heterosexuais, ao que é que querem que a bactéria se agarre? Isto é como dizer que há uma bactéria nova que só ataca brasileiros no Brasil, excursões de portugueses em Badajoz ou chineses no Martim Moniz!  A única nota cómica no meio disto tudo, é que o estudo em que se baseia esta notícia, que nos diz que uma superbactéria anda a matar homossexuais, vai ser publicado em Fevereiro pela revista “Annals of Internal Medicine”. Nem nós, nos lembraríamos de tão subtil trocadilho.
20
Jan08

Guerra do Fumo

condutoras de domingo
A Associação de Discotecas veio dizer que as pistas de dança estão praticamente vazias, por isso, exige um estatuto igual ao dos Casinos. Resta saber, qual é a lei que vão evocar. Se os Casinos têm a Lei do Jogo, as discotecas podem, põe exemplo, ter... a Lei do Mais Forte: que é quando o segurança matacão der uma murraça no alto da cabeça do tipo da Direcção Geral de Saúde que for lá meter o bedelho.
A Associação da Restauração também se recusa a baixar as armas e, esta semana, apontou em cheio contra a Direcção Geral de Saúde. Os restaurantes que optaram pelo selo azul – de permitido fumar – dizem que estão a ser alvo de perseguição e de descriminação.
Como o problema parece estar nos dísticos de proibido e permitido, é uma questão de acabarem com eles. Em vez do símbolo azul a dizer que é ok fumar, espalhem umas fotos do Vasco Pulido Valente e do Miguel Sousa Tavares, é bem mais criativo. E podem crer que nenhum director geral de saúde se vai querer meter com eles.
Nos restaurantes onde é permitido fumar, podiam por fotos de António Nunes, o director da ASAE. Se bem que isso podia dar a ideia de que é proibido fumar, mas... se não tiver nenhum fotografo por perto, dá-se sempre um jeitinho.
20
Jan08

Livro de Reclamações

condutoras de domingo
Normalmente, quando perguntamos a um menino o que é que ele quer ser quando for grande, a resposta anda qualquer coisa entre “polícia”, “bombeiro” ou “homem das cavernas”. Tudo opções de carreira que pressupõem a sua dose de força, heroísmo e até perigo. Pois marquem as nossas palavras: vai ser uma questão de tempo até as criancinhas de cinco anos começarem a responder “quero ser agente da ASAE”.
A profissão está na moda e afirma-se constantemente como muito mais do que andar para aí a ver se as camisolas da feira têm mesmo um crocodilo da Lacoste ou se afinal aquilo é só um desenho de uma osga. É de tal ordem que esta semana até ficámos a saber que a malta da ASAE anda a ter treino militar, com direito a aulas dadas pelo SIS e por agentes das SWAT norte-americanas. Qualquer dia até têm aulas com o Bruce Willis sobre o que fazer se um meteorito estiver a vir de encontra a Terra enquanto dá Aerosmith como música de fundo.
Apostamos que António Nunes era rapaz para fumar uma charutada de contente só de pensar que Ben Afleck poderia ser contratado para fazer de director da ASAE.
A verdade é que a ASAE é já muito mais do que uma mera polícia de segurança e actividade económica. O futuro tratará de fazer dela uma autêntica polícia de costumes, como a do livro “1984”, que até vê o cidadão a fazer a sua ginástica matinal e o obriga a falar apenas com um vocabulário autorizado. Se isto continua assim, a ASAE vai acabar por controlar todos os detalhes da nossa vida. Um cartucho regulamentar de castanhas assadas de cada vez.
Não nos espantaríamos se um dia, ao acordar, déssemos de caras com um inspector a envolver-nos em plástico e a selar-nos com fita adesiva, com a desculpa de que não cumprimos os requisitos regulamentares como “pessoa”.
Parece mesmo que tudo o que foi criado com o propósito de servir o português incauto está a acabar por se virar contra ele, qual Medusa insatisfeita com a sua permanente. E não nos referimos apenas à ASAE. Falamos inclusivamente do Livro de Reclamações.
À partida, é um conceito com tudo para defender os interesses do cliente: é basicamente um caderninho onde nos podemos chibar forte e feio quando algo corre mal num restaurante. É uma espécie de Livro de Ponto onde podemos brincar aos professores e marcar faltas a vermelho àquele empregado que deixou cair caspa na nossa salada de rúcula.
Mas até já o bom e velho Livro de Reclamações nos falha. Esta semana, uma mulher de Matosinhos foi condenada a indemnizar a proprietária de um restaurante em 300 euros e ainda a pagar uma multa de 15 euros por dia, para remir uma pena de 75 dias de prisão. O facto de se ter queixado sonoramente do serviço e de ter exigido o Livro foi considerado pelo tribunal como um acto que colocou em causa o prestígio, crédito e confiança do estabelecimento.
O aviso, portanto, fica dado: não se metam com a restauração. Eles já andam stressadinhos que chegue com a nova lei do tabaco. Não precisam ainda de clientes chatos, sempre a pedir coisinhas e a querê-las feitas em condições. Da próxima vez que, por exemplo, nos aparecer um cabelo no esparguete à bolonhesa, vamos ficar caladinhos, comer o cabelo e ainda ir à cozinha dar os parabéns ao chefe pela sua opção por um champô com um sabor algo cítrico.

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Todos os domingos na Antena 3, entre as 11:00h e as 13:00h. Um programa de Raquel Bulha e Maria João Cruz, com Inês Fonseca Santos, Carla Lima e Joana Marques.

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Condutoras de Domingo é um programa da Antena 3. Um percurso semanal (e satírico) pelos principais assuntos da actualidade e pelo país contemporâneo.

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