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Mar08
Sinais de Luzes - 23 de Março
condutoras de domingo
Mínimos
Para a Beer Passion, a primeira revista portuguesa totalmente dedicada à cerveja. Era mesmo esta publicação que fazia falta no nosso país. É que uma pessoa desloca-se ao quiosque para suprir todas as necessidades básicas. E quase consegue. Há jornais para saber o estado do tempo e as recomendações para cada signo... E que às vezes até trazem uma ou outra notícia sobre o mundo! Há também Receitas para microondas do chefe Hernâni Ermida, Guias Tv para saber a que horas dá o Quem quer ser milionário, e resumos das novelas para acompanhar o enredo com uma semana de antecedência. Sem esquecer as revistas com Cinha Jardim e a filha num banho de espuma ou o novo look da Luciana Abreu, para combater a solidão (o que podia ser uma metáfora bem porca, mas não é). No quiosque fala-se de tudo o que interessa: qual é o novo tipo de trança do Quaresma e que tempo vai fazer amanhã. Mas há uma necessidade do ser humano, sobretudo do ser humano português, que estava a ser ignorada de modo indecente até aqui. A cerveja. Quem nutre profundo amor por uma imperial precisa de mais do que um pratinho de tremoços a acompanhar. Precisa de artigos aprofundados sobre a espuma da cerveja, precisa de testes comparativos entre a Sagres e a Superbock, precisa de saber as últimas tendências das grades de mini. Num país em que há lugar para a publicação “Cães e Caça” ou “Rendas e Bordados” era escandaloso não existir esta Beer Passion. Toda a gente sabe que é um hobbie muito mais apreciado pelos portugueses: beber umas jolas, umas loiras, umas bjecas, uns finos...Arriscamo-nos mesmo a dizer que há mais nomes de cerveja do que espécies de caça ou tipos de ponto cruz. A revista “pretende transportar os leitores para novas e irresistíveis experiências”. Aqui para nós, os possíveis assinantes da “Beer Passion” preferem descobrir irresistíveis experiências no café central, de preferência enquanto comem caracóis e vêem a bola!
Médios
Para José Rodrigues dos Santos, que vai publicar os seus livros nos Estados Unidos. Ou seja – depois de vender a Fórmula de Deus ao povo que menos lê na Europa, vai poder impingir o seu Codex 632 aos que pior lêem no Mundo – os americanos. A verdade é que eles são bem mais sensíveis que nós, e vão ter direito a uma edição com metade das páginas. Vão ser poupados a pormenores históricos, que nunca conseguiriam assimilar. Não vão ler descrições de comida porque não apreciam nada esses momentos literários. É natural. Nunca gostamos de ver na teoria aquilo que fazemos melhor na prática. O máximo que os americanos aguentam no que diz respeito a literatura alimentícia é a descrição do Big Mac. E com dificuldade. Na parte dos pickles já estão desconcentrados. Mas o corte mais polémico na obra de Rodrigues dos Santos deu-se nas cenas de sexo. A famosa frase “Quando um dia for casada e tiver um filho, vou fazer uma sopa de peixe com o leite das minhas mamas” nunca vai ser lida em inglês. É pena! O jornalista diz que acharam a cena muito forte, e justifica-se como tendo formatado o romance para o mercado português, com particularidades portuguesas. Nós não sabemos em que recanto do Portugal profundo viverá Rodrigues dos Santos, mas é com certeza um sítio onde quer os filhos, quer as sopas de peixe, se fazem de forma pouco ortodoxa.
Máximos
Para o novo cartão de descontos das Farmácias Portuguesas. Este cartão permite acumular pontos por cada medicamento sem receita médica. Já estamos a imaginar as pessoas a trocarem um poderoso antibiótico por uns sais de frutos bem naturais, para somarem mais uns pontos. É que os estabelecimentos que se regiam pela lei dos pontos, até aqui, eram os hipermercados e as bombas de gasolina. E todos conhecemos malta capaz de ficar apeada em plena auto estrada só para não abastecer na concorrência, ou gente que esteve em casa de baixa médica quando extinguiram o Cartão Dominó no Pingo Doce. Ao que parece o cartão das Farmácias está a registar bons níveis de adesão desde o lançamento. Para ser um sucesso ainda maior, sugerimos que copiem as fórmulas de gasolineiras e supermercados. Por exemplo, criando caixas especiais para quem tem cartão, criando um serviço de entrega ao domicílio e um catálogo de produtos que podem ser trocados pelos pontos. Em vez de bilhetes para concertos podem ser senhas para medir a tensão, ou para aquela balança que fala. Em vez de combustíveis e ambientadores, podem ter pensos rápidos ou pacotes de algodão em edição especial de coleccionador. Ser detentor dum Cartão Farmácia devia dar descontos em viagens – no turismo termal, claro, e a possibilidade de fazer listas de casamento. Ou melhor, aviar receitas de casamento, com remédios para todos os males do matrimónio. A designação dos cartões também devia variar conforme os utentes. Da mesma maneira que existe o cartão Fast Woman ou Fast Generation, devia existir um cartão frota para as famílias numerosas que compram preparados de refeição e vitamina C para todas as crianças. E um cartão Gold para as velhotas que frequentam a farmácia mais do que uma vez por dia. Uma espécie de livre trânsito, onde cada ponto acumulado equivale a mais um minuto da atenção do farmacêutico, para ouvir histórias dos netos emigrados no Luxemburgo.