03
Fev08
CSI Lisboa
condutoras de domingo
Há poucas coisas que os portugueses apreciem com mais incondicional paixão do que celebridades. As chamadas “pessoas conhecidas”, aquelas que “aparecem na televisão”. No fundo, as pessoas que fazem as nossas mães ligarem-nos histéricas a comentar num sussurro ensurdecedor “nem sabes quem é que vi agora mesmo na padaria”. Se é famoso, então o português quer ver, apontar de indicador em riste, agarrar e pedir autógrafo num folheto de uma clínica dentária que irá para o lixo na altura das limpezas de Primavera, depois de esquecido meses a fio num bolso de um casaco. E o que é bonito de ver é exactamente o quão abrangente é este conceito de “celebridade”. Diríamos mesmo mais: quão democrático. Da assistente do concurso ao comentador político, do actor dos Morangos ao concorrente de reallity show, todos jogam pela mesma bitola e o carrinho de todos sem excepção vamos espreitar se os virmos às compras no hiper. Foi esta adoração por celebridades que levou Eva La Rue e Jonathan Togo a serem recebidos com pompa e circunstância no nosso país. Os nomes podem não dizer muito na primeira audição. Nem na segunda. Nem na décima nona, vá. Mas se dissermos que são actores da série americana “CSI Miami”, o caso muda completamente de figura. São não só vedetas… como internacionais. Ui, que até se enche o cidadão de pele de galinha! Se são lá da série de televisão que tem mais manchas espalhadas por todo o lado do que um anúncio de detergentes, então são gente fina. Então queremos tirar-lhes uma foto com o telemóvel e perguntar-lhes se estão a gostar de Portugal e se já foram aos pasteis de Belém. E nada interessa que, no fundo, ninguém saiba muito bem quem é que eles são. Não interessa que Eva La Rue soe mais a nome de transformista de segunda que faz playbacks da Rihana num palco improvisado. E não interessa que Jonathan Togo pareça nome de personagem de filme de acção com o Van Damme. São “conhecidos” e merecem ser acarinhados. Mesmo que se tratem apenas de dois actorzecos de segunda que, em entrevista a um jornal português, até admitiram que só estão cá a promover uma marca de roupa beta porque a greve de argumentistas os deixou sem nada para fazer. Chegamos até ao cúmulo de perdoar que o tal senhor Togo insista em dizer que está mortinho por comer uma paelha. Bolas, por ele até lhe damos a paella com umas castanholas e uma lata de melocotons. Afinal, eles são neste momento celebridades com as quais nos podemos cruzar a qualquer momento. E se não forem eles, a Vera Roquete também serve. Não somos esquisitas.