Não houve sessão solene, mas um dia vai haver estátua. E bem à medida de Alberto João Jardim. É uma divertida fábula de encantar, uma espécie de conto tradicional. Só que, em vez de nos pôr a dormir, excita-nos mais do que um shot de café. É que o protagonista é Alberto João e, como é sabido, sempre que o senhor fala, a intensidade sonora de qualquer história aumenta a tal ponto que é impossível não nos sentirmos galvanizados. Galvanizados, enjoados, com ataques de riso, enfim, é conforme as sensibilidades. Tudo começou na homenagem feita a Jardim na Assembleia Legislativa da Madeira, onde um destemido deputado do PND avançou com um projecto de resolução. O título é bestial: «Construção de uma estátua do Dr. Alberto João Jardim». Mas a justificação é melhor, divina mesmo: Alberto João é uma «figura incontornável da nossa história pelas obras públicas que tem realizado por toda a ilha». Mais: é um «ilustre e intrépido guia e mentor do Madeirense Novo [e] merece uma mais significativa homenagem, que lhe é devida em plenitude do seu Governo». E quando o deputado disse «significativa homenagem» queria dizer «uma estátua em bronze ou outro metal nobre»; com «cerca de 50 metros»; com «uma escada interior que permita aos visitantes subir até à cabeça da obra de arte, de onde poderão observar a baía e a mui nobre cidade do Funchal, através dos olhos do seu amado líder». Para além disso, a estátua imaginada pelo brilhante deputado deve ter, na base, umas «rodas em aço, como nos antigos moinhos de Porto Santo, ligadas por correias transmissoras a um mecanismo propulsor interno, que permita que a estátua acompanhe o movimento do sol, como fazem os girassóis», mecanismo este que deve ser «alimentado pelas ondas do mar», tal como o «forte silvo que a estátua, na altura do zénite do astro-rei, deve emitir, simbolizando para as gerações vindouras os imortais dotes oratórios de Jardim». Eu não sei como é que vocês se sentem, mas eu e minha pobre imaginação sentem-se esmagadas. Eu que imaginava um pequeno busto colocado algures numa coluna numa praceta madeirense fui pisada por este gigante que querem colocar «no cimo do antigo Forte de S. José». Já estou a imaginar Alberto João acolhendo os visitantes da sua bela ilha com um grito de guerra lançado lá das alturas: «bando de loucos, seu bando de loucos!». Ao qual se seguirá, claro, o tal forte silvo. Será nesse momento que a Madeira conseguirá a autonomia; ficará, qual ilha do Lost, isolada algures no meio do oceano. A estátua funcionará como aquelas estranhas ondas magnéticas capazes de banir os indesejáveis daquele pequeno paraíso. Quem não gostar terá de arranjar um plano maqueavélico. Nós damos uma dica: que tal arranjarem maneira de espalhar o boato de que afinal as armas de destruição maciça estão na Madeira? Isso justificaria uma invasão com direito a derrube de estátua, muito na linha simbólica de encerramento das ditaduras. Seria ou não seria um digno fim de história?