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O ano que agora acaba foi pródigo em fazer correr tinta nos jornais... mas, também, nas editoras. Podem continuar a dizer que os portugueses não lêem, mas lá que adoram escrever, isso, não há que negar, sobretudo tendo em conta a quantidade de livros que se publicam. Em 2007, houve de tudo para todos os gostos, desde a pequena Maddie - esse anjo da Praia da Luz que fez o milagre da desaparição e da multiplicação dos livros – a José Rodrigues dos Santos - que sempre atento aos gritos da moda, meteu na cabeça que era o Al Gore português e lançou mais um épico para ser adaptado ao cinema de Hollywood -, passando pela guerra de palavras – ou palavrões – protagonizada por Miguel Sousa Tavares e Vasco Pulido Valente... houve de tudo, como na Feira da Ladra. E o que houve mais foi literatura que devia ter passado por cima de 2007 sem passar pelas bancas. Saía da gráfica, directamente para o caixote do fundo da cave do alfarrabista. Aqui ficam alguns exemplos!
«É um senhor senil!» Ouviram bem a frase? Agora imaginem-na soprada por debaixo do bigode de D. Duarte para as orelhas em fogo de Saramago. É verdade: D. Duarte chamou senil ao escritor que aqui há uns anos foi censurado por cá e mudou-se mais para Este... Tudo bem: Saramago quer ser espanhol. Só não percebo por que razão insiste na ideia de o país ir viver com ele para Espanha. Será que ainda não percebeu que o país é má companhia?! Parece que não. Pelo menos, em Julho, continuava a afirmar que «Portugal acabará por ser uma província espanhola.» E, contra esta blasfémia, em defesa da Pátria, das profundezas de uma mui nobre penumbra “bigodística”, ergueu-se a voz de El-Pretenso-Rei D. Duarte Pio: «É um senhor senil que recebeu um prémio literário que não devia». Ora toma, Saramago! A partir de agora, nos dicionários de Literatura, vai aparecer na entrada Saramago: «senil que ganhou o Nobel». D. Duarte dixit! Ainda por cima, atempadamente: apenas 9 anos depois de o escritor ter recebido o Nobel. Em 98, ainda conseguiu referir que, apesar de Saramago insultar os sentimentos cristãos, o Nobel era uma honra para a literatura portuguesa. Dê lá por onde der, a Pátria é o importante para D. Duarte, o Justiceiro. Mas o que interessa agora é que o mais recente insulto do “Sr. Pio” chegou somente 5 meses atrasado. Compreende-se: D. Duarte é um visionário e, como tal, leva o seu tempo a reagir. Passa a vida a falar sobre o futuro com os seus reais botões do passado. E vê, como causa de todos os males, a República e os republicanos. Aliás, a República está em piores lençóis que Saramago; calhou-lhe a culpa pelo atraso do país. Diz o “não-rei”: «Em 1910, estávamos a meio da tabela; hoje, em último». Pois, claro, se os pais do Saramago nunca se tivessem encontrado, já não havia portugueses senis. Só me surpreende que, com a sua perspicácia, D. Duarte tenha desperdiçado um dos assuntos de que se tem servido para insultar Saramago - as trasladações para o Panteão, único assunto, aliás, que consegue usar antecipadamente. Há uns 3 meses, quando calhou a vez a Aquilino, Duarte Nuno afirmou que esperava que semelhante honra nunca calhasse a Saramago. Ou seja, Aquilino, escritor-terrorista para os monárquicos, não interessa nada. Diz o “não-rei” que a sua trasladação apenas pode «encorajar futuros actos de terrorismo». Agora, Saramago no Panteão, não! Porquê? Será que o Sr. Pio acha que a trasladação de Saramago iria encorajar futuros actos de senilidade? Mas não nos precipitemos! Lá por viver em Espanha, ter 85 anos e uma pneumonia, Saramago está vivo, ó camarada monárquico!
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